Em Campinas, Lula acusa Bolsonaro de usar máquina pública 'para fazer campanha' eleitoral
Candidato do PT à Presidência, Lula concede entrevista ao lado de Fernando Haddad (PT) em Campinas — Foto: Reprodução/YouTube
O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, acusou neste sábado (8) o presidente Jair Bolsonaro (PL) – adversário na eleição – de utilizar a máquina pública para "fazer campanha" eleitoral.
Lula deu a declaração durante entrevista em Campinas, interior de São Paulo, onde também participou neste sábado de uma passeata com apoiadores.
"Nós estamos fazendo uma campanha com uma certa anomalia, porque nós temos um cidadão, que está exercendo a Presidência, que está utilizando a maquina do governo para fazer campanha. Eu estava analisando, desde Marechal Deodoro da Fonseca, 1889 até agora, todos os presidente juntos, ninguém utilizou a máquina 10% [do que] como ele está utilizando", afirmou o petista.
Nesta semana, Bolsonaro usou o Palácio da Alvorada, residência oficial da presidência da República, para anunciar apoio de governadores, além de receber parlamentares de sua base política.
O presidente também vem buscando garantir o suporte de congressistas durante esta campanha por meio de promessas na liberação de emendas de relator, conhecidas como "orçamento secreto".
As emendas de relator receberam essa classificação por terem pouca transparência nos critérios de distribuição e por beneficiarem, na maioria das vezes, a base aliada do governo no Legislativo. Em 2022, elas somam R$ 16,2 bilhões.
Também nesta semana, o governo havia determinado o bloqueio de recursos destinados à educação. Segundo a Instituição Fiscal Independente (IFI), vinculada ao Senado, o Ministério da Educação é a pasta que sofreu o maior congelamento de verbas neste ano: quase R $3 bilhões, sem incluir as emendas parlamentares.
No entanto, após pressão de reitores e estudantes, o ministro da Educação, Victor Godoy, anunciou que vai liberar orçamento de universidades federais e institutos federais.
Nesta semana, a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) denunciou bloqueio de R$ 328 milhões nas verbas já previstas para o ano e alertou que o funcionamento das universidades seria inviabilizado se o contingenciamento fosse mantido.
O governo Jair Bolsonaro também anunciou antecipação do pagamento do benefício para caminhoneiros e do Auxílio Brasil em outubro, e parcela extra do benefício para taxistas, entre outras medidas.
Também na entrevista, Lula foi questionado sobre o fato de a sua campanha ter resgatado um vídeo de 2016 em que Bolsonaro diz que comeria indígena em ritual de aldeia.
O petista disse que o uso do material não foi uma "maldade" da sua equipe e nem "uma invenção", mas uma informação ao eleitor sobre quem é o adversário na corrida ao Palácio do Planalto.
"Aquilo [comer carne humana] não é uma invenção, aquilo não é a campanha do Lula falando, aquilo é ele [Bolsonaro] falando. Poderia ter saído em qualquer jornal. É ele [Bolsonaro] dando uma declaração a um jornalista americano. E ele repetiu. Então, aquilo não é maldade nossa. Somos nós informando ao povo quem é nosso adversário", afirmou.
2 de 3 Lula durante campanha em Campinas neste sábado — Foto: Reprodução/EPTVLula durante campanha em Campinas neste sábado — Foto: Reprodução/EPTV
Em Campinas, Lula percorreu trajeto em um veículo, acompanhado de Geraldo Alckmin (PSB), candidato a vice na chapa, e Fernando Haddad (PT), que disputa o segundo turno da eleição ao governo de São Paulo contra Tarcísio de Freitas (Republicanos) – candidato apoiado por Bolsonaro.
Apoiadores e militantes do PT acompanharam a pé a passagem do petista por uma das principais avenidas de Campinas.
Na retomada da campanha ao Palácio do Planalto nesta semana, Lula focou suas ações em São Paulo – estado que é o maior colégio eleitoral do país com 34,6 milhões de eleitores.
Na quinta-feira (6), o petista participou de passeata em São Bernardo do Campo, berço do sindicalismo na região do ABC Paulista. Nesta sexta-feira (7), o ex-presidente fez caminhada com apoiadores em Guarulhos, na Grande São Paulo.
No primeiro turno, Jair Bolsonaro venceu Lula no estado de São Paulo. O candidato do PL recebeu 12,2 milhões de votos (47,71%); o petista, 10,4 milhões (40,89%). O presidenciável do PT, por sua vez, venceu na capital do estado.
Além dos eventos de campanha em São Paulo, Lula dedicou a primeira semana do segundo turno a costurar alianças. Ele recebeu, por exemplo, apoio de governadores, dos partidos PDT e Cidadania, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e da candidata derrotada do MDB à Presidência, Simone Tebet – que ficou em terceiro lugar no primeiro turno.
Após passeata por Campinas, Lula voltou a falar aos apoiadores e reforçou promessas de campanha, como a recriação do Ministério da Cultura, a criação do Ministério dos Povos Originários e o combate à invasão e garimpo em terras indígenas.
3 de 3 Lula e Fernando Henrique Cardoso — Foto: Ricardo Stuckert/DivulgaçãoLula e Fernando Henrique Cardoso — Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação
Em entrevista, Lula comentou o encontro com FHC – histórico adversário do PT em disputas presidenciais – e o apoio que recebeu. O petista disse que o tucano gravou um vídeo que deve ser divulgado pela campanha nos próximos dias.
"Ontem [sexta-feira], a reunião com o FHC foi extraordinária. Importante saber que o FHC está com 91 anos. Eu quero chegar aos 91 anos com a qualidade de vida que ele está. Ele está com a cabeça muito boa. Fez declaração, que falta só publicar, pedindo voto pra mim", disse.
Além de buscar votos em São Paulo e apoios políticos, o petista também tem tentado ampliar a vantagem que tem sobre Bolsonaro na região Nordeste. Nesta quinta, em discurso, ele explorou uma fala do adversário para pedir a quem tem "uma gota de sangue nordestino" que não vote no candidato do PL.
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