Eleições em Israel: como avanço da direita radical pode trazer Netanyahu de volta ao poder
"Estamos perto de uma grande vitória", disse Netanyahu em Jerusalém. — Foto: Getty Images via BBC
O ex-primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu deve voltar ao poder em Israel, depois que resultados parciais indicarem que ele está a caminho de conquistar a maioria no Parlamento com a ajuda da extrema direita.
"Estamos perto de uma grande vitória", disse ele a apoiadores em Jerusalém.
No entanto, Netanyahu dependerá do apoio do partido ultranacionalista Sionismo Religioso.
Seus líderes, Itamar Ben-Gvir e Bezalel Smotrich, ganharam notoriedade por usar a retórica antiárabe e defender a deportação de políticos ou civis árabes "desleais".
Ben-Gvir era um seguidor do falecido, explicitamente racista e ultranacionalista Meir Kahane, cuja organização foi banida em Israel e designada como grupo terrorista pelos Estados Unidos. O próprio Ben-Gvir foi condenado por incitamento ao racismo e apoio a uma organização terrorista.
No mês passado, Ben-Gvir ganhou as manchetes quando foi filmado sacando uma arma depois de ser atingido por uma pedra atirada por palestinos enquanto visitava uma área predominantemente árabe de Jerusalém Oriental ocupada. Na ocasião, ele pediu que a polícia atirasse nos culpados.
Falando a jornalistas nesta quarta-feira, Ben-Gvir prometeu "trabalhar para toda Israel, mesmo aqueles que me odeiam".
Netanyahu, acompanhado por sua esposa Sara, apareceu na sede de seu partido, o Likud, às 3h (22h de terça-feira em Brasília) nesta quarta-feira sob aplausos estrondosos.
"Ganhamos um enorme voto de confiança do povo de Israel", disse ele a seus apoiadores.
Desde que as pesquisas de boca de urna foram anunciadas horas antes, quando a votação terminou, a sala se tornou um cenário de celebração, com as pessoas pulando para cima e para baixo, agitando bandeiras e entoando o apelido de Netanyahu, Bibi.
Um homem tocou repetidamente um shofar, ou chifre de carneiro, instrumento ritual usado por alguns judeus em momentos de especial significado.
Na sede de seu partido em Tel Aviv, no entanto, o primeiro-ministro Lapid disse a seus apoiadores que "nada" ainda estava decidido e seu partido de centro-esquerda, Yesh Atid, esperaria pelos resultados finais.
Netanyahu, de 73 anos, é uma das figuras políticas mais controversas de Israel, odiado por muitos no centro e na esquerda, mas adorado pelos partidários de base do Likud.
Ele é um firme defensor da construção de assentamentos de Israel na Cisjordânia, ocupada desde a guerra de 1967 no Oriente Médio. Os assentamentos lá são considerados ilegais sob a lei internacional, embora Israel conteste isso.
Ele se opõe à criação de um Estado palestino na Cisjordânia e na Faixa de Gaza como solução para o conflito israelo-palestino — uma fórmula apoiada pela maior parte da comunidade internacional, incluindo o governo Biden nos EUA.
Netanyahu também está sendo julgado por supostos subornos, fraudes e violação de confiança — acusações que ele nega veementemente. Seus possíveis parceiros em um governo de coalizão liderado pelo Likud disseram que reformariam a lei, em uma medida que interromperia seu julgamento.
Segundo as pesquisas de boca de urna, o Likud deve ser o maior partido, com 30 a 31 assentos, comandando a maioria com o apoio de partidos nacionalistas e religiosos.
Yesh Atid, que liderou a coalizão que derrubou Netanyahu nas eleições do ano passado, deve ganhar de 22 a 24 cadeiras.
O Partido Sionismo Religioso parece ter conquistado 14 cadeiras, o que o tornaria o terceiro maior partido.
"Vai ser melhor agora", disse um apoiador, Julian, no local da festa em Jerusalém.
"Quando [o político do Partido Sionismo Religioso Itamar Ben-Gvir] for ministro da segurança pública, será ainda melhor — ele trará de volta a segurança ao povo de Israel. Isso é muito importante."
No entanto, o cientista político Gayil Talshir, da Universidade Hebraica de Jerusalém, alertou que, se as pesquisas de boca de urna "refletirem os resultados reais, Israel está a caminho de se tornar a Hungria de Orbán", recentemente rotulada de "autocracia eleitoral" pela União Europeia.
Isso marcaria uma reviravolta notável para Netanyahu, cujo futuro político foi amplamente anulado depois que Lapid formou uma improvável aliança de partidos ideologicamente diversos para assumir o poder em junho de 2023, com o objetivo unificado de tornar impossível para Netanyahu formar um governo.
Na época, Netanyahu prometeu derrubá-lo o mais rápido possível e, um ano depois, o governo de coalizão concluiu que não poderia sobreviver e entrou em colapso depois que as renúncias significaram que não tinha mais a maioria.
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