Funcionários terceirizados que trabalham em unidades de saúde em Caxias estão com salários atrasados

Funcionários que trabalham em unidades de saúde em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, estão com os salários atrasados. E isso já começa a ser refletir no atendimento para a população.

A empresa que está devendo os trabalhadores é uma das investigadas pela Polícia Federal num esquema de desvio de recursos públicos. Mas os repasses à empresa continuam acontecendo normalmente.

No Hospital Municipal Moacyr do Carmo, uma das maiores emergências da Baixada, pacientes sofrem com o atendimento precário. Na recepção lotada, uma mulher que chegou à unidade às 4h e seis horas depois ainda não tinha sido chamada

"Até agora não fui atendida, não fui chamada. Só manda esperar, esperar. Lá dentro está um formigueiro só", contou a paciente.

Enquanto pacientes esperam horas por atendimento, funcionários se esforçam para trabalhar sem salário.

"Nosso salário está atrasado desde o quinto dia útil, e o vale-alimentação. Eles não dão nenhuma informação sobre o nosso pagamento. A única coisa que eles depositaram foi a passagem, porque aí não tem como faltar", disse um funcionário.

A ambulante Valquíria dos Santos reclamou da falta de condições de atendimento do hospital.

"Estou passando mal, procurando exames, procurando saber o que a gente tem. Uma melhoria para nossa vida, né? E, quando chega aqui não tem recurso nenhum. Está horrível. O banheiro está sujo, está uma situação precária", disse a ambulante.

Técnicos de enfermagem e auxiliares de serviços gerais terceirizado estão sem salário, com as contas atrasadas. Uma funcionária que pediu para não ser identificada, escreveu um bilhete.

Ela conta que a empresa que está atrasando os salários é a Gaia Service, que fornece mão de obra ainda para outras duas unidades de saúde na cidade.

"Trabalho numa unidade de Duque de Caxias onde sou contratada pela empresa Gaia Service. Nosso pagamento não está sendo feito como no contrato. Até a data de hoje, não caiu até agora. E eles não dão uma posição pra gente", contou um funcionário.

A aposentada Maria Janaína conta que funcionários, mesmo sem receber o salário, são obrigados a trabalhar.

"Tem chefe de família, com crianças pequenas, que está precisando botar comida dentro de casa e não tem o seu dinheiro. E, às vezes, é obrigado a vir trabalhar porque senão eles demitem o pessoal", contou a aposentada.

Em setembro, uma operação policial cumpriu mandados de busca e apreensão na Gaia Service e em outras duas empresas contratadas pela Prefeitura de Duque de Caxias. A investigação apura um esquema milionário de desvio de dinheiro da saúde.

A Polícia Federal também fez buscas na casa do ex-prefeito Washington Reis. E afirma que Reis é quem garante a atuação da organização criminosa na cidade, chefiada pelo empresário Mário Peixoto, preso em 2023 na Operação Favorito.

Segundo a Polícia Federal, há indícios de favorecimento para a empresa Renacoop, que recebeu R$ 500 mil em pouco mais de dois anos para favorecer mão de obra para órgãos públicos.

A investigação aponta que a empresa é de Mário Peixoto e os contratos têm sobrepreço de mais de R$ 53 milhões. Além da Renacoop e da Gaia Service, a Cootrab, que também é ligada ao empresário, é contratada da Prefeitura de Caxias.

Mesmo depois da operação que expôs o esquema, o grupo continua recebendo dinheiro da prefeitura.

Desde o começo de setembro, quando a Polícia Fedeal cumpriu os mandados de busca e apreensão, o município empenhou quase R$ 40 milhões. Ou seja, reservou dinheiro para pagar as três empresas investigadas. As informações são do Portal da Transparência de Caxias.

Na decisão que autorizou a busca e apreensão, a juíza cita que a autoridade policial descobriu que, mesmo diante de sucessivas operações policiais, denúncias deo Ministério Público e também condenações, a organização criminosa não cessou as atividades.

Ao contrário, o volume de verbas do município de Caxias para empresas ligadas ao esquema investigado demonstraria a força política e econômica, e a certeza da impunidade do grupo.

A Prefeitura de Duque de Caxias disse que as contratações ocorreram por meio de licitação regular e que, considerando que são serviços essenciais, os contratos não podem ser interrompidos sem imediata substituição, sob risco de colapso da rede de saúde.

A prefeitura afirma ainda que adotou providências para substituir as empresas e que os processos licitatórios estão em andamento.

Sobre os salários atrasados, a prefeitura disse que os pagamentos serão feitos até sexta-feira (28), o que foi reforçado pela Gaia Service.

A defesa do empresário Mário Peixoto disse que as empresas citadas não pertencem a ele. E que a investigação tem fins políticos com objetivo de atingir o ex-prefeito Washington Reis.

A empresa Gaia Service, em nota, esclareceu que regularizou os salários e benefícios dos seus colaboradores. A empresa informou ainda que a referida operação da Polícia Federal não teve como alvo qualquer contrato da Gaia Service. Que a empresa busca exercer suas atividades regularmente e com as regras de compliance adotadas. E que há nenhuma decisão condenatória contra ela.

A empresa afirmou ainda que não há sobrepreço nos contratos e que eles foram devidamente licitados. E frisou que Mário Peixoto não faz parte de seu quadro societário.

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