Cozinhar feijão em casa é incompatível com os modos do século 21
Antes de levar o filho à escola, preparei para nós dois um almoço bem brasileiro: picadinho, arroz, feijão, ovo frito e farofa de cebola.
Eu só tinha a farofa feita. O feijão, elemento mais demorado, deixei de molho na noite anterior. Começou a cozinhar às 10h, depois de voltarmos de uma consulta do fedelho.
O rango ficou pronto ao meio-dia em ponto. Comemos e saímos para a escola.
Foram três parágrafos para dizer que o preparo do almoço me tomou a manhã inteira. Tudo bem que cozinhei feijão suficiente para alimentar uma tropa –e que será guardado para refeições futuras, já sem o encanto do feijãozinho fresco preparado na hora.
A questão é: se eu tivesse tarefas urgentes e inadiáveis, precisaria desencanar das panelas e recorrer a um restaurante. Ou a algum serviço de entrega de comida.
Trago o assunto ainda na repercussão da entrevista de Fabricio Bloisi, CEO do iFood, à Folha. O executivo afirmou que, daqui a dez anos, o preço do delivery será tão atraente que as pessoas deixarão de cozinhar as próprias refeições.
A matéria gerou um baita bafafá, de gente a acusando o iFood de querer exterminar a culinária caseira e o CEO retrucando com "veja bem", "fui mal compreendido" e "quem me conhece sabe".
A despeito dos planos megalômanos do iFood, a aniquilação da comida caseira não desponta no horizonte mais longínquo. Em compensação, não dá para negar o declínio da alimentação preparada em casa.
Não é algo recente e, quanto mais rico o país, mais acentuada a tendência.
No caso específico do Brasil, nossa cultura alimentar dificulta ainda mais a manutenção de hábitos tradicionais. Só um demente como eu vai se botar a cozinhar feijão numa manhã de um dia útil qualquer.
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