Estudante relata que não conseguiu sair do Jacarezinho para fazer o Enem devido aos tiroteios
Policiais reforçam patrulhamento no Jacarezinho no sábado (19) — Foto: Reprodução
Estudantes que moram no Jacarezinho e Manguinhos, que sofreram com tiroteios e ações policiais por três dias seguidos, enfrentaram problemas para fazer a prova do Enem no último domingo (20). Um deles, ouvido pelo 💥️g1, contou que não conseguiu sair de casa para fazer o exame.
Outro relatou que escutou os tiros durante o exame, fez a prova "correndo" para não voltar à noite para a região, e que a preocupação com seus familiares pode ter afetado sua nota.
Um candidato de 20 anos, que não quis ser identificado, contou que estava triste por não ter feito a prova, mas que não conseguiu sair de casa por questões de segurança. Ele iria tentar a faculdade de administração.
“Foi uma prova que eu planejava há meses, mas não pude fazer comparecer devido a essa guerra. Até pensei em sair, mas o tiro saía e voltava. No Jacaré estava dando tiro, no Manguinhos também, então de nada ia adiantar”, disse o jovem, que faria a prova na Escola Municipal Estado da Guanabara, que fica próxima à favela do Manguinhos.
Ele relatou ainda que os tiroteios desde sexta-feira afetaram seu trabalho e os momentos em que poderia estar descansando antes da prova, em casa.
“Na própria sexta-feira, eu avisei meu chefe que não iria para o trabalho devido aos tiros. Depois, consegui sair, mas voltei muito rápido para casa. No sábado, fiquei em casa, ouvindo os tiros, e domingo eu já acordei com os tiros”, lamentou.
Outro morador do Jacarezinho, de 27 anos, contou que saiu de casa às 10h de domingo para não correr risco de não entrar no local de prova. Antes e durante o exame, os disparos não cessaram.
"Como é próximo (do Jacarezinho), eu consegui escutar a troca de tiros, durante a prova e antes de abrir os portões. Diversas vezes a gente escutou disparos próximos”, comentou ele.
2 de 2 Caveirões no Jacarezinho na última sexta-feira (18) — Foto: ReproduçãoCaveirões no Jacarezinho na última sexta-feira (18) — Foto: Reprodução
O horário da prova era das 13h às 18h30. O candidato, no entanto, preferiu não correr o risco de voltar à noite para casa. Saiu do local do exame às 17h.
“Eu tive que correr para fazer a prova também porque não queria entrar na favela tarde da noite”, disse ele. Os tiros e a preocupação com os familiares, segundo ele, atrapalharam muito na sua futura nota.
"Você entra em uma sala em silêncio, tenta focar nas questões e acaba sempre remetendo ao que acontece do lado de fora, não tem como se desligar do que acontece do lado de fora", finalizou.
Apesar de receber o programa de segurança pública Cidade Integrada, os confrontos seguem constantes, segundo moradores.
A polícia afirma ainda que “os recentes ataques criminosos podem ser considerados como tentativas de desestabilizar as ações da Polícia Militar no terreno, as quais vêm causando prejuízos financeiros aos grupos criminosos com influência local”.
Um dos coordenadores do coletivo responsável pelo Pré-Vestibular Popular Construção, sediado em Manguinhos há 20 anos, comentou com o g1 que, além dos problemas com a saúde e segurança dos estudantes, quem conseguiu fazer a prova ficou sobrecarregado:
"A questão foi como isso acarretou nas questões psicológicas desses estudantes. Em quais condições ele vai realizar essa prova? Não tem só o fator de ir e vir, tem esses fatores emocionais que devem ser levados em consideração"
"A gente enfrenta dias em que não há possibilidades de ter aula. Não envolve só o dia de ontem da prova do Enem, tem outros dias que tem operação nos quais os estudantes não conseguem se deslocar para o pré, para essa preparação", lamentou.
Segundo esse professor, não foi contabilizada a quantidade de estudantes que faria a prova do Enem e foi prejudicada com os tiroteios.
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