Polônia constrói cerca de arame farpado na fronteira com a Rússia

Guardas de fronteira poloneses colocam arame farpado na fronteira com Kaliningrado — Foto: Monika Sieradzka/DW 1 de 2 Guardas de fronteira poloneses colocam arame farpado na fronteira com Kaliningrado — Foto: Monika Sieradzka/DW

Guardas de fronteira poloneses colocam arame farpado na fronteira com Kaliningrado — Foto: Monika Sieradzka/DW

A propriedade rural de Kristof Zaiaczkowski fica a menos de 400 metros da placa de fronteira da Polônia. Ele é o prefeito da vila de Wilkajcie e pode ver a placa de sua janela. A floresta de abetos atrás dela já pertence ao exclave russo de Kaliningrado. Ainda se pode atravessar o prado até a faixa de fronteira sem problemas. No futuro, porém, isso não será mais possível: uma cerca de arame farpado está sendo construída no lado polonês da fronteira.

Alguns quilômetros a leste, os trabalhos já começaram. "Isso é bom e necessário quando você mora tão perto da Rússia", diz o prefeito. Mesmo sem cerca, ele não se sente ameaçado porque os guardas de fronteira poloneses vigiam a área de perto. "Mas quando você vê o que está acontecendo na Ucrânia hoje, não sabe o que mais pode vir do lado russo."

"Queremos que esta fronteira seja hermética". Com essas palavras, o ministro da Defesa da Polônia, Mariusz Blaszczak, anunciou a construção da nova cerca em 2 de novembro de 2022. A decisão diz respeito ao "tráfego aéreo entre o Oriente Médio e Kaliningrado". De acordo com relatos da mídia, o aeroporto do exclave assinou contratos com Síria, Belarus e Turquia.

Zaiaczkowski é o prefeito de uma vila a 400 metros da fronteira com o enclave russo — Foto: Monika Sieradzka/DW 2 de 2 Zaiaczkowski é o prefeito de uma vila a 400 metros da fronteira com o enclave russo — Foto: Monika Sieradzka/DW

Zaiaczkowski é o prefeito de uma vila a 400 metros da fronteira com o enclave russo — Foto: Monika Sieradzka/DW

Em 2023, milhares de pessoas voaram para Minsk, capital de Belarus, para cruzar a fronteira polonesa e entrar na União Europeia (UE). Houve confrontos violentos com as forças de segurança polonesas, levando a Polônia a se decidir pela cerca de arame farpado na fronteira com Belarus. De acordo com os guardas de fronteira poloneses, o número de tentativas de cruzar a fronteira ilegalmente caiu drasticamente desde então: de 17 mil em outubro de 2023para pouco menos de 1.500 em outubro de 2022.

A cerca na fronteira com Kaliningrado foi projetada para surtir efeito semelhante no norte da Polônia. Os primeiros cinco quilômetros foram concluídos em meados de novembro de 2022. No total, a barreira terá mais de 200 quilômetros de comprimento, três metros de largura e 2,5 metros de altura. Inicialmente, será composta apenas por arame farpado, mas posteriormente serão instaladas câmeras, armadilhas e detectores de movimentos sísmicos subterrâneos.

Até agora, entradas ilegais através da fronteira com Kaliningrado têm sido raras: de acordo com os guardas de fronteira poloneses, houve apenas 11 casos de janeiro até o final de setembro de 2022. A maioria eram contrabandistas de tabaco, não migrantes. No entanto, segundo pesquisas, dois terços dos poloneses apoiam a construção da nova cerca na fronteira.

"Os migrantes não são nossa maior preocupação", disse à DW Ursula, moradora da cidade de Goldap, de 14 mil habitantes, e que fica a quatro quilômetros da fronteira. "Até agora, nenhum foi visto aqui. Mas quanto maior a proteção da Rússia, melhor. Putin é um bandido". E um jovem teme: "Em algum momento aRússia também atacará a Polônia".

Ursula também não tem dúvidas de que a Polônia precisa da cerca na fronteira. Ela está até pensando em deixar o país. "Depois de 30 anos nos Estados Unidos, voltei para a Polônia quando cheguei à idade de me aposentar", explica ela. "Mas agora me sinto tão insegura aqui que estou pensando em voltar para a América."

Mas também há outras opiniões. "Não sei se a cerca vai impedir os refugiados − ou se não seria melhor se a Polônia finalmente tivesse uma verdadeira política de migração", disse à DW Zbigniev Sodol, que dirige uma clínica de oxigenoterapia em Goldap.

"Quando a Rússia dispara seus foguetes, eles voam 500 quilômetros por cima de nossas cabeças. Nenhuma cerca pode ajudar contra isso". Para ele, o que Putin está fazendo na Ucrânia é "bestial" − mas também existem "pessoas normais" na Rússia. Segundo ele, a Polônia e a região de Kaliningrado se beneficiaram do pequeno tráfego fronteiriço que prevaleceu até 2015.

Críticas também vêm da oposição polonesa. A ativista de direitos humanos e eurodeputada Janina Ochojska, do partido Plataforma Cívica, escreveu no Twitter ao primeiro-ministro da Polônia e ao governo em Varsóvia: "Roubaram sua sanidade? Você gastou 350 milhões de euros em uma 'barragem' na fronteira entre Polônia e Belarus, só para ter brechas para mais violações da lei e poder encaminhar migrantes de volta, e agora quer construir outra? Siga as leis e os processos. É mais barato e mais eficiente".

Mas essas vozes críticas são raras na Polônia. Em questões de segurança, as posições do governo e dos políticos da oposição quase não diferem. Não é de admirar, diz Paulina Piasecka, diretora do Centro de Estudos do Terrorismo no Collegium Civitas de Varsóvia: "Quando respondemos a uma ameaça do país que está causando o conflito do outro lado da fronteira com a Ucrânia, podemos esperar pouca resistência".

Além disso, a Polônia também é responsável por proteger uma fronteira externa da UE. "Os investimentos em segurança na fronteira com Kaliningrado não são feitos apenas para o bem dos cidadãos poloneses, mas também para o bem de todos os outros países que pertencem ao espaço Schengen [espaço de livre circulação na Europa]", disse a especialista à DW.

Zaiaczkowski e sua família se sentiriam mais seguros se finalmente pudessem ver a cerca de arame farpado de sua janela, diz o prefeito. Mas não se deve apenas esperar sentado por atos do governo. Como muitas famílias na Polônia no momento, ele também começou a armazenar suprimentos e preparar um esconderijo.

"Temos um grande porão sob o celeiro onde podemos nos esconder e passar algum tempo em caso de perigo", diz Krystyna, mãe de Zaiaczkowski, de 73 anos. Batatas, mel e ovos são armazenados lá − tudo de produção própria. "Independentemente da ameaça de fluxos migratórios ou ataques russos, não vou sair de casa", afirma.

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