Proporção de pretos e pardos entre os pobres chega ao dobro em relação aos brancos, mostra o IBGE
Com índice de pobreza em 46%, Roraima tem moradores que dependem da ajuda de ONGs para se alimentar — Foto: Divulgação/Visão Mundial
Pesquisa do IBGE divulgada nesta sexta-feira (11) mostra que, em 2023, considerando-se a linha de pobreza monetária proposta pelo Banco Mundial, a proporção de pessoas pobres no país era de 18,6% entre os brancos e praticamente o dobro entre os pretos (34,5%) e entre os pardos (38,4%). Os dados são do estudo Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil.
“As populações preta e parda representam 9,1% e 47% da população brasileira, respectivamente. Mas, nos indicadores que refletem melhores níveis de condições de vida, a participação dessas populações é mais baixa”, diz o analista do IBGE João Hallak.
Na taxa de pobreza, o IBGE considerou a linha de U$$ 5,50 diários (ou R$ 486 mensais per capita). Na linha da extrema pobreza, (US$ 1,90 diários ou R$ 168 mensais per capita), as taxas foram de 5% para brancos, contra 9% dos pretos e 11,4% dos pardos.
O levantamento mostra ainda que, em 2023, a taxa de desocupação também era maior entre os pretos e pardos. Enquanto entre a população branca era de 11,3%, para a preta ficou em 16,5% e para a parda, em 16,2%.
A taxa de subutilização era de 22,5% entre os brancos, enquanto era de 32% entre os pretos e 33,4% entre os pardos.
“A taxa composta de subutilização considera, além da desocupação, a população subocupada por insuficiência de horas trabalhadas e quem estava na força de trabalho potencial. Entre os brancos, essa taxa era inferior às das populações preta e parda, e isso não muda conforme o nível de instrução. A distância varia um pouco, mas em todos os níveis de instrução a população branca tem uma taxa de subutilização inferior à da preta ou parda”, diz Hallak.
Enquanto os brancos representavam 43,8% da força de trabalho (soma de ocupados e desocupados), os pretos eram 10,2% e os pardos, 45%. Mas os percentuais de pretos e pardos são mais altos entre os desocupados: 12% e 52%, respectivamente. Já os brancos eram 35,2% dos desocupados em 2023.
“Esse indicador já mostra uma desvantagem dessas populações na inserção no mercado de trabalho. As proporções das populações preta ou parda entre os desocupados e subutilizados são maiores do que elas representam na força de trabalho”, destaca Hallak.
A informalidade também atinge mais pretos e pardos do que brancos. Em 2023, a taxa entre a população ocupada ficou em 40,1%, sendo 32,7% para os brancos, 43,4% para os pretos e 47% para os pardos.
Já o rendimento médio dos trabalhadores brancos (R$ 3.099) superava o de pretos (R$ 1.764) e pardos (R$ 1.814) em 2023.
Por hora, no ano passado, o rendimento médio dos ocupados brancos era de R$ 19. Já para os pretos era de R$ 10,9, e para os pardos, de R$ 11,3.
O estudo aponta que os rendimentos são maiores entre aqueles que têm maiores níveis de instrução, mas as diferenças por cor ou raça permanecem nesse recorte. As pessoas brancas com ensino superior completo ou mais ganharam em média 50% a mais do que as pretas e cerca de 40% a mais do que as pardas.
Levando em conta o rendimento de todas as fontes, incluindo trabalho, aposentadoria e pensão, o rendimento médio domiciliar per capita da população branca, de R$ 1.866, era quase o dobro do verificado entre a população preta (R$ 964) e parda (R$ 945), diferença que se mantém desde o início da série histórica, em 2012, aponta o IBGE.
Os rendimentos foram os mais baixos da série, com maior queda entre os pretos (-8,9%) e pardos (-8,6%). Entre os brancos, a redução de rendimento frente ao ano anterior foi de 6%.
Além disso, mais da metade (53,8%) dos trabalhadores do país em 2023 eram pretos ou pardos, mas esses grupos, somados, ocupavam apenas 29,5% dos cargos gerenciais, enquanto os brancos ocupavam 69% deles.
Na classe de rendimento mais elevada, somente 14,6% dos ocupados nesses cargos eram pretos ou pardos, enquanto entre os brancos essa proporção era de 84,4%.
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