Descafeinado, carioca, sem princ& pio, cheio!
Descafeinado, carioca, sem princ& pio, cheio!
Em Lisboa chamamos-lhe bica, no Porto cimbalino porque era tirado nas máquinas La Cimbali, mas também há quem lhe chame expresso para imitar o espresso italiano. Pingado leva um pingo de leite frio e carioca quando se tira um segundo café com a mesma carga.
Em Portugal somos muito criativos, é sobejamente sabido, e somos também grandes apreciadores de café. Se a tudo isso somarmos uma boa dose de mania e um certo jeito para complicar chegamos facilmente à gincana que é pedir um, nos dias que correm, numa qualquer pastelaria ou numa cafetaria do bairro. É tal a panóplia de derivações que ainda no outro dia, quando pedi um café, o empregado ficou especado a olhar para mim, à espera que continuasse a dissertação. O silêncio e o ar estático pareceram-me tão inusitados que meio que a adivinhar o que queria, soltei um tímido “normal”, a seguir, e ele lá deu meia volta e dirigiu-se ao balcão. Fiquei a pensar nisso depois. “Normal”? Mas que porra é essa? Normal não se diz, é um café, ponto! Mas não é de agora.
Em Lisboa chamamos-lhe bica, no Porto cimbalino porque era tirado nas máquinas La Cimbali, mas também há quem lhe chame expresso para imitar o espresso italiano. Pingado leva um pingo de leite frio e carioca quando se tira um segundo café com a mesma carga. Também existe de limão mas aí não é café, é mesmo só água quente com um ou dois pedaços da casca do fruto. Garoto (não sei se ainda se pode dizer porque os mais sensíveis andam aí…) é um curto onde se junta leite ou espuma de leite e uma italiana quando é um shot mesmo mesmo curto ou descafeinado quando não se quer abusar da cafeína. Passando para a chávena grande, o abatanado é um café com água quente, também há quem lhe chame americano. Meia de leite, como o nome indica, é um café com leite em iguais proporções ou chinesa, na ilha da Madeira. O galão leva mais leite que café e é servido num típico copo de vidro. Não me posso esquecer também do café com cheirinho tão típico das tascas e tabernas.
A todas estas variâncias temos agora todo um novo glossário que vai desde o “sem princípio”, quando se deixa escorrer o princípio para a grelha, ou em chávena fria. Café a três quartos, em chávena escaldada ( juro que bato palmas quando oiço pedir este), ou até, imagine-se, em chávena escaldada acompanhada de um copo com gelo ao lado (aqui só mesmo ao estalo). Lembro-me do famoso mazagran, no pico do calor, que era um café que era entornado para dentro de um copo com gelo, a ideia de o pedir com chávena escaldada acho que é mesmo só para complicar. Também há quem peça, descafeinado abatanado, servido naturalmente em chávena grande e a minha tia pede um carioca, descafeinado, sem princípio, cheio! Não consigo não sorrir de cada vez que mo pede. Há para todos os gostos e feitios, hoje em dia o empregado já vem para uma mesa grande com o bloco de notas, pronto para apontar os caprichos de cada um.
Há quem o tome com açúcar (alguns com dois pacotinhos) e adoçante para os que dizem fazer menos mal. Também existem os que só tomam café biológico com adoçante natural ou stevia, para poderem viver mais uns aninhos. O saudoso Rui Nabeiro, rei do café português, dizia que não se devia tomar com açúcar, para não lhe desvirtuar o sabor, mas que cada um toma como quer. Sem dúvida! Para mim pode ser “normal”, de preferência com um pastel de nata da Piccolina para acompanhar.
O que você está lendo é [Descafeinado, carioca, sem princ& pio, cheio!].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.
Wonderful comments