Polícia na rua, censura na internet, imagens apagadas de celulares: como o regime chinês tenta acabar com protestos contra a pol
Manifestações se intensificaram neste fim de semana após incêndio que matou 10 pessoas em bloco de apartamentos no oeste da China — Foto: REUTERS/Thomas Peter
Com as ruas tomadas por policiais e as informações sob censura na Internet, as autoridades chinesas tentaram conter, nesta segunda-feira (28), um movimento de protesto de dimensão histórica, no qual a população exige o fim das restrições provocadas pela pandemia de Covid-19 e mais liberdades.
Por seu alcance territorial, a onda de protestos parece a mais importante desde as mobilizações pró-democracia de 1989.
O descontentamento social cresceu nos últimos meses na China, um dos poucos países que continua aplicando uma política rígida contra a Covid-19, denominada "Covid zero", que inclui confinamentos em larga escala e exames PCR quase diários.
No domingo, uma multidão protestou em Pequim, Xangai e Wuhan, entre outras cidades, e gritou palavras de ordem como "Xi Jinping, renuncie! PCC (Partido Comunista Chinês) renuncie!" e "Não aos confinamentos, queremos liberdade".
A revolta da população aumentou após um incêndio que deixou 10 mortos em Urumqi, capital da província de Xinjiang (noroeste). Muitas pessoas consideram que o resgate foi prejudicado pelas restrições impostas contra a Covid-19.
O ministério chinês das Relações Exteriores acusou "forças mobilizadas por motivos ocultos" de terem vinculado o incêndio à "resposta local contra a covid-19".
Um protesto planejado em Pequim na tarde desta segunda-feira foi frustrado quando dezenas de policiais e veículos lotaram um cruzamento perto do ponto de encontro no distrito de Haidian. Um manifestante solitário criticou o presidente Xi Jinping, sendo preso em seguida.
Em Hong Kong, onde houve grandes protestos pró-democracia em 2023, dezenas de manifestantes se reuniram na Universidade Chinesa em luto pelas vítimas do incêndio de Urumqi.
Tanto a ONU quanto os Estados Unidos defenderam o direito das pessoas de se manifestarem na China.
Em Xangai, duas pessoas foram detidas perto da rua Urumqi, cenário de uma manifestação no dia anterior. Uma delas "desobedeceu as ordens da polícia", afirmou um agente.
As equipes das forças de segurança também dispersaram as pessoas no local e obrigaram os manifestantes a apagar as fotos em seus smartphones, segundo um correspondente da agência AFP.
Questionada, a polícia de Xangai não revelou quantas detenções foram efetuadas no fim de semana.
Nesta cidade, um jornalista da BBC, Ed Lawrence, foi detido e "agredido pela polícia", segundo a emissora britânica, algo que o ministro britânico para as Empresas, Grant Shapps, considerou "inaceitável e preocupante".
"A BBC está extremamente preocupada com o tratamento ao nosso jornalista Ed Lawrence, que foi preso e algemado enquanto cobria os protestos em Xangai", indicou um porta-voz da BBC em declaração escrita enviada à AFP.
A União Europeia de Radiofusão (UER), a maior aliança de veículos públicos do mundo, criticou nesta segunda-feira as "agressões" sofridas na China por jornalistas.
No domingo foram registrados distúrbios violentos entre as forças de segurança e manifestantes em Xangai. Algumas pessoas exibiam folhas em branco, um gesto para denunciar a censura, e várias foram detidas.
Em Pequim, viaturas da polícia foram enviadas para as proximidades do rio Liangma, onde mais de 400 jovens protestaram no domingo aos gritos de "Todos somos moradores de Xinjiang".
"A manifestação foi algo bom", declarou uma mulher de 20 anos, que pediu anonimato.
Porém, qualquer informação sobre as manifestações parece ter sido eliminada de todas as redes sociais chinesas.
O jornal estatal Diário do Povo publicou nesta segunda-feira um texto que faz um alerta para a "paralisia" e "esgotamento" com a estratégia de "Covid zero", mas sem pedir o fim da mesma.
"As pessoas chegaram a um ponto de ebulição porque não há uma direção clara para acabar com a política de Covid zero", explica Alfred Wu Muluan, especialista em política chinesa da Universidade Nacional de Singapura.
"O partido subestimou a irritação popular", concluiu.
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