Desinformação "é também um problema de cibersegurança",
“O problema da desinformação não é apenas do âmbito do jornalismo ou dos media, é também um problema de cibersegurança, sobretudo porque os meios digitais proporcionam a disseminação de desinformação e automatismos informáticos para simular conteúdos e ações fidedignos”, lê-se no primeiro boletim de 2023.
Por exemplo, as campanhas que usam ‘botnets’ (redes de computadores infetados) para manipular as redes sociais, a produção de ‘deepfakes’ (desinformação mais sofisticada), a criação de contas falsas ou o furto de identidade ‘online'”, elenca o Observatório de Cibersegurança.
Além disso, o CNCS fala também da desinformação avançada, em que “os desenvolvimentos mais recentes nas tecnologias digitais, como seja no campo da Inteligência Artificial (IA), trouxeram maior sofisticação à desinformação e capacidade de simular imagens, vozes e textos”.
O contexto político, sublinha, “criou condições para o uso sistemático deste instrumento como arma nas redes sociais para a desestabilização política por parte de oponentes estatais ou paraestatais”.
O relatório cita do Digital News Report (DNR) Portugal 2022, que refere a existência de uma preocupação com o que é “real e falso” na Internet para sete em cada 10 pessoas em Portugal no ano passado, menos cinco pontos percentuais do que em 2023.
Contudo, “há mais pessoas a ter uma posição neutra a este respeito”. Em Portugal, 42% dos inquiridos diz ter encontrado informação falsa essencialmente sobre a COVID-19 (42%), política (34%) e produtos e serviços (22%).
Sobre o consumo de notícias através das redes sociais, o estudo mostra que o Facebook continua a ser a plataforma mais usada (49%), mas tem vindo a perder terreno (perdeu 18 pontos percentuais desde 2015). Do lado oposto, o consumo aumentou nos aplicativos de mensagens WhatsApp e também na rede social Instagram.
“Não obstante, em Portugal, a fonte principal de notícias em 2022 foi a televisão (54% das pessoas), seguindo-se as redes sociais (20%), a Internet (excluindo as redes sociais) (17%), a rádio (7%) e a imprensa (3%)”, lê-se no documento, referindo a existência de “discrepâncias significativas entre idades a este respeito: as pessoas mais velhas tendem a ter na televisão a sua fonte principal de notícias, enquanto as mais jovens encontram nas redes sociais um peso idêntico à televisão como fonte principal de notícias”.
A desinformação é utilizada, entre outros fins, como instrumento para a obtenção de ganhos económicos.
“Neste caso, em geral, ocorre uma ação sobre um público com o objetivo de o condicionar a ter comportamentos que favorecem economicamente o agente que lança o conteúdo de desinformação. Por exemplo, quando uma ação de ‘phishing’ é acompanhada por conteúdos de desinformação que promovem falsamente um produto ou serviço”, refere.
Também é um instrumento de propaganda, sendo utilizado em campanhas que procuram polarizar, confundir e condicionar o público “através da criação de perceções erróneas ou descontextualizadas sobre uma realidade, conduzindo esse público a ações que prejudiquem o próprio e um adversário”.
Aponta que “existem ainda processos que se confundem com desinformação e que, embora intencionais, podem não corresponder a ações com objetivos maliciosos, embora tenham consequências negativas”.
Trata-se de casos de conteúdos falsos que desacreditam a ciência ou elaboram ‘teorias da conspiração’ que podem ser desenvolvidos com base em crenças honestas.
“No entanto, por vezes, estes casos são instrumentalizados por campanhas de desinformação efetivas”, alerta.
Depois há a questão de tecnologias ditas emergentes, como a IA, que “têm trazido desenvolvimentos facilmente apropriáveis como instrumentos de desinformação”
Por exemplo, o crescimento da “capacidade de simular uma realidade através de imagens, vozes e textos promovido pela IA favorece uma desinformação que é tanto mais eficaz quanto melhor conseguir produzir simulações verosímeis”, sendo que a Inteligência Artificial também “permite a automação dos processos de disseminação da desinformação”.
Por outro lado, a criação de ambientes digitais imersivos, como o metaverso, “resulta em contextos particularmente desafiantes no que diz respeito à desinformação”.
Este tipo ambientes tende, “mais do que a simular uma realidade existente, a construir uma realidade alternativa, ainda que eventualmente em conexão com a realidade existente”.
Por último, as redes sociais também têm tido um papel “muito importante na disseminação da desinformação digital”.
De acordo com dados do Eurostat sobre Incidentes e Consequências de Segurança, “o tipo de consequência resultante de incidentes de cibersegurança mais identificado nas empresas com mais de 10 empregados em Portugal, em 2022, foi a indisponibilidade de serviços digitais (DDoS, ‘ransomware’, falhas de ‘hardware’ ou ‘software’), para 9,7% das empresas”. A média da União Europeia neste âmbito foi de 20,1%.
A 14 de fevereiro, o Gabinete Cibercrime da Procuradoria-Geral da República (PGR), divulgou informação sobre as denúncias de cibercrime recebidas no ano passado: o número aumentou 83%, de 1.160 para 2.124, em 2022 face ao ano anterior, sendo “o ‘phishing’ o tipo de criminalidade mais denunciado”.
O Observatório de Cibersegurança do CNCS, em colaboração com o Instituto Politécnico do Porto e o Compete 2023, publicou a 7 de março os resultados do Inquérito Cibersegurança e Indústria 4.0, dirigido aos técnicos operacionais e trabalhadores de entidades da Indústria 4.0, acerca das políticas e práticas de cibersegurança implementadas.
“Somente 26% dos trabalhadores inquiridos afirmou ter recebido da sua empresa sensibilização em cibersegurança em 2023”, concluiu.
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