União Europeia demonstra disposição de cooperar com governo pós-fascista da Itália
A recém-nomeada primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, aguarda a cerimônia de posse no Palácio Presidencial de Quirinale, em Roma, na Itália, em 22 de outubro de 2022 — Foto: REUTERS/Guglielmo Mangiapane
A União Europeia, inicialmente cautelosa com a chegada da extrema direita ao poder na Itália, disse estar disposta a "cooperar" com o governo pós-fascista de Giorgia Meloni, que prestou juramento na manhã de sábado (22) em Roma.
Em mensagem no Twitter, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, parabenizou Giorgia Meloni por sua nomeação como primeira-ministra, "a primeira mulher a conseguir o cargo", destacou a dirigente alemã. "Anseio por uma cooperação construtiva com o novo governo, diante dos desafios que temos que enfrentar juntos", acrescentou.
A cerimônia no Palácio Quirinal aconteceu na presença do presidente Sergio Mattarella e dos 24 ministros que formam a coalizão de direita e extrema direita vencedora das eleições legislativas de setembro.
"Vamos trabalhar juntos para o bem da Itália e da UE", escreveu o presidente do Conselho Europeu Charles Michel. "A Europa precisa da Itália. Juntos superaremos todas as dificuldades", acrescentou a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, em um tuíte escrito em italiano.
Para tranquilizar os mercados e os parceiros europeus, a líder do partido pós-fascista Irmãos da Itália nomeou representantes de perfil moderado nos dois principais ministérios do governo. O ex-presidente do Parlamento Europeu Antonio Tajani, membro da Força Itália, ocupará as funções de chanceler e vice-primeiro-ministro, cargo que dividirá com Matteo Salvini, que assume a pasta da Infraestrutura e Transportes. Na pasta da Economia, Giancarlo Giorgetti, ex-integrante do governo de Mario Draghi, é considerado um pró-europeu dentro da Liga, partido de Silvio Berlusconi.
A Itália é o primeiro beneficiário do plano de recuperação pós-pandemia da União Europeia, com 140 bilhões de euros de auxílio financeiro previstos nos próximos anos.
As principais capitais europeias, Berlim, Paris e Madri, não se manifestaram até o final da manhã. Já o primeiro-ministro ultraconservador da Hungria, Viktor Orban, foi um dos poucos líderes a felicitar Meloni, saudando "um grande dia para a direita europeia".
A extrema direita também comemorou: "Em toda a Europa, os patriotas estão chegando ao poder e, com eles, esta Europa de nações que desejamos", celebrou Marine Le Pen na França.
Meloni e seus 24 ministros – dos quais apenas seis são mulheres – "juraram respeitar a Constituição e as leis" perante o presidente Mattarella.
Também estavam presentes na cerimônia os amigos próximos e a família da primeira-ministra: seu companheiro de 41 anos, o jornalista Andrea Giambruno, e a filha de 6 anos, Ginevra.
A romana de 45 anos, que obteve uma vitória histórica nas eleições parlamentares italianas de 25 de setembro, conseguiu banalizar propostas xenófobas, racistas e ultraconservadoras, principalmente em relação aos imigrantes, e chegar ao poder exatamente um século depois do ditador Benito Mussolini, que ela declara admirar.
A transferência de cargo entre Draghi e Meloni acontecerá na manhã de domingo (23), no Palácio Chigi, sede do governo. Em seguida, ela irá presidir a primeira reunião do conselho de ministros. A nova chefe de governo e seus aliados de coalizão, o populista Matteo Salvini e o ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi, têm maioria absoluta tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado.
2 de 2 O presidente da Itália, Sergio Mattarella, cumprimenta a nova primeira-ministra, Giorgia Meloni, na cerimônia de posse no Palácio Presidencial de Quirinale, em Roma, na Itália, em 22 de outubro de 2022 — Foto: Paolo Giandotti/Presidência italiana via ReutersO presidente da Itália, Sergio Mattarella, cumprimenta a nova primeira-ministra, Giorgia Meloni, na cerimônia de posse no Palácio Presidencial de Quirinale, em Roma, na Itália, em 22 de outubro de 2022 — Foto: Paolo Giandotti/Presidência italiana via Reuters
Num período em que a terceira maior economia da zona do euro, assim como seus vizinhos do bloco, enfrentam uma situação econômica difícil devido à crise energética e à inflação, uma das prioridades de Meloni será assegurar a unidade de sua coalizão, que já mostra fissuras.
Salvini e Berlusconi resistem a aceitar a autoridade de Meloni, cujo partido obteve 26% dos votos nas eleições, contra apenas 8% para a Força Itália e 9% para a Liga. A imprensa italiana relatou disputas ferozes entre os três líderes pela distribuição de cargos no Parlamento e no governo.
Defensora do apoio europeu à Ucrânia contra a Rússia, Meloni enfrentou um constrangimento nesta semana, quando um áudio de Berlusconi vazado na imprensa local mostrou que o ex-premiê tinha reatado os laços com o líder russo, Vladimir Putin. Na gravação, Berlusconi diz que recebeu 20 garrafas de vodka de presente de aniversário de Putin e ainda culpou Kiev pela guerra. Em uma tentativa de desfazer o mal-estar, Meloni disse na quarta-feira (19) que a Itália "faz parte plenamente da Europa e da OTAN de cabeça erguida".
A nova chefe de governo terá muitos desafios pela frente, principalmente econômicos, a começar pela inflação e pela dívida colossal italiana, que representa 150% do produto interno bruto (PIB), a maior da zona do euro depois da Grécia. Num primeiro momento, Meloni deve adotar medidas duras contra os imigrantes e, em seguida, lançar ofensivas contra a legislação do aborto e os direitos de minorias LGBTQIA+.
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