Em Porto Alegre, Lula se solidariza com Seu Jorge: 'Temos que repudiar qualquer gesto de preconceito'

O candidato do PT ao Palácio do Planalto, Lula, durante entrevista coletiva em Porto Alegre (RS) — Foto: Reprodução/YouTube Lula 1 de 1 O candidato do PT ao Palácio do Planalto, Lula, durante entrevista coletiva em Porto Alegre (RS) — Foto: Reprodução/YouTube Lula

O candidato do PT ao Palácio do Planalto, Lula, durante entrevista coletiva em Porto Alegre (RS) — Foto: Reprodução/YouTube Lula

O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, prestou nesta quarta-feira (19) solidariedade ao músico Seu Jorge – que, na última sexta-feira (14), sofreu ataques racistas no final de um show em Porto Alegre (RS).

Lula se solidarizou com o cantor durante entrevista à imprensa na capital gaúcha, onde cumpre agenda de campanha nesta quarta-feira.

Seu Jorge se apresentou no Grêmio Náutico União, tradicional clube porto-alegrense. Segundo a delegada Andrea Mattos, titular da Delegacia de Polícia de Combate à Intolerância e responsável por investigar o caso, é possível ouvir, em um gravação, o momento em que alguém grita "macaco" e o instante em que pessoas começam a imitar o animal.

Durante entrevista à imprensa gaúcha, Lula foi questionado sobre o que pode ser feito para combater o racismo no país.

"Nós temos a Constituição que diz que o racismo é um crime inafiançável. O problema do preconceito no Brasil não é falta de lei. É uma questão que está na massa encefálica de uma sociedade que foi, durante 350 anos, escravista", disse o petista.

Para Lula, além da punição a quem comete crimes de racismo, o país precisa de ações culturais e educacionais para "acabar com o preconceito neste país".

"Precisamos vencer isso do ponto de vista cultural. Eu, quando presidente, estabeleci que a história africana deveria ser introduzida no ensino fundamental deste país para que a gente ensinasse a história da África porque somente assim a gente pode acabar com o preconceito. É preciso, de uma vez por todas, acabar com essa história de que negro é uma raça inferior. É preciso acabar. Isso precisa não de muita lei, mas muita cultura, muita educação e a gente vai aprender isso na formação dentro de casa e na escola", declarou o ex-presidente.

Ainda na fala à imprensa, Lula mencionou outro caso de racismo. Na última segunda-feira (17), o humorista Eddy Junior foi vítima de um ataque racista de uma vizinha do condomínio onde vive na Barra Funda, Zona Oeste de São Paulo. Eddy Junior relatou ter sido xingado de “macaco, imundo, feio, urubu e neguinho perigoso” ao tentar ingressar no elevador com a vizinha, que é branca.

“Nós todos precisamos manifestar porque a gente vai ter muita dificuldade neste país se permitir que, em pleno século 21, em 2022, a gente veja uma sociedade tomada pela tese do escravismo”, disse Lula.

Em outro compromisso de campanha na capital gaúcha, Lula voltou a mencionar os ataques sofridos por Seu Jorge e Eddy Junior. Ao lado da esposa, Rosângela da Silva, a Janja, e de lideranças do partido, em um trio elétrico nas proximidades do Palácio Piratini, 💥o petista pediu aos apoiadores que erguessem o punho fechado em protesto à violência sofrida pelos artistas.

O gesto se popularizou nos Estados Unidos com o movimento dos Panteras Negras e simboliza a luta contra o racismo.

“Nós não podemos aceitar o racismo de jeito nenhum. A escravidão acabou há muito tempo e nós não temos o direito de aceitar que alguém ainda pense, que alguém ainda queira, criar, quem sabe, uma maioria branca rejeitando o povo negro. Esse país é um país de iguais”, afirmou.

Para o ex-presidente, os ataques sofridos por Seu Jorge não representam o povo gaúcho. “Esse preconceito é de uma minoria que não sabe respeitar a democracia, de uma minoria que não tem respeito pelo trabalhador, pelos negros e pelos índios, quem sabe a mesma minoria que, durante tanto tempo, governo esse país com base na escravidão”, disse.

Antes da fala de Lula aos apoiadores nas redondezas do Piratini, a ex-presidente Dilma Rousseff afirmou, sem mencionar o presidente Jair Bolsonaro, que um “senhor que disputa a eleição” usou imagem de adolescentes de forma indevida e insinuou que elas estariam se prostituindo.

Ao lado de Dilma, a esposa do ex-presidente Lula e a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) vestiam camisetas de campanhas de combate à exploração de crianças e adolescentes.

Janja vestia uma camiseta com uma flor, símbolo da campanha nacional de mobilização de combate à violência sexual contra crianças e adolescentes. O mesmo símbolo estava em um broche usado por Lula em um debate com Bolsonaro no último domingo (16). A camiseta de Maria do Rosário trazia a estampa "Homem que é homem respeita os direitos da criança e do adolescente".

“Eu tive uma filha de 15 anos e sei o que que é a inocência de uma menina de 15 anos. [Ele insinuou] que elas estavam indevidamente lutando pela vida, ou seja, insinuando prostituição, quando adolescente e crianças jamais se prostituem porque são considerados, pela lei, vulneráveis. Eles são objetos de prostituição”, disse Dilma.

“Nós defendemos a família, nós não admitimos que crianças e adolescentes sejam tratados dessa forma”, afirmou.

No sábado (15), viralizou nas redes sociais um relato de Bolsonaro, feito durante uma live na sexta-feira (14), em que o presidente narra um passeio de moto que fez por uma cidade próxima de Brasília.

Bolsonaro conta que viu três ou quatro "menininhas bonitas, de 14, 15 anos". O presidente afirmou que "pintou um clima" e pediu para entrar na casa onde elas estavam. Bolsonaro disse ainda que elas estavam ali para "ganhar a vida".

Na entrevista, Lula voltou a defender uma nova discussão sobre as regras trabalhistas do país. Segundo ele, o objetivo não é revisar a reforma aprovada na gestão de Michel Temer (MDB), mas sim estabelecer normas discutidas com diversos setores da sociedade, a exemplo do que foi feito na contrarreforma trabalhista da Espanha. O petista também afirmou que a discussão deve abranger os trabalhadores de aplicativo.

Ao ser questionado, o candidato afirmou que não pretende assinar carta com compromissos direcionados ao agronegócio, setor alinhado ao presidente Jair Bolsonaro (PL). “Não é possível fazer uma campanha fazendo carta para cada setor da economia brasileira”, disse.

“Tenho muita tranquilidade de que qualquer oposição que o agro tenha ao PT ou a mim não é por conta de mau tratamento que eles tiveram quando fui governo ou quando a Dilma foi presidenta”, acrescentou.

Mais cedo, nesta quarta-feira, Lula se encontrou com lideranças evangélicas em São Paulo. Durante o encontro, foi divulgada uma carta do petista com compromissos com o eleitorado evangélico.

No documento, o ex-presidente critica o uso eleitoral da fé, defende a liberdade religiosa e reforça ser contra o aborto.

Lula também diz na carta que no, período que governou o Brasil (2003 - 2010), manteve o "mais absoluto" respeito à liberdade religiosa. E que nunca houve risco ao funcionamento das igrejas enquanto esteve à frente do país. Ele acrescentou que, se eleito, não vai criar "obstáculos" a templos religiosos.

O documento afirma ainda que é "um escândalo" o uso da fé para fins político-eleitorais. E o ex-presidente reforça que "pessoalmente" é contra o aborto, e que não cabe ao chefe do Executivo, mas ao Congresso decidir sobre mudanças na legislação sobre o tema.

A 10 dias do segundo turno da eleição presidencial, o candidato do PT tenta conquistar votos dentro do eleitorado evangélico. De acordo com as pesquisas, o presidente Jair Bolsonaro tem ampla maioria no segmento.

Levantamento feito pelo instituto Ipec divulgado na última segunda-feira (17) aponta que o candidato do PL à reeleição tem 60% das intenções de voto no eleitorado evangélico, enquanto Lula tem 32%.

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