Em fórum global de alimentação urbana, Paes afirma que Brasil voltou a discutir a fome e culpa ‘aumento da pobreza’
O 💥️8º Fórum Global do Pacto de 💥️Milão💥️ para Política de Alimentação Urbana foi aberto na manhã desta segunda-feira (17) na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio. A cúpula discutirá, até quarta (19), soluções e políticas públicas na área de segurança alimentar.
É a primeira vez que o fórum acontece na América do Sul. Nesta edição, o tema é “Comida para Nutrir a Justiça Climática: soluções alimentares urbanas para um mundo mais justo”.
Na abertura, o prefeito Eduardo Paes (PSD) falou da situação da fome no Brasil.
“Perdemos a chance de estar na discussão sofisticada sobre processos produtivos alimentares para voltar a discutir fome. É fome por falta de prioridades, em atender a população mais carente, mais pobre. O que a gente vive no Brasil não se deve à pandemia. Se deve a um aumento da desigualdade, a um aumento da pobreza”, disse Paes.
1 de 2 Eduardo Paes no 8º Fórum Global do Pacto de Milão para Política de Alimentação Urbana — Foto: Cristina Boeckel/g1Eduardo Paes no 8º Fórum Global do Pacto de Milão para Política de Alimentação Urbana — Foto: Cristina Boeckel/g1
“No meu outro mandato, a gente tratava desse tema na sua parte mais sofisticada, como mudar as cadeias alimentares, como diminuir obesidade, de como é que a gente melhora a qualidade dos produtos. Agora, 10 anos depois, a gente volta a discutir um tema que não estava na agenda, que é o tema da fome”, comparou.
Paes destacou iniciativas como as cozinhas comunitárias do 💥️Prato Feito Carioca e o sistema de hortas em regiões do Rio como algumas das políticas para promover uma dieta mais saudável.
“Os prefeitos têm um papel crucial na mudança de sistemas alimentares e na implementação de sistemas saudáveis. O direito de alimentar corretamente é um direito universal”, disse.
2 de 2 Paes e Anna Scavuzzo, vice-prefeita de Milão — Foto: Cristina Boeckel/g1Paes e Anna Scavuzzo, vice-prefeita de Milão — Foto: Cristina Boeckel/g1
Vieram ao Rio cerca de 💥️500 representantes de 💥️162 cidades de todo o mundo.
💥️Anna Scavuzzo, vice-prefeita de Milão, afirmou na abertura do evento que o pacto é uma jornada coletiva na qual as cidades lançam e discutem as suas políticas alimentares.
Segundo ela, a distribuição dos alimentos está ligada à justiça social, ao aumento das iniquidades e a questões climáticas, que considerou um dos maiores desafios das discussões.
“As cidades devem alimentar a justiça climática. Isso que queremos, e vamos atingir se trabalharmos juntos”, disse a vice-prefeita.
Entre as cidades que contarão com representantes estão Paris, Copenhagen e Chicago.
De acordo com um relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), divulgado em julho, a quantidade de brasileiros que enfrentaram algum tipo de insegurança alimentar chegou a 61,3 milhões.
O dado indica que praticamente 💥️três em cada dez habitantes do Brasil, que tem uma população estimada em 213,3 milhões, têm deficiências na alimentação. Desse total, 💥️15,4 milhões enfrentaram insegurança alimentar grave — ou uma situação de fome.
Os dados da FAO para o Brasil englobam o período de 2023 a 2023. Os últimos números da instituição revelam uma piora alarmante da fome no Brasil. Entre 2014 e 2016, a insegurança alimentar atingiu 💥️37,5 milhões de pessoas — 💥️3,9 milhões estavam na condição grave.
💥️José Graziano da Silva, diretor do Instituto Fome Zero, afirmou que mudanças climáticas já são um problema e impactam cada vez mais a produção de alimentos.
“Alguns temas são importantes para destacar a reunião que acontece no Brasil em um momento histórico. De alguma maneira assumimos uma vergonha perante o público, diante de estarmos entre os maiores exportadores de comida do mundo e termos voltado ao mapa da fome”, afirmou Graziano.
Ele destacou que participou da criação do fórum, em 2015, e destacou a importância do apoio das prefeituras na iniciativa. E que estas devem também incorporar as áreas rurais e trabalhar com elas na produção doe alimentos na transformação da alimentação saudável.
Graziano afirmou ainda que a predominância de monoculturas e a falta de diversidade alimentar ajudam a empobrecer a alimentação, causando, inclusive, o aumento da obesidade registradas no planeta.
Segundo dados do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, divulgado em setembro pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Penssan), três milhões de moradores do Estado do Rio de Janeiro passam fome.
💥️Valber Frutuoso, da Fiocruz, destacou a necessidade de restauração dos ecossistemas alimentares e da discussão da ética de desenvolvimento segundo agências internacionais como a FAO.
“As mudanças demandam uma série de atuação. E ter sistemas alimentares sustentáveis envolve política de saúde, meio ambiente, transporte e energia”, disse Frutuoso.
Ele destacou a importância da preservação ambiental e da ciência na elaboração destes sistemas, ao lado das discussões entre os representantes das cidades e países.
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