'Exclui o acesso a terras': autor de 'Torto arado' explica o racismo fundiário em entrevista ao

O 💥️g1 conversou com o autor do livro premiado "Torto Arado", Itamar Vieira Junior, sobre a diferença entre o número de propriedades rurais entre brancos e negros e a disparidade no tamanho delas. 💥️Confira no vídeo acima.

A obra do escritor baiano foi vencedora do Prêmio Jabuti, um dos mais importantes reconhecimentos literários do Brasil, na categoria romance literário, em 2023. E por muitas semanas figurou na lista dos livros mais vendidos.

Ela conta a história de escravizados e seus descendentes, que cultivavam a terra do patrão sem direito à propriedade. Vieira Júnior é também servidor público no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e se especializou em comunidades quilombolas.

Para Vieira Junior, esses dados são explicados pela história de escravidão no Brasil e como se institui a propriedade privada no país. Em 1850, ocorre a primeira tentativa do Estado de regulamentar esse tema, a 💥️Lei de Terras.

Com a lei, os territórios do Estado só poderiam ser adquiridos por compra e venda ou por doação da Coroa, ficando proibida a posse por usucapião - quando a propriedade é concedida devido ao tempo de ocupação.

"Então ali você já exclui grande parte da população que não poderia comprá-la [a terra]. E quem é que não poderia comprá-la em 1850? A população escravizada. Se você exclui desde aquele momento a possibilidade dessas pessoas de terem acesso à Terra, ali já se estrutura um racismo fundiário", explica o autor.

Capa do romance 'Torto arado' — Foto: Divulgação 1 de 1 Capa do romance 'Torto arado' — Foto: Divulgação

Capa do romance 'Torto arado' — Foto: Divulgação

Além das dificuldades para adquirir a posse do território, falta tecnologia e investimento para que comunidades quilombolas possam entrar no mercado de grandes produções, ficando restritos à agricultura familiar e de subsistência, aponta Vieira Junior.

Ainda assim, a produção nem sempre pode ficar nas mãos de quem a plantou.

"Meu pai foi criado em uma comunidade de ascendência afro-indígena até os 15 anos, no Recôncavo Baiano e ele foi criado pelos avós paternos dele", conta.

Esse cenário é retratado no livro "Torto Arado", em que as protagonistas Bibiana e Belonísia vivem em uma comunidade que também deve dar a meia para os donos do território.

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