Porto é palco de vigília em homenagem a Anna Ivankova
“Foi com uma dor muito grande, que também há 17 anos, a cidade do Porto acordou. Noticiava-se o assassinato bárbaro de Gisberta Salce. Também Gisberta era uma linda mulher, também era trans, migrante e pobre. Teve de recorrer ao trabalho sexual para sobreviver, adoeceu com VIH, não resistiu à pressão, tornou-se consumidora de substâncias, e por fim acabou em situação de sem abrigo. Foi torturada e assassinada, por um grupo de adolescentes, dentro de um edifício abandonado do centro da cidade do Porto. No ano de 2006, poucos direitos LGBTQIA+ haviam sido conquistados em Portugal. A sua morte colocou nos jornais e nas bocas a palavra transfobia. Em resposta ao crime e à forma como Gisberta era tratada pela imprensa — foram escritas ofensas desumanizantes, tendo sido o seu nome morto repetido várias vezes – o movimento LGBTQIA+ português organizou-se para promover a primeira manifestação da Marcha do Orgulho LGBT da cidade do Porto. Hoje em dia, passados estes anos, a organização da Marcha do Orgulho do Porto convoca a manifestação para relembrar todos estes crimes transfóbicos, homofóbicos, queerfóbicos e promover um encontro de vivências não normativas. Ocupamos o espaço público para mostrar a nossa existência e resistência. Foi Gisberta que nos deu isso. Ela e todas as pessoas ativistas que deram o corpo e cara para nossa libertação”, continuam.
“Não deixem que a morte de Ana Ivankova seja em vão e saiam às ruas unidas, todas e todos, porque é urgente sobreviver, é urgente acabar com o sofrimento, é urgente o amor”, apelam.
“Este ano, na décima oitava marcha do Orgulho LGBTQIA+ do Porto, o poder local tentou invisibilizar a festa associativa que segue a manifestação, não autorizando a sua localização no centro da cidade. Convocámos o país para se juntar ao nosso protesto e fizemos uma festa no centro da cidade, mesmo sem o apoio da Câmara Municipal do Porto. Milhares de pessoas juntaram-se à manifestação. Keyla Brasil respondeu à convocatória. Keyla é uma travesti, professora de teatro, trans, migrante. E mesmo sendo uma pessoa com educação universitária, a sua transição empurrou-a para o trabalho sexual para sobreviver. O que está errado quando 90% das mulheres trans têm que recorrer a trabalho sexual para sobreviver? Keyla veio marcar uma posição. É tempo de agir, de sair à rua e gritar bem alto: PAREM DE NOS MATAR!”, sublinham.
“A marcha orgulho LGBTQIA+ do Porto solidariza-se com todas as pessoas que amavam Anna, as suas pessoas amigas e familiares e presta os seus pesares. Não deixamos cair mais uma companheira, sejamos cada vez mais uma comunidade unida, mesmo que para isso tenhamos que reconhecer, num processo doloroso, os nossos privilégios. Honremos os seus legados, porque não há vidas LGB sem a libertação de todas as pessoas TQ. Não estão sós, quando não acreditarem, nós lutamos convosco”, concluem.
Foto: DR.
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