Marques Mendes diz que "não há coragem para agir e para reformar" 24

“Estamos numa fase capital da nossa vida coletiva, que tem implicações sérias para todos nós, mas sobretudo para os jovens. No essencial, do ponto de vista técnico, está tudo diagnosticado. O que não há verdadeiramente em Portugal é coragem para agir, decidir e para reformar. Andamos há anos e anos a fazer diagnósticos, quando no essencial falta é saber decidir. É coragem e ambição”, afirmou Luís Marques Mendes, na Universidade de Verão do Instituto +Liberdade, que decorre em Fátima, no concelho de Ourém, distrito de Santarém.

O também comentador exemplificou tal realidade com os anúncios do secretário-geral do PS, António Costa, dirigidos aos jovens portugueses: “As propostas têm algum sentido, mas é o exemplo daquilo que não deve acontecer na política em Portugal, aquilo é poucochinho, é próprio de um primeiro-ministro sem ambição”.

Para Marques Mendes, “o país merece mais do que isso”, mas considera que aquele é o “padrão de António Costa”.

“Apresentar sempre várias pequenas medidas, que na prática têm um efeito muitíssimo reduzido, mas uma a uma permitem fazer um discurso. A isso chama-se a gestão da retórica e ilusão. Não se resolve nenhum problema de fundo. E essa é a grande questão que é política, falta de ambição e de coragem para decidir e reformar”, reforçou.

Marques Mendes acrescentou que uma maioria absoluta pressupunha um “projeto de transformação”.

Mas, “onde é que existe esse projeto de transformação na educação e na saúde? Só pequenas medidas. Onde é que há no domínio fiscal?”, questionou.

Para o social-democrata, “um país não pode ser competitivo com este domínio brutal de fiscalidade no domínio das pessoas e das empresas”.

E exemplificou: “A Hungria tem um imposto sobre as empresas na ordem dos 10%. O imposto sobre as empresas em Portugal está nos 31%. Isto do ponto de vista da atração do investimento faz diferença.”

Segundo Marques Mendes, a tendência ao longo das décadas é a geração seguinte ter uma vida melhor do que a anterior, no entanto, “pela primeira vez, a nova geração vai ter piores condições de vida que a anterior”.

“Estamos a exportar o futuro, os talentos. Precisamos de aumentar as exportações, mas não essas. Precisamos desses talentos para ajudar o país a criar riqueza”, referiu.

O presidente do Conselho Económico e Social (CES), Francisco Assis, defendeu, por sua vez, a necessidade de entendimentos entre o PS e o PSD em algumas matérias de “fundo”, como a Justiça.

“Todos temos consciência de que é uma matéria onde há profundas disfuncionalidades que afetam o regime democrático. Há décadas que falamos disso. Não compreendo por que não foi possível. É um grande falhanço”, sublinhou na sua intervenção.

O socialista reconheceu que o “crescimento da economia portuguesa, nos últimos 20 anos, é medíocre”.

“E quando cresceu acima da média europeia, foi porque os países mais ricos da Europa estão a crescer anormalmente abaixo. No CES procuramos fazer a comparação com os países que estão mais ou menos na situação onde Portugal se encontra e aí a situação não é brilhante”, constatou.

A falta de crescimento na produtividade está relacionada, segundo Francisco Assis, com o facto de Portugal “ser um dos países da Europa que continua a ter uma população ativa menos qualificada” e com um nível de “organização medíocre”.

“Um dado positivo, devido ao grande investimento na educação, é que estamos acima da média europeia nos jovens que estão mesmo agora a entrar no mercado de trabalho ou entraram há pouco. Significa uma mudança radical”, acrescentou.

Durante as perguntas da plateia, Marques Mendes foi confrontado com a sua potencial candidatura a Presidente da República. O social-democrata não respondeu. A Lusa também confrontou o comentador com a mesma questão no final, à qual Marques Mendes preferiu o silêncio.

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