Livro de J.D. Vance é retrato do lamento caipira que atrai eleitores de Trump

A nomeação de J.D. Vance para vice-presidente na chapa de Donald Trump traz de volta aos holofotes seu livro "Era Uma Vez Um Sonho". A obra ajuda a explicar a inesperada eleição do republicano em 2016 —e também sua liderança no pleito deste ano contra Joe Biden.

O título original, "Hillbilly Elegy", é eloquente de um jeito que a tradução para o português não conseguiu ser. "Hillbilly" é um termo usado para descrever os moradores das regiões rurais e montanhosas do país, como "caipira" no Brasil. O livro é, então, o "lamento caipira".

J.D. Vance nasceu no Kentucky e cresceu em Ohio. Ou seja, nos bastiões dessa cultura caipira. Ele assistiu à degradação econômica e social dessa parte do país. O tal lamento é pela perda dos valores culturais que foram importantes na sua criação.

O livro saiu em meados de 2016, alguns meses antes de Trump vencer as eleições. J.D. Vance era um duro crítico do republicano. Ainda assim, seu texto tinha bastante em comum com a campanha e posterior presidência de Trump — tanto que em seguida o autor passou a apoiá-lo.

J.D. Vance ganhou importância naquele momento porque explicava, ou dizia explicar, um fenômeno central à política das últimas décadas. Seu lamento caipira era uma análise da guinada dos eleitores democratas para o partido Republicano, contextualizando assim as vitórias de Trump.

O livro "Era Uma Vez o Sonho" captura, nas palavras do autor, "o que acontece com a vida de pessoas reais quando a economia industrial vai mal". Como artifício para ganhar legitimidade, J.D. Vance usa sua experiência. Ou seja, ele diz ao leitor: essas são coisas que eu vi e vivi.

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A região dos Apalaches, onde o autor cresceu, faz parte do chamado "cinturão de ferrugem" americano. É uma fatia dos Estados Unidos afetada pelo desmonte das indústrias, como a automobilística, que empobreceu a população e fez com que migrasse para outras partes do país.

J.D. Vance conta, por exemplo, que testemunhou a perda de empregos, o esvaziamento das cidades e o crescimento do crime. Isso aparece em coisas banais, como o furto de suas bicicletas, e nas tragédias de seus familiares e amigos, muitos dos quais foram vítimas de drogas e álcool.

Essa degradação é evidente também nas "bocas de Mountain Dew". O termo se refere aos dentes destruídos pelo consumo excessivo do refrigerante desse nome, que é comum nos Apalaches. São coisas que leitores americanos identificam (e com que se identificam) de imediato.

J.D. Vance sugere em "Era Uma Vez Um Sonho" que esse fenômeno sócio-econômico afetou de maneira excepcional as populações brancas dos Apalaches. É uma maneira de dizer que a classe social é mais importante do que a raça para explicar as transformações nesse cinturão.

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