Civis de Kherson são retirados aos poucos pelas forças russas: “Não sobrou nada nos supermercados"

Civis retirados da cidade de Kherson, controlada pela Rússia, cdeixam uma balsa para embarcar em um ônibus com destino à Crimeia, na cidade de Oleshky, em 23 de outubro de 2022 — Foto: REUTERS - ALEXANDER ERMOCHENKO 1 de 1 Civis retirados da cidade de Kherson, controlada pela Rússia, cdeixam uma balsa para embarcar em um ônibus com destino à Crimeia, na cidade de Oleshky, em 23 de outubro de 2022 — Foto: REUTERS - ALEXANDER ERMOCHENKO

Civis retirados da cidade de Kherson, controlada pela Rússia, cdeixam uma balsa para embarcar em um ônibus com destino à Crimeia, na cidade de Oleshky, em 23 de outubro de 2022 — Foto: REUTERS - ALEXANDER ERMOCHENKO

O clima é extremamente tenso nas regiões de Zaporíjia e Kherson, anexadas pela Rússia na Ucrânia. Em Kherson, desde a semana passada as autoridades pró-Moscou pedem aos civis para que se retirem para o outro lado da fronteira. Desde que as autoridades de ocupação pró-Rússia iniciaram as evacuações, em 19 de outubro, "mais de 70.000" civis deixaram suas casas "em uma semana" na região de Kherson, afirmaram os encarregados pró-Moscou, na quarta-feira (26).

Diante de um terminal de balsas às margens do rio Dnipro, soldados russos uniformizados organizam a saída dos moradores da região de Kherson. “A partir das 8 horas da manhã, as primeiras balsas chegam aqui vindas da margem direita", explica Dimitri Ershova, o chefe do grupo. "O ônibus chega no mesmo horário. Tudo está organizado em sincronia para que as pessoas esperem o mínimo possível. Elas entram nos ônibus e seguem em comboio para que, caso ocorra algum tipo de incidente, as consequências sejam minimizadas”, detalha o oficial.

Médicos e carregadores de bagagens foram enviados ao local pela Rússia, que investiu no acolhimento daqueles que concordam em ser retirados. Mas isso não parece tranquilizar os moradores.

“Tenho medo de que haja confronto e que a frente de batalha se mova de um lado para o outro", comenta Adam, enquanto sobe a bordo de uma balsa, acompanhado da mãe, em direção à Crimeia, região ucraniana anexada pela Rússia em 2014. "Estou certo de que nos próximos seis meses a situação não será nada estável”, desabafa.

Desde o início de setembro, o Exército ucraniano vem avançando gradualmente nesta região. A área foi anexada por Moscou no final do mesmo mês, mas ainda não é totalmente controlada pela Rússia.

As conquistas territoriais dos soldados ucranianos levaram, assim, as autoridades pró-Rússia a pedir à população civil que deixasse suas casas e cruzasse o rio Dnipro. Na quarta-feira, Vladimir Saldo, chefe da ocupação russa, também anunciou "a proibição de entrada na zona da margem direita da região por um período de sete dias" face à "situação tensa no fronte de batalha”.

No entanto, apesar do agravamento das condições de segurança, muitos ainda querem ficar na cidade onde têm tudo: suas casas, suas memórias, seus hábitos. Mesmo se a oferta de alimentos está se tornando escassa.

“Não sobrou nada nos supermercados, as prateleiras estão vazias. Você quer salsicha, carne, não há nada” diz um homem que pesca às margens do rio. Sem olhar para o ônibus que transporta os demais moradores, ele joga sua linha novamente no Dnipro, na esperança de encontrar comida.

"Tenho certeza de que mais de 70.000 (pessoas) partiram em uma semana desde que a travessia foi organizada" garante Vladimir Saldo em entrevista ao canal de TV local Krym 24.

O representante de Moscou cita o "perigo imediato de inundação dos territórios da região de Kherson e a destruição maciça de infraestrutura civil" por Kiev. Ele faz alusão a uma ameaça que vem sendo usada há dias para assustar os moradores: a possível explosão de uma barragem na região, que teria sido minada pelas forças ucranianas. 

Kiev também cogita essa hipótese, mas acusar Moscou de ter instalado minas na barragem de Kakhovka para provocar uma catástrofe. Se houver uma explosão, "mais de 80 localidades, entre elas Kherson, estarão na zona de inundação rápida", alertou o presidente ucraniano Volodimir Zelensky.

"Isso poderia destruir o abastecimento de água em grande parte do sul da Ucrânia e afetar o resfriamento dos reatores da central nuclear de Zaporíjia, que obtém sua água nesse lago artificial de 18 milhões de metros cúbicos", acrescentou Zelensky.

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