Prestes a deixar a Economia, Guedes defende gestão, ataca Lula e diz que fome já existia no país
A 45 dias do fim de sua gestão, o ministro da Economia, Paulo Guedes, colocou em dúvida o número de brasileiros sem ter o que comer no país, defendeu as políticas econômicas adotadas ao longo dos últimos anos e atacou o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A declaração de Guedes foi dada nesta sexta-feira (18) durante um evento em comemoração aos 30 anos da Secretaria de Política Econômica (SPE).
Apesar da fala de Guedes, dados recentes mostram que o Brasil soma atualmente cerca de 33,1 milhões de pessoas sem ter o que comer diariamente, quase o dobro do contingente em situação de fome estimado em 2023.
O levantamento foi realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN).
Em seu discurso, Paulo Guedes elevou o tom e fez ataques contra Lula.
As críticas de Guedes ocorreram enquanto o ministro discutia sobre os índices da fome no Brasil. Ele disse ainda que se o governo eleito "fizer menos barulho, trabalhar um pouquinho mais com a cabeça e menos com a mentira, talvez possa ser um bom governo"
Durante a campanha eleitoral e em discursos recentes, o presidente eleito tem reforçado que a prioridade de sua gestão será o combate à fome.
Em um pronunciamento na COP-27 na quarta-feira (16), Lula propôs uma aliança global para combater a fome em todo o mundo.
"Este é um desafio que se impõe a nós brasileiros e aos demais países produtores de alimentos. Por isso, estamos propondo uma aliança mundial pela segurança alimentar, pelo fim da fome e pela redução das desigualdades, com total responsabilidade climática", disse Lula no discurso.
O ministro da Economia também reconheceu que, sob o comando da pasta, pode ter falado besteira em algum dia.
Falas polêmicas do ministro ganharam repercussão nos últimos anos.
No início de 2023, Guedes afirmou que o dólar mais baixo permitia empregadas domésticas irem à Disney, nos Estados Unidos. O ministro acrescentou que a alta do dólar faria "todo mundo conhecer o Brasil".
"Não tem negócio de câmbio a R$ 1,80. Vou exportar menos, substituição de importações, turismo, todo mundo indo para a Disneylândia. Empregada doméstica indo pra Disneylândia, uma festa danada."
Em 2023, o ministro da Economia disse que o Fies, programa federal para estudantes de baixa renda financiarem mensalidades do ensino superior, é "bolsa para todo mundo" e "um desastre".
Guedes contou de forma anedótica que "o filho do porteiro do prédio" tirou zero em todas as provas e conseguiu financiamento.
"Teve uma bolsa do governo, o Fies, uma bolsa pra todo mundo. [...] O porteiro do meu prédio virou pra mim e falou: 'Eu tô muito preocupado'. Eu disse: 'O que houve?' Ele disse: 'Meu filho passou na universidade'. Eu: 'Ué, mas você não tá feliz por quê? Ele: '[Meu filho] tirou 0 na prova. Tirou 0 em todas as provas. Recebi um negócio financiado escrito 'parabéns seu filho tirou...' Aí tinha um espaço pra preencher... e lá 0. Seu filho tirou 0 e acaba de se ingressar na nossa escola. Estamos muito felizes."
Mais recentemente, Paulo Guedes cometeu um deslize ao comentar a promessa de campanha do governo Bolsonaro de aumentar a faixa de isenção da tabela do Imposto de Renda.
Questionado sobre a promessa de isentar do imposto os trabalhadores com renda de até R$ 6 mil mensais – acima dos R$ 5 mil prometidos pelo ex-presidente Lula – o ministro da Economia afirmou que o governo Bolsonaro 'rouba menos'.
"Eu, se fosse o Bolsonaro, diria: tudo o que o Lula fizer, eu faço mais. Por quê? Porque nós roubamos menos", afirmou. E se corrigiu imediatamente em seguida: "Nós não roubamos".
Paulo Guedes aproveitou o evento para destacar sua atuação à frente do Ministério da Economia no governo de Jair Bolsonaro (PL).
O próximo ministro da Economia terá de lidar com o aumento da pobreza e da taxa de inadimplência. Em 13,75% ao ano, os juros básicos da economia estão no maior patamar em seis anos – mas economistas esperam uma pequena redução em 2023 (para 11% ao ano).
Depois de crescer 4,6% em 2023, a economia brasileira, em linha com o que acontece no resto do mundo, está desacelerando neste ano. A previsão de analistas é de que o ritmo mais lento se repita em 2023.
Durante participação no evento desta sexta, Paulo Guedes criticou a falta de definição quanto à fonte de custeio para as despesas listadas na sugestão de texto para a proposta de emenda à Constituição (PEC) da Transição.
“[...] Esse auxílio pode ser aumentado? Pode, com (...) fonte permanente para financiar isso."
Sem citar nominalmente a PEC, o chefe da Assessoria Especial de Estudos Econômicos do Ministério da Economia, Rogerio Boueri, defendeu que o desenvolvimento social depende da responsabilidade fiscal.
“O que pode comprometer o desenvolvimento social do país é nós perdermos o rumo na política fiscal, começarmos a não conseguir mais rolar nossa dívida a taxas aceitáveis e, cada vez mais, descarrilar a economia brasileira”, disse Boueri.
Para permitir o pagamento do Auxílio Brasil (que voltará a se chamar Bolsa Família) no valor de R$ 600 a partir de janeiro, o governo eleito enviou ao Congresso Nacional uma sugestão de PEC para tirar da regra do teto de gastos a despesa com o benefício.
Ao g1, o senador eleito Wellington Dias (PT-PI), responsável pelo orçamento de 2023 na equipe de transição, afirmou que caberá ao Congresso Nacional criar eventuais compensações para o aumento de gastos previsto na PEC.
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