Post engana ao sugerir que carne processada está sendo vendida como se fosse in natura

Em meio à discussão sobre a tributação da carne, um post viral engana ao sugerir que os brasileiros estão pagando por ela, mas levando um produto com 15% de água —ou seja, estariam sendo caluniados. "Estou pagando por água?" e "Brasil nunca vai dar certo. Todo mundo querendo levar vantagem sobre todos" foram alguns dos comentários.

A publicação compartilhou post de perfil que vende curso para emagrecer com duas imagens: uma máquina injetando líquido em uma peça de carne, e o responsável pelo perfil exibindo embalagens de pacotes de carnes congeladas, dizendo que elas têm aditivos.

Em uma busca reversa pela primeira parte do post, a reportagem encontrou o vídeo original, de 2023, publicado pela CBS FoodTech, fornecedora de máquinas de processamento de alimentos australiana. A água injetada na carne é uma solução de salmoura, usada para conservar o alimento por mais tempo e dar sabor.

Diferentemente do que o post enganoso leva a acreditar, as carnes mostradas no vídeo não são classificadas pelo Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária) como in natura –no estado mais próximo ao encontrado na natureza, sem outros ingredientes em sua composição– e, sim, como alimentos processados. Elas podem conter aditivos, segundo regulamentação do órgão de 2018, mas é preciso que a informação esteja no rótulo, como está nas embalagens do vídeo do post, visualizado mais de 1,4 milhão de vezes no X até 19 de julho.

A pedido da Folha, a Abrafrigo (Associação Brasileira de Frigoríficos) viu a publicação. "O consumidor não está sendo enganado, como se tivesse comprando carne in natura, uma vez que essa diferenciação consta de forma clara na denominação de venda do produto", afirmou a entidade. "O mais importante é que haja transparência entre a indústria e o cliente, o que ocorre por meio da rotulagem dos produtos."

Os fabricantes podem utilizar aditivos permitidos pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para alterar o gosto, a rigidez, a coloração e o prazo de validade do produto. "A grosso modo, aditivo alimentar é tudo aquilo que muda características da comida e provavelmente não tem disponível na cozinha da sua casa", explicou o nutricionista Alan Roger, mestre em saúde coletiva pela Universidade Federal de Juiz de Fora.

Glutamato monossódico, nitrito e nitrato de sódio são alguns exemplos de aditivos usados na indústria frigorífica. De acordo com Roger, eles são seguros, mas, por ter alta concentração de sal, "é bom evitar consumi-los em excesso".

Mesma recomendação da segunda edição do Guia Alimentar para a População Brasileira, de 2014, que sugere uma alimentação baseada predominantemente em alimentos in natura ou pouco processados.

A Folha entrou em contato com o autor do post enganoso, que apresenta seu perfil no X como de "notícias, política, paródia, humor, ironia, memes e sarcasmo" e já teve outros posts classificados como enganosos por iniciativas de checagem. Ele não respondeu até a publicação deste texto.

VERDADEIRO OU FALSO

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