Cidinha da Silva fala de relações raciais no Brasil através de textos reflexivos

Virou moda falar por aí na palavra "antirracismo". No Brasil, o ruim de tudo que cai na moda é a sua perda de significado e, por extensão, a aceleração do status do seu consumo, que tira toda a sua força semântica e seu sentido.

Desde que tomou forma, nos anos 1950, em reação à proibição da dançarina e coreógrafa afro-americana Katherine Dunham, impedida de se hospedar em hotel de São Paulo por ser negra, o termo "antirracismo" vem sendo usado como protesto contra pessoas brancas e instituições congêneres, sobretudo por organizações sociais do movimento negro.

Em "Vamos Falar de Relações Raciais? Crônicas para Debater o Antirracismo", lançado agora por Cidinha da Silva, pela Autêntica, o risco do tema se perder no esvaziamento ideológico e no discurso nervoso das mídias digitais não ocorre.

Cidinha da Silva, além de ser uma mestra ao contar histórias, sobretudo na modalidade de contos e crônicas, é também uma grande conhecedora do assunto e uma aguerrida ativista literária negra, cujo conjunto de obras, muitas delas festejadas e premiadas, pauta esta temática de maneira precisa, de forma bem histórica e pedagógica.

No caso do seu mais recente livro, constituído de 27 crônicas, uma linha condutora nos leva a refletir sobre assuntos instigantes, assertivos, bastante incômodos para a sociedade, mas ainda e sempre corriqueiros entre nós: a opressão racial, o massacre da população negra jovem, o colorismo, a supremacia da branquitude, a questão da afetividade, a religião de matriz africana, o papel racial de ícones das lutas negras, como parte do que a autora agrega no seu livro no contexto "de relações raciais", na dimensão de um país poderosamente racista como o Brasil.

Boa parte das crônicas que compõe "Vamos Falar de Relações Raciais?" vem do arguto olhar da cronista em meio aos acontecimentos diários de racismo que assolam o país. Não custa nada lembrar, mas o Brasil viveu mais tempo no regime da escravidão, cerca de 350 anos, do que da pós-escravidão, instituída a 13 de maio de 1888, com a chamada Lei Áurea.

Assim, nesse diapasão, ela aborda o assassinato de Moïse Kabagambe, em "Quanto Vale a Vida de Um Homem Negro?", onde trata do jovem imigrante congolês de 24 anos, que vivia na condição de refugiado, e foi covarde e violentamente morto a pauladas em um quiosque da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, ao cobrar três diárias atrasadas do seu pesado trabalho de ajudante de um estabelecimento comercial de praia, numa movimentada da orla da cidade.

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