ONG denuncia constantes saques e ataques às suas instalações de apoio médico no Sud&
“No saque de um dos nossos armazéns em Cartum, os assaltantes desligaram os frigoríficos e levaram os medicamentos. Toda a cadeia de frio foi arruinada, então os poucos medicamentos que deixaram para trás estragaram-se e são inúteis”, disse o coordenador de emergência da Médicos Sem Fronteiras (MSF) no Sudão, Armstrong Dangelser.
O coordenador da MSF considerou que “a violação dos princípios humanitários em contexto de conflito é de uma dimensão que raramente” viu antes.
“Estamos chocados e horrorizados com estes ataques deploráveis”, frisou, descrevendo a situação como “sem sentido”.
A ONG recordou que a Organização Mundial de Saúde (OMS) documentou, até 22 de maio, um total de 38 ataques a serviços médicos desde o início do conflito, alertando ainda para o facto de existirem relatos de hospitais ocupados por grupos armados.
Os generais Abdel Fattah al-Burhan, que lidera as forças armadas regulares, e Mohamed Hamdan Dagalo, que chefia as RSF, são os protagonistas de acesos combates desde 15 de abril, extensivos a todo o país mas dominantes na capital, Cartum.
As Nações Unidas estimam que o conflito causou até agora cerca de 1.000 mortos e o deslocamento forçado de mais de um milhão de pessoas das suas áreas de residência.
No seu comunicado, a MSF afirma que é “extremamente difícil” transportar material médico através do país, uma vez que os ataques aéreos e a violência dos combates fazem com que os doentes e os trabalhadores tenham “demasiado medo de aceder aos hospitais”.
“Estes ataques não se limitam apenas aos MSF e fazem parte de uma tendência mais alargada, são um sinal do desprezo demonstrado pelas partes beligerantes pela integridade dos hospitais e das instalações médicas, e da sua falta de respeito pela vida dos civis e pelo trabalho das organizações humanitárias”, denunciou ainda a ONG.
O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, avisou hoje os generais rivais do Sudão para respeitarem o mais recente cessar-fogo, sob pena de possíveis sanções, devido a relatos de combates em Cartum e numa cidade do norte do país.
Numa mensagem de vídeo publicada hoje pela embaixada dos Estados Unidos da América (EUA) nas redes sociais, Blinken afirmou que os combates foram “trágicos, sem sentido e devastadores”.
O cessar-fogo, de sete dias, foi acordado na cidade portuária saudita de Jeddah, com a mediação da Arábia Saudita e dos Estados Unidos e, segundo Blinken, visa permitir a entrega de assistência humanitária e restaurar os serviços essenciais e as infraestruturas destruídas nos confrontos.
Neste primeiro dos sete dias de cessar-fogo anunciados, o Sudão viveu um dia de calma relativa, com o exército regular e as RSF a trocarem acusações e desmentidos sobre a alegada ocupação de um hospital em Cartum.
O Ministério da Saúde sudanês acusou as RSF de ocuparem 28 hospitais no país, um dos quais hoje, no primeiro dia do cessar-fogo.
De acordo com um comunicado do ministério, trata-se do Hospital Universitário Alban Jadid, o único ainda em funcionamento no leste de Cartum, onde “as milícias rebeldes se instalaram hoje, apesar do cessar-fogo, agrediram o pessoal de saúde, expulsaram os doentes e colocaram-no fora de serviço”.
Por seu lado, as RSF acusaram os ministérios controlados pelo exército regular de “publicarem mentiras e desinformação”, negando a ocupação do hospital Ahmed Qasem, embora não tenham feito qualquer referência ao hospital Alban Jadid.
Residentes em Cartum e Obeid, cidade do norte do país, referiram a existência de combates entre os dois beligerantes, com vários bombardeamentos e confrontos.
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