ICBAS quer fazer do Porto “cidade piloto” do conceito "Uma cidade, uma saúde" L
“O objetivo é usar o Porto, uma cidade com a visibilidade internacional e o peso regional e nacional que tem, como piloto do projeto ‘Uma cidade, uma saúde’ e pensar na saúde com estas três componentes [animais, ambiente e pessoas] e não de forma individual. Pensar nos animais que estão nas ruas sem esquecer as políticas de ambiente, enquadrar as pessoas, vendo as características do meio onde vivem, pensar, por exemplo, que não se deve criar uma infraestrutura de apoio à saúde sem respeito pelo ambiente”, disse o diretor do ICBAS, Henrique Cyrne Carvalho.
Em entrevista à agência Lusa – a propósito do ‘One Health – Uma Saúde’, um conceito e visão que o ICBAS lidera e que já levou este ano Cyrne Carvalho ao Parlamento Europeu, depois de, no ano passado, ter estado na Comissão do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida no Parlamento português – contou que já reuniu com a autarquia portuense e que a parceria está “a ser trabalhada”.
“Temos também e a intenção de articular, num futuro breve, estas ideias com a Faculdade de Arquitetura, porque a criação de espaços, os modelos de espaço para bem-estar, podem, desde logo, ter esta visão”, acrescentou.
A visão a que se refere o diretor do ICBAS resume-se na expressão “pensar a saúde de forma global”.
No ICBAS, um instituto com cursos como Medicina, Veterinária, Ciências do Meio Aquático, Bioquímica ou Bioengenharia, já foi criada a disciplina ‘One Health’, que visa pôr os estudantes a pensar, “logo no princípio, na saúde como um conjunto”.
“Posteriormente, o tema é novamente aflorado num período mais final do curso, porque a maturidade é outra. O objetivo é que os alunos sejam, ao longo do tempo, e depois já formados e a trabalhar nas diversas áreas, os interlocutores desta visão”, explicou o diretor.
A aposta curricular neste conceito inclui o lançamento, “em princípio já no próximo ano letivo, porque a proposta até já foi aprovada pelo senado da Universidade do Porto”, de um mestrado que está a ser feito em conjunto com uma Faculdade de Economia.
À Lusa, Henrique Cyrne Carvalho contou que, no âmbito do ‘One Health’ foi já criado um conselho executivo que, liderado pelo ICBAS, tem a ambição de ser nacional e que está a ser criado um conselho consultivo ou estratégico.
“Apesar do conceito fazer todo o sentido – aliás a pandemia [da covid-19] mostrou exatamente esta realidade, o não pensar a coisa em conjunto e o mau resultado que isso deu – a ideia é difícil de transmitir. Subjetivamente faz sentido, mas então o que é que se faz? O benefício é intuitivo, mas como se materializa?”, refletiu.
A trabalhar este conceito há “pelo menos” quatro anos, apostando, inicialmente, na divulgação dentro da comunidade científica, o ICBAS quer chegar à população em geral e, finalmente, ver como se traduz em decisões políticas.
“Só para lhe dar ideia, nós temos uma Direção-Geral da Saúde, que é uma direção da Direção-Geral da Saúde Humana. Depois temos a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária e estruturas ligadas ao ambiente. Não temos algo que agregue os três componentes. No mínimo, faria sentido uma articulação das três”, defendeu.
Já no âmbito europeu, o diretor considerou que “é preciso fazer uma reflexão muito mais abrangente de modelos de articulação”, porque a saúde “é um tema que ultrapassa os limites e a organização de cada um dos países”.
“A Europa [do meu ponto de vista] não estava preparada para lidar com a pandemia. Aquilo que eu percebi, da minha ida ao Parlamento Europeu, foi que a Europa está muito interessada em encontrar modelos novos para lidar com a saúde, trabalhar a prevenção, criar mais condições”, concluiu.
No âmbito do ‘One Health’, o ICBAS já criou um Livro Branco que corresponde à interpretação dos resultados de reuniões e investigações.
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