'Tenham paciência', diz Lula sobre pressão para anunciar ministros de um eventual novo governo
Candidatos Lula e Geraldo Alckmin em evento com representantes da sociedade civil em SP — Foto: YouTube/Reprodução
O candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, pediu nesta segunda-feira (10) "paciência" aos apoiadores que cobram o anúncio dos nomes de seus futuros ministros, caso o ex-presidente vença o segundo turno das eleições no fim deste mês.
"Se eu fosse bobo e indicasse um ministro antes de ganhar as eleições, eu perderia outros 30 que ainda não indiquei. Então, tenham paciência quem estiver querendo", disse.
Lula deu a declaração em um evento com cientistas políticos, economistas, familiares de banqueiros e ex-presidentes do PSDB.
O ex-presidente tem sido cobrado por vários setores da sociedade a apresentar a estrutura do eventual futuro governo, em especial os nomes que pretende indicar para ocupar os ministérios da Fazenda e do Planejamento.
Nesta segunda, o blog da Júlia Duailibi mostrou que uma ala da própria campanha de Lula tenta convencer o candidato a anunciar possíveis ministros para pastas como Fazenda e Agricultura.
O grupo teme as insinuações do candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), de que Lula levaria de volta à Esplanada dos Ministérios nomes como José Dirceu, Dilma Rousseff e Gleisi Hoffmann, que não gozam de ampla simpatia dos eleitores atualmente indecisos. Até agora, no entanto, Lula e os coordenadores da campanha ainda não aderiram à tentativa.
Na última semana, em um encontro com parlamentares do PSD, o petista classificou a pressão por revelar nomes da equipe econômica como uma “loucura”.
“Primeiro, tenho que ganhar as eleições. E, quando ganhar, vou montar o governo não apenas com o meu partido ou meus aliados, tem gente de fora que vai participar", afirmou na ocasião.
Nesta segunda, Lula se encontrou com especialistas de diferentes áreas que declararam apoio "imediato, incondicional e independente” à candidatura. O ex-presidente repetiu as críticas feitas à negação da política ocorrida nos últimos anos e afirmou que pretende valorizar políticos em um eventual governo.
“Quando você conversa com um político competente, com um quadro político, você consegue fazer qualquer acerto, você consegue fazer qualquer coisa. É isso que pretendo fazer”, disse.
Outro ponto de pressão externa, o programa de governo também foi tema dos discursos. Coordenador da área, o ex-ministro Aloizio Mercadante afirmou que o conteúdo será sistematizado e encaminhado às equipes de transição em um eventual governo.
“Não é a formalização de algumas páginas que vão desenhar um programa de governo. São conceitos, diretrizes, é aprofundar… o presidente Lula é a única campanha que faz esse mergulho no Brasil profundo, que todo dia tá dialogando com a sociedade, acolhendo, recebendo”, afirmou.
No encontro, Lula ainda comentou as declarações de Bolsonaro no sentido de aumentar o número de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Bolsonaro tem defendido publicamente uma reforma no Judiciário e a elevação de 11 para 16 cadeiras no Supremo Na última semana, ele afirmou que poderia rever a posição caso o Supremo baixasse "um pouco a temperatura".
Sem mencionar Bolsonaro, o petista afirmou que o Brasil vive uma “tentativa de destruir as instituições que garantem a democratização do país”.
“O Brasil está pior do que o Brasil que peguei em 2003. Hoje tem uma coisa mais grave que é a falta de credibilidade nas instituições. É a tentativa de destruir as instituições que garantem a democratização do país. Um cidadão que está prometendo aumentar o número de membros da Suprema Corte na perspectiva de fazer uma Suprema Corte favorável a ele. Eu tive a sorte de indicar seis ministros da Suprema Corte e não indiquei nenhum amigo. [...] Tenho orgulho de ter indicado seis e nunca ter pedido um favor”, disse.
Lula recebeu um manifesto intitulado “Uma agenda inadiável”, endossado pelo grupo Derrubando Muros e outras personalidades públicas e políticas.
Entre os nomes que participaram do ato de entrega estavam dois ex-presidentes nacionais do PSDB – Pimenta da Veiga e José Aníbal – e lideranças tucanas regionais, como o ex-senador Aloysio Nunes, o ex-presidente do diretório fluminense Márcio Fortes e o ex-secretário da Casa Civil de Mário Covas Tião Farias.
“Ao longo da minha vida pública, tive embates com o PT. [...] Eu entendo que nós temos um enorme risco constitucional pela frente. Isso deve nos unir. Essa união agora passa pela eleição de Lula a presidente da República. Lula gosta dos mais pobres. Compreende os mais pobres. Quer ajudá-los e sabe como fazer. Por isso, vim aqui me alistar nesta luta pela sua vitória. Pela sua vitória. Mas quero lhe dizer que é muito mais do que isso. Não é apenas a vitória de Lula e dos partidos que o apoiam. É a vitória da democracia”, declarou Pimenta da Veiga.
Ex-presidente do BNDES e um dos economistas que implementaram o Plano Real, André Lara Resende, que também assina o manifesto, defendeu que não é somente a economia que está em jogo nas eleições deste ano e que um eventual governo precisa ser socialmente inclusivo e não apenas assistencialista.
“O que está em jogo é muito mais que a economia. É uma opção por buscar o desenvolvimento democrático do século 21 ou flertar com o que é hoje o reacionarismo antidemocrático e desumano que aqui, mas não apenas aqui e em várias partes do mundo, depois de sete décadas recessivas desde a segunda guerra mundial, parece ressurgir com toda a força”, afirmou.
O candidato a vice na chapa, Geraldo Alckmin (PSB), agradeceu os apoios e voltou a dizer que a chapa é a única a traduzir o “crescimento inclusivo”.
“Quem vai defender a democracia, se não os democratas? Acho que o presidente Lula traduz bem o crescimento inclusivo, que não deixe ninguém para trás, que traga todos. Um crescimento com estabilidade -- a inflação não é neutra socialmente, ela tira do mais pobre. E crescimento com sustentabilidade, com questão ambiental, combate às mudanças do clima na ponta desse trabalho”, disse.
Em um encontro virtual com apoiadores do setor cultural, a esposa do ex-presidente Lula, Rosângela da Silva, conhecida como Janja, afirmou que a campanha deflagrada por correligionários do petista pelo voto útil no primeiro turno das eleições não foi positiva para a chapa.
Nas semanas que antecederam a primeira rodada do pleito, apoiadores e aliados de Lula pregaram a estratégia de estímulo ao eleitor de Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) a abrir mão de preferência e votar em Lula, que indicava maiores chances de ser eleito na disputa contra Jair Bolsonaro (PL).
“As pesquisas nos enganaram um pouco. [...] O movimento que foi feito do voto útil, não vou dizer que foi um tiro no pé, mas não foi bom. Acabou que o pessoal votou no Bolsonaro”, afirmou.
No dia anterior ao pleito, levantamentos do instituto Datafolha e do Ipec apontaram Lula com chances de vencer em primeiro turno. No Datafolha, o ex-presidente tinha 50% das intenções de votos válidos, enquanto Bolsonaro tinha 36%. No levantamento do Ipec, o petista registrou 51% das intenções de votos válidos; Bolsonaro, 37%.
O resultado apresentado pelas urnas foi um pouco distante. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, Lula teve 48,3% dos votos válidos. O atual presidente alcançou 43,2%. 💥️
Para Janja, a discrepância mudou os rumos da campanha. “A gente fica com pé no chão”, declarou.
A esposa do ex-presidente voltou a defender que os apoiadores foquem em apoiar a campanha a “conquistar voto, conquistar o coração do eleitor”. Janja pediu ainda que os apoiadores ligados à cultura sigam com mobilizações em redes sociais e que sigam se manifestando a favor da chapa Lula-Alckmin.
Um dos coordenadores da campanha de Lula, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) defendeu que os apoiadores ampliem o diálogo com outros setores da sociedade. O senador sugeriu que os correligionários abandonem o uso da cor vermelha em atos com a presença de Lula.
"Segundo turno é ampliação e ampliar rejeição. Vamos para as ruas levando nossas cores, mas vamos colorir", afirmou, acrescentando que é preciso utilizar cores da bandeira brasileira.
O senador afirmou que as próximas semanas da campanha devem ter agenda concentrada no Sudeste do país e que uma opção aventada pela coordenação da campanha é investir em uma agenda própria de Janja pelo país. Segundo ele, em estados e cidades pelas quais Lula não deverá passar, Janja poderia cumprir agenda para aumentar a identificação do eleitor com o petista.
A campanha petista deve, de acordo com Janja, abandonar o formato de grandes comícios na disputa do segundo turno. Lula deverá focar somente em caminhadas.
Randolfe apelou também aos apoiadores para que integrem eleitores de Tebet e Ciro para planejar atividades de campanha. “[É preciso] conversar, integrar nas atividades o pessoal do comitê da Simone, do Ciro. Vamos integrá-los. Vamos fazer atividade junto deles, vamos incorporá-los a nossa campanha e atividades”, disse.
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