Djonga toca em feridas sociais ao marcar posição e território no álbum 'O dono do lugar'
Capa do álbum 'O dono do lugar', de Djonga — Foto: Coniiin
Resenha de álbum
Título: 💥️
Artista: 💥️Djonga
Edição: A Quadrilha
Cotação: ★ ★ ★ ★
♪ No sexto álbum, 💥️, Djonga continua basicamente afiando rimas que narram histórias da área e da vida desse rapper mineiro que começou a se fazer ouvir há cinco anos com o lançamento do primeiro álbum, 💥️ (2017), e desde então vem marcando posição firme no universo do hip hop do Brasil.
Só que, desta vez, um dos alvos da artilharia vocal do artista é a indústria da música, habituada a moer ídolos e ideologias na máquina de fazer sucesso e dinheiro. Não por acaso, Djonga personifica Dom Quixote, na luta contra os moinhos de vento, na expressiva foto estampada na capa do disco lançado em 13 de outubro pelo do artista, A quadrilha.
No caso, os inimigos – não somente a indústria da música ávida do hit viral, mas sobretudo o racismo enraizado na sociedade brasileira – são reais e enquadrados por Djonga no disco sob a perspectiva de um homem preto que ascendeu socialmente sem perder de vista o mundo de onde veio e pelo qual luta em busca de justiça social e racial.
, ressalta o rapper em versos de 💥️, marcando o mesmo território dos discos anteriores na faixa produzida por Coyote Beatz.
Com 12 músicas calcadas no rap, aditivado com toques eventuais de funk e trap, o álbum 💥️flagra Djonga mais altivo e menos angustiado do que no disco antecessor, 💥️ (2021), retrato da introspecção do artista em tempos pandêmicos.
E, se os temas se repetem ao longo do disco, é porque os problemas do homem negro e periférico também se repetem no cotidiano.
As três primeiras músicas – 💥️, 💥️ e 💥️, faixas feitas respectivamente com Coyote Beatz, com Rapaz do Dread e com Vulgo FK (e com o mesmo Rapaz do Dread) – põem logo as cartas de Djonga na mesa e se impõem como as mais potentes do álbum pela sincronia entre beats e versos.
3 de 3 Contracapa do álbum 'O dono do lugar', de Djonga — Foto: ConiiinContracapa do álbum 'O dono do lugar', de Djonga — Foto: Coniiin
À medida em que o disco avança, Djonga apresenta faixas com colaborações com nomes com o rapper Oruam (💥️), Sarah Guedes (💥️) e a dupla Tasha & Tracie (💥️) sem perder a contundência do discurso realista, calcado na vivência do artista.
Já o som, ainda que centrado nos beats de Coyote, passa a incorporar os toques de baixo, guitarra e teclados (a cargo do músico Thiago Braga), dando molde mais orgânico ao disco.
Dentre as letras do álbum 💥️, a que tem causado mais reações é a de 💥️, em cuja narrativa o rapper expõe a mulher branca como agente da violência dirigida ao homem negro após diálogo em que ambos relatos abusos sofridos na sociedade opressora.
Sem medo de dizer o que pensa, Djonga é um artista que tem mantido a voz levantada na luta contra o racismo dessa sociedade que tenta calar homens negros ao mesmo tempo em que incentiva a masculinidade nociva de homens negros e brancos, assunto dos versos do rap 💥️.
Sob tal prisma, o álbum 💥️ pode soar incômodo por tocar mais uma vez em feridas sociais expostas pelo rapper de forma às vezes até repetitiva, mas ainda (muito) necessária no Brasil de 2022.
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