Petrobras 'não fez nada diferente do que faz todo trimestre', diz diretor ao justificar pagamento de dividendos

Rodrigo Araujo Alves, diretor financeiro e de relacionamento com investidores da Petrobras durante coletiva de imprensa, realizada na tarde de 4 de novembro de 2022, para apresentação dos resultados financeiros da estatal. — Foto: Reprodução 1 de 1 Rodrigo Araujo Alves, diretor financeiro e de relacionamento com investidores da Petrobras durante coletiva de imprensa, realizada na tarde de 4 de novembro de 2022, para apresentação dos resultados financeiros da estatal. — Foto: Reprodução

Rodrigo Araujo Alves, diretor financeiro e de relacionamento com investidores da Petrobras durante coletiva de imprensa, realizada na tarde de 4 de novembro de 2022, para apresentação dos resultados financeiros da estatal. — Foto: Reprodução

O diretor financeiro e de relacionamento com investidores da Petrobras, Rodrigo Araujo Alves, afirmou, na tarde desta sexta-feira (4) que a antecipação do pagamento de R$ 43,7 bilhões em dividendos aos acionistas está "completamente dentro do que prevê a política de remuneração" da estatal.

"A companhia não fez nada diferente do que faz todo trimestre, que é olhar para o resultado do trimestre que passou e calcular sua fórmula de 60% do caixa livre", disse o executivo durante coletiva de imprensa para apresentação dos resultados financeiros da Petrobras no terceiro trimestre deste ano, divulgados na véspera.

Alves falou sobre o tema ao ser questionado sobre uma representação feita pelo Ministério Público do Tribunal de Contas da União (TCU) para que a estatal suspenda o pagamento anunciado.

Em nota enviada posteriormente, a Petrobras afirmou que "se coloca à disposição do Tribunal para prestar todas as informações, em linha com o que já foi feito em representação semelhante, referente ao pagamento de dividendos do 2º trimestre de 2022. Na ocasião, o Tribunal não identificou a necessidade de concessão de medida cautelar".

De acordo com a Reuters, o pedido para suspender a antecipação desta rodada de distribuição de dividendos foi feito pelo subprocurador-geral do MP Lucas Rocha Furtado, que alegou a necessidade de se conhecer e avaliar se há risco à sustentabilidade financeira da estatal diante possível esvaziamento da disponibilidade de caixa.

Esta é a terceira rodada de distribuição de dividendos da Petrobras este ano. Até setembro, a companhia havia distribuído R$ 173 bilhões em dividendos aos acionistas. Com o pagamento de mais R$ 43,7 bilhões, o valor total de remuneração aos acionistas este ano somará R$ 217 bilhões, três vezes mais que o montante pago em 2023.

Dos R$ 217 milhões, cerca de R$ 62 bilhões ficará com o governo federal, já que a União é acionista majoritária da estatal e detém 28,7% das ações da companhia.

Na mesma coletiva de imprensa, o diretor financeiro e de relacionamento com investidores da Petrobras, Rodrigo Araujo Alves afirmou que o resultado do terceiro trimestre deste ano corresponde ao "melhor resultado da história da companhia", ficando atrás somente do obtido no trimestre anterior.

Segundo anúncio feito nesta quinta-feira (3), a Petrobras registrou lucro líquido de R$ 46,096 bilhões no terceiro trimestre, 15,2% a menos que o lucro alcançado no trimestre anterior, de R$ 54,330 bilhões.

Segundo o diretor, o indicador que mede a capacidade de geração de caixa para pagar juros da dívida da estatal já foi superior a um trimestre e que atualmente é de 14 dias.

Segundo a petroleira, o resultado menor nessa comparação é explicado principalmente pela desvalorização do petróleo Brent, além de ausência de ganho de R$ 14,2 bilhões referente ao acordo de coparticipação em Sépia e Atapu ocorrido no segundo trimestre.

Ainda assim, os resultados da empresa estão muito acima da média. No primeiro semestre, a empresa chegou a um lucro acumulado de quase R$ 100 bilhões. Os R$ 98,891 representam alta de 124,6% em relação a igual período de 2023.

A decisão da Petrobras de antecipar os dividendos irritou o futuro governo Lula (PT), que começou a organizar a transição nesta semana. A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, criticou a decisão da empresa e disse que ela visa pagar parte da gastança eleitoral do governo neste ano eleitoral.

"Isso é uma irresponsabilidade com a empresa e com o país. É a farra do [ministro da Economia] Paulo Guedes, para cobrir os gastos eleitorais do governo Bolsonaro", afirmou a presidente do PT, que integra a equipe de transição.

Integrantes da comissão acusam ainda a estatal, comandada por Caio Paes de Andrade, de segurar o aumento dos combustíveis durante o período eleitoral para não prejudicar o presidente Jair Bolsonaro.

Segundo eles, a Petrobras já teria de aumentar o preço da gasolina e do diesel desde o início do segundo turno, mas decidiu segurar o reajuste por uma questão política.

Mas os lucros da petroleira não foram alvo exclusivo dos petistas. Em março, em meio à crise de valorização dos combustíveis, o presidente Jair Bolsonaro disse que a Petrobras registra "lucro absurdo" em um "momento atípico no mundo" e que ficou insatisfeito com os reajustes nos preços dos combustíveis anunciados pela empresa.

"Olha só, eu tenho uma política de não interferir. Sabemos das obrigações legais da Petrobras e, para mim, particularmente falando, é um lucro absurdo que a Petrobras tem num momento atípico no mundo. Então, não é uma questão apenas interna nossa", disse Bolsonaro, em março.

Meses depois, o presidente fez apelos para que a Petrobras não voltasse a aumentar o preço dos combustíveis no Brasil. Aos gritos, durante uma transmissão ao vivo por redes sociais, o presidente afirmou que os lucros registrados recentemente pela empresa são "um estupro", beneficiam estrangeiros e quem paga a conta é a população brasileira.

Desde o início do governo Bolsonaro, em janeiro de 2023, a Petrobras teve cinco presidentes, incluindo o interino, Fernando Borges. O atual é Caio Paes de Andrade, que foi aprovado pelo conselho da estatal em junho.

A estatal também foi presidida por José Mauro Coelho, pelo general Joaquim Silva e Luna e pelo economista Roberto Castello Branco. Todos caíram em situações em que o governo fez trocas sistemáticas de presidentes da Petrobras com base num discurso de insatisfação com a alta dos preços dos combustíveis.

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