O Partido Democrata deveria indicar um outro candidato à Casa Branca? SIM

Após o desastroso desempenho de Joe Biden no primeiro debate presidencial norte-americano, o Partido Democrata deve se perguntar se a sua candidatura ainda constitui a opção de menor risco para impedir o retorno de Donald Trump à Casa Branca.

Qualquer saída para o imbróglio em que os Estados Unidos e o mundo estão metidos neste momento será ruim. A questão é encontrar o caminho que seja o menos pior.

Trocar a cabeça de chapa a quatro meses das eleições é arriscado porque não há hoje uma figura no partido que seja popular e com estatura nacional para assumir a liderança da campanha.

E isso por culpa não só de Joe Biden, mas de toda a cúpula partidária, que deveria ter enfrentado o desejo de reeleição do presidente e lutado por uma candidatura alternativa desde o primeiro dia de seu governo.

Ou, ao menos, ter utilizado a oportunidade das primárias neste ano para energizar a base do partido e fortalecer a imagem de pré-candidatos junto a eleitores.

Nada. Flertou-se com o abismo e buscou-se esconder a nudez do rei quase até o fim.

Em que pesem os riscos de trocar a candidatura aos 47 do segundo tempo, manter Biden como cabeça de chapa, nas condições em que ele se encontra, é ainda mais arriscado.

Argumentar que não se pode julgar seu desempenho com base nos 90 minutos do debate é questionável por dois motivos.

Primeiro, porque não foram quaisquer 90 minutos, mas os 90 minutos mais importantes da campanha até então, tendo sido objeto de enorme preparação de ambos os lados.

E, segundo, porque Biden falhou fragorosamente em demonstrar aquela que talvez tenha sido sua única tarefa no debate —atestar que possui condições físicas e cognitivas para presidir o país mais poderoso do planeta por mais quatro anos.

Se o debate tivesse sido apenas um infeliz acaso, deveríamos ter visto um candidato querendo se expor ao máximo nos dias seguintes à sua desastrosa performance, dissipando quaisquer dúvidas sobre seu estado de saúde.

Biden não fez isso. De comícios a reuniões fechadas com doadores, o candidato democrata aparenta só conseguir terminar frases e transmitir segurança no que fala por meio de um teleprompter. A impressão que fica é que a campanha de Biden parece temer mais a exposição do presidente do que o retorno de Trump ao poder.

É verdade que uma disputa fraticida dentro do Partido Democrata em uma eventual desistência de Biden também seria um desastre.

Por isso, o cenário menos alarmante envolve não apenas uma desistência, mas o apoio de Biden e de toda a cúpula partidária a um sucessor de forma inequívoca, canalizando as energias do partido para um novo nome.

Esse nome, naturalmente, tem que ser a sua vice, Kamala Harris. Qualquer outro, por mais qualificado que seja, tenderá a abrir divisões dentro do partido.

Mesmo tendo seus próprios tetos de vidro, como no tema migratório, área sensível na campanha e na qual Kamala apresentou escorregões durante o mandato, o fato de a vice de Biden ser mulher, negra e, sim, filha de imigrantes abre portas para que os democratas recuperem o entusiasmo e o vigor de minorias, algo fundamental para qualquer vitória contra Trump.

Devido à ameaça existencial que Trump representa para os Estados Unidos e para o mundo, Biden pode até vencer as eleições, apesar de si mesmo. Mas o risco tornou-se proibitivamente alto.

É nesse sentido que Biden e os democratas têm uma responsabilidade histórica a cumprir, e ela passa por viabilizar Kamala Harris como candidata à presidente dos Estados Unidos em 2024.

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