Governo precisa de bilíngues para falar com evangélicos, diz sociólogo da religião

Sociólogo especialista em religião e política, Paul Freston afirma que os evangélicos dificilmente vão se aproximar do governo Lula (PT) a partir de políticas públicas ou da melhora na economia.

Para ele, a chave para a aproximação com o segmento é o discurso. "O que precisa, acima de tudo, é de gente bilíngue", disse ele à 💥️Folha.

Segundo ele, a esquerda tem preconceito e uma visão massificante sobre os evangélicos, o que precisaria ser abandonado. "Se você não aprender a falar a língua, não vai conseguir mudar as mentalidades."

Inglês naturalizado brasileiro, Freston leciona na pós-graduação em sociologia na Universidade Federal de São Carlos (SP), além de ser catedrático de religião e política em contexto global em instituições do Canadá.

O acadêmico também avalia o cenário atual da relação de políticos com as igrejas: diz ser perigoso para as próprias igrejas o que classificou como "abraço íntimo" com o populismo. Sobre o aborto, tema de grande repercussão recente, Freston defende que não houve debate sério nas igrejas e que a pauta virou arma para um lado atacar outro.

O sr. pesquisa a relação entre religião e política há mais de três décadas. Como os temas se relacionam no Brasil dos últimos anos?
O quadro religioso mudou radicalmente e talvez a gente não tenha se dado conta. Geralmente, quando há uma mudança religiosa rápida no país, ou é por que o Estado agiu para mudar, ou é por causa de imigração maciça de pessoas de outra região.

No caso do Brasil, houve uma mudança rápida, em poucas décadas, que não é fruto da ação do Estado nem de imigração, mas de um processo de conversão que vem basicamente das bases da sociedade, sobretudo nos segmentos sociais menos favorecidos. E isso transformou o país radicalmente.

O pentecostalismo se tornou um ator religioso enorme em pouquíssimo tempo, e também um ator político. A gente tem de ver como as duas coisas se imbricam.

O que torna os pentecostais tão fortes?
São fortes numericamente, para começar. Na redemocratização, os pentecostais vinham crescendo e começaram a perceber que tinham possibilidade de converter esse crescimento numérico em presença política, sem que necessitasse de intermediários.

Mas claro que a gente tem de ver a questão do perfil social. Quando você olha o mapa do crescimento pentecostal no Brasil, vê claramente onde estão as manchas escuras [de maior presença]: nas fronteiras agrícolas e nas periferias de grandes cidades.

Embora os pentecostais hoje abranjam camadas mais diversificadas, ainda assim são, na maioria, pobres, não brancos e femininos. O que é interessante. Porque todo olhar desfavorável ao pentecostalismo que existe por aí não leva isso muito em conta.

O último Datafolha mostrou aumento sutil na rejeição dos evangélicos a Lula. Acha possível o governo se aproximar desse segmento?
Este é um segmento extremamente dividido, mas há uma visão massificante, uniformizante. E assim não tem nenhuma chance de se aproximar.

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