Em carta, fiéis de paróquia na Zona Oeste do Rio fazem denúncias contra apoiadores de Bolsonaro
Apoiadores de Bolsonaro ocupam a praça na frente da igreja — Foto: Raoni Alves/g1
Há dias, um evento de campanha do presidente Jair Bolsonaro – marcado para esta quinta-feira (27) – vem mexendo com a rotina de párocos e fiéis da Paróquia Nossa Senhora do Desterro (Vicariato Episcopal Campo Grande, Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro), no centro do bairro de Campo Grande, na Zona Oeste do Rio.
Em uma carta aberta ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a "todas as pessoas de bom coração", eles denunciam ameaças de apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) contra a Igreja Matriz. Segundo paroquianos, uma comitiva de cerca de dez pessoas foi à igreja no último fim de semana tentando "a todo custo falar com o padre, que não estava em horário de atendimento".
Os bolsonaristas queriam negociar a montagem de uma base de apoio ao comício na igreja. Por causa da neutralidade partidária que a Igreja Matriz Nossa Senhora do Desterro defende, o pedido foi negado. E de acordo com os paroquianos, diante da negativa, começaram as intimidações.
Além disso, na carta, centenas de signatários relatam que, na quarta-feira (25), as grades e as árvores da Praça Dom João Esberard, que ficam em frente à igreja, foram derrubadas por apoiadores do presidente e candidato à reeleição.
Em nota, a Prefeitura "confirma que trechos da grade que circundam a Praça Dom João Esberard, da Paróquia Nossa Senhora do Desterro, em Campo Grande, foram retirados, sem o conhecimento e a necessária autorização da Prefeitura, o que pode configurar dano ao patrimônio municipal, na forma do artigo 163 do Código Penal".
A prefeitura diz que vai comunicar o fato às autoridades policiais "para que sejam apuradas as devidas responsabilidades" e afirmou que não recebeu pedido algum, nem mesmo para a realização do referido comício: "Não foi pedido para montar evento, fechar rua, abrir rua, não teve pedido nenhum".
Pelo Twitter, o prefeito Eduardo Paes disse que os responsáveis pela retirada da grade serão identificados.
"Se tivessem pedido autorização para retirar as grades, teriam tido desde que recolocassem depois. Nós somos democratas e respeitamos a livre manifestação. Mesmo sendo a primeira visita do Bolsonaro como presidente a Zona Oeste (vai ser a última tb), aonde ele não fez NADA! Claro que vamos buscar identificar quem levou as grades. Não custa lembrar o que diz o código penal. Civilidade e respeito às regras não fazem mal a ninguém. Mas é o estilo deles: vão atropelando. Mas tá acabando."
Na continuação da carta, os signatários relatam assédio moral aos religiosos que são responsáveis pela Igreja Matriz e que moram lá.
"Os três clérigos católicos a que nos referimos estão acuados, com receio da não-garantia do seu direito de 'ir e vir' livremente, como consta na nossa Carta Constitucional de 1988. Funcionários da Igreja Matriz também estão sendo hostilizados. Estão erroneamente associando o nome da organização religiosa ao comício eleitoral, sendo que não houve nenhum apoio por parte dos religiosos da Paróquia, sobretudo do pároco (autoridade eclesial local), ou da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro (autoridade eclesial superior)".
Segundo paroquianos, os clérigos estão "encurralados".
Os religiosos criticam ainda a instrumentalização da fé, a limitação da realização segura de atividades da Comunidade Eclesial, o uso político-partidário indevido do credo religioso e o desrespeito aos princípios doutrinais.
"Enquanto a candidatura do sr. Jair Messias Bolsonaro alega constantemente que seu adversário político vai promover o 'fechamento de igrejas', é efetivamente a ação de sua campanha eleitoral, que aqui denunciamos, que acarretou fechamento temporário do templo religioso, que existe há quase 270 anos e se localiza na região central do bairro de Campo Grande, na cidade do Rio de Janeiro (RJ)."
Depois de prestar solidariedade aos "irmãos de fé e clérigos", a carta-denúncia é finalizada com a afirmação de que "igreja não é palanque".
De acordo com paroquianos e fiéis, todas as atividades foram suspensas desde segunda-feira, inclusive as missas e as aulas de um curso pré-vestibular que funciona há mais de uma década na igreja.
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