Segurança nuclear é uma "responsabilidade absoluta" da Rússia 24

“Não devemos especular sobre a instabilidade nuclear. É uma responsabilidade absoluta da Rússia assegurar que tem controlo sobre o seu armamento nuclear e não ser irresponsável nem na sua utilização, nem na sua salvaguarda”, declarou João Gomes Cravinho à Lusa por telefone a partir de Viena, onde hoje se avistou com o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), Rafael Grossi, e com o seu homólogo austríaco, Alexander Schallenberg.

Na quinta-feira, o secretário do Conselho Nacional de Segurança e Defesa ucraniano, Oleksii Danilov, afirmou que as autoridades ucranianas preparam-se para “qualquer cenário” na central nuclear de Zaporijia, a maior do mundo, sob controlo das forças de Moscovo há meses, ao mesmo tempo que decorriam exercícios de treino para uma eventual catástrofe nuclear.

A região de Zaporijia tem estado no centro dos combates, desde o início da invasão russa da Ucrânia, em 24 de fevereiro do ano passado.

Para o chefe da diplomacia portuguesa, a responsabilidade da Rússia sobre as suas instalações nucleares “é uma exigência que tem de se continuar a fazer”, quando o Kremlin enfrenta uma crise interna motivada pelo motim no último fim de semana liderado pelo líder do grupo mercenário Wagner, Yevgeny Prigozhin.

As colunas militares do líder da Wagner abortaram a 200 quilómetros da província de Moscovo a missão de depor o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, e o chefe do Estado-Maior, Valeri Gerasimov, mas não o Presidente Vladimir Putin.

João Gomes Cravinho não quis especular sobre os desenvolvimentos na Rússia e a possibilidade de o armamento nuclear fugir do controlo de Moscovo, mas deixou uma advertência.

“Se internamente a Rússia está instável, isso apenas se pode imputar ao Presidente Putin e quanto mais rapidamente sairmos desta situação criada pela Rússia, nomeadamente a retirada das tropas russas da Ucrânia, mais fácil será voltar a atingir a estabilidade Internacional e também a estabilidade dentro da Rússia”, considerou.

O ministro dos Negócios Estrangeiros afirmou que a invasão da Ucrânia “põe em perigo toda a ordem internacional, a ordem de segurança Europeia, a ordem jurídica internacional e por aí naturalmente provoca também consequências difíceis de prever no quadro interno [russo], desde o princípio”.

A posição de Portugal em relação a este assunto, frisou, mantém-se inalterável: “O objetivo é simplesmente defender a integridade territorial da Ucrânia. “Não faz parte do nosso apoio à Ucrânia defender qualquer tipo de alteração de circunstância na Rússia”.

Sobre o encontro com o líder da AIEA, João Gomes Cravinho recordou que Rafael Grossi já fez oito viagens à Ucrânia desde o início da invasão e que foram discutidas as ameaças que pendem sobre a central de Zaporijia e a necessidade de Rússia e Ucrânia respeitarem um conjunto de princípios para não pôr em perigo a central nuclear.

“Neste momento [a central nuclear] está num estado, digamos, da hibernação, não está a produzir energia elétrica, mas os motores estão a funcionar para manter a central num estado em que possa depois de algum momento retomar a produção”, apesar de se encontrar junto da atual linha da frente.

Esta circunstância constitui “um enorme perigo” e o chefe da diplomacia portuguesa manifestou o seu apreço pelo trabalho que Grossi e sua equipa da AIEA têm vindo a realizar como “um efeito dissuasor” que leve as partes beligerantes a evitar qualquer tipo de acidente nuclear em Zaporijia, respeitando os princípios com que se comprometeram.

Cravinho discutiu igualmente com Grossi a cooperação que Portugal está a desenvolver com a AIEA sobre utilização médica de tecnologia nuclear, envolvendo outros países como Angola, um projeto que Portugal tenciona reforçar.

Nas suas conversações com o homólogo austríaco, o chefe da diplomacia portuguesa começou por apontar o reforço da relação bilateral, nomeadamente com o estabelecimento de reuniões regulares ao nível de diretores-gerais para procurar convergências de posições europeias e internacionais e a nível económico, onde pode haver “interesses semelhantes” nos respetivos empresariados.

O ministro deu como exemplo que Portugal tem pouca presença no centro e leste europeu, em particular nos países balcânicos, onde Viena é muito forte, e que em contrapartida a Áustria tem pouca importância em África, o que abre caminho a “trabalhar em projetos empresariais comuns”.

Os dois ministros também abordaram a relação da União Europeia (UE) com a América Latina, e a próxima cimeira com a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos, além do acordo com o Mercosul.

”Foi um tema muito interessante, porque a Áustria é um país que tem vindo a demonstrar alguma reticência em relação a esse acordo e eu pude, por um lado, procurar sensibilizar o meu homólogo austríaco em relação à importância geopolítica deste acordo”, descreveu o governante, afirmando ter tido a resposta de Alexander Schallenberg de concordar com a relevância geopolítica desse acordo, apesar das condicionantes internas.

João Gomes Cravinho espera que esta troca de impressões possa criar um bom ambiente de confiança de parte a parte e “ajudar a encontrar uma solução para este acordo, que é que é tão importante para a UE”.

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