Paixão Martins aconselha partidos a escolherem candidatos nas europeias que representem públicos-alvo 24
Numa sessão sobre comunicação política, organizada pela agência Lusa no âmbito de um programa de formação do Parlamento Europeu para jovens jornalistas, o consultor de comunicação Luís Paixão Martins salientou que, das eleições legislativas para as eleições europeias, “perde-se quase metade dos eleitores”.
Segundo o consultor - que liderou a comunicação das campanhas de Cavaco Silva, José Sócrates e António Costa quando obtiveram maiorias absolutas -, essa redução no número de votantes nas europeias explica-se com os fatores que mobilizam os eleitores.
Paixão Martins salientou que, nas eleições legislativas, “há várias maneiras de mobilizar os eleitores”, uma vez que, além dos que votam de acordo com a “marca partidária”, e a que chamou de fãs, há também quem vote num nome para primeiro-ministro, em função de posições ideológicas ou de interesses, ou porque querem um Governo que funcione.
Por oposição, nas eleições europeias, o único elemento que mobiliza os eleitores é a “marca partidária” que, no que respeita ao PS, disse corresponder a cerca de um milhão e 100 mil eleitores e, no PSD, a 900 mil.
“O objetivo eleitoral nas europeias é mobilizar a base eleitoral, os fãs, é fazer com que os fãs, que se podem abster ou votar no partido”, vão às urnas, disse.
Numa sessão moderada pela diretora de informação da Lusa, Luísa Meireles, e pelo ex-ministro do PSD Miguel Poiares Maduro, Luís Paixão Martins foi questionado sobre o que é pode ser feito para contrariar essa tendência.
Na resposta, o consultor de comunicação abordou o processo de recrutamento de candidatos para as europeias, frisando que, atualmente, os nomes escolhidos “são pessoas que estiveram no ativo, que saíram, a quem o partido deve alguma coisa, e lhes oferece aquele posto”.
“Se o processo de recrutamento dos candidatos não fosse esse, o que é que seria possível? Seria possível pensar, por exemplo, para um partido que quisesse chamar os eleitores do grupo 65+, encontrar um candidato, eventualmente que liderasse a candidatura, que fosse uma pessoa de referência para esse grupo, ou seja, (…) um líder de uma tribo”, sublinhou.
Nesse cenário, Luís Paixão Martins salientou que seria possível mobilizar outros eleitores para além dos fãs e aconselhou os partidos a identificar eleitores que possam ajudá-los a ter mais votos e escolher quem são as pessoas de referência que os possam mobilizar.
O consultor admitiu ainda outro cenário em que, para ativar mais eleitores, os partidos poderiam dramatizar as europeias, retratando-as como “um teste à continuidade do Governo”, e levando mais votantes às urnas para mostrar apoio ou repúdio ao executivo.
Paixão Martins ressalvou, contudo, que esta estratégia é arriscada e “tem o inconveniente de não se saber qual é o resultado”, acrescentando que não acredita, nesta fase, que alguém a assuma como estratégia eleitoral para as europeias.
Questionado se os temas europeus podem mobilizar eleitores, o consultor referiu que, quando gere campanhas, desenha-as sempre em função dos interesses das televisões.
“No plano das europeias, se as televisões disserem ‘nós queremos fazer debates europeus com todos os candidatos na Europa', então ter-se-á de formatar o processo de comunicação em função desses interesses”, disse.
Nesta sessão, Miguel Poiares Maduro levantou a dúvida sobre se a “fragmentação” das ideias políticas que se verificou no Brasil ou nos Estados Unidos estava a chegar à Europa.
No entanto, Paixão Martins não corroborou essa tese, lembrando que, ao contrário do que acontece nos Estados Unidos ou no Brasil, as campanhas dos partidos na Europa não são “centrífugas” (que tendem para os extremos).
“As nossas campanhas são centrípetas, ou seja, todos os partidos, todos os candidatos convergem para o centro, até é difícil distingui-los. Nas últimas eleições, a Catarina Martins do BE parecia social-democrata”, argumentou Luís Paixão Martins.
Paixão Martins manifestou ainda ceticismo quanto às sondagens porque as considera “muito pouco credíveis na projeção” dos resultados reais dos momentos eleitorais e, além disso, “têm um péssimo tratamento mediático” por parte dos jornalistas.
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