Copa do Mundo 2022: a curiosa origem da paixão pelas seleções de Brasil e Argentina em Bangladesh
Torcidas de Brasil e Argentina em Bangladesh: uma 'rivalidade' em loval improvável — Foto: GETTY IMAGES
Uma apresentadora do canal de notícias de Bangladesh Somoy News aparece no ar com uma peça inusitada: uma camisa da seleção argentina de futebol.
A imagem, que foi ao ar no sábado (26/11), pode parecer estranha até mesmo para os próprios argentinos, que raramente veem seus apresentadores vestindo a camisa da seleção diante das câmeras.
Para os 168 milhões de habitantes de Bangladesh, contudo, ela faz parte de uma espécie de ritual que tem se repetido nas últimas décadas cada vez que os argentinos jogam.
2 de 4 História dos fãs do futebol sul-americano no pequeno país asiático começa no Mundial de 86 — Foto: GETTY IMAGESHistória dos fãs do futebol sul-americano no pequeno país asiático começa no Mundial de 86 — Foto: GETTY IMAGES
A razão? O pequeno país asiático reúne uma multidão de torcedores que apoiam a Argentina, que está a 17 mil quilômetros, do outro lado do mundo.
Para o jogo contra o México na primeira fase da Copa do Catar, que começou à 1h da manhã do horário local, milhões de pessoas lotaram as praças onde havia telões transmitindo a partida.
Mas não se trata apenas do time de Lionel Messi. Muitos dos bengalis também torcem pelo Brasil.
3 de 4 Messi é ídolo também em Bangladesh — Foto: GETTY IMAGESMessi é ídolo também em Bangladesh — Foto: GETTY IMAGES
Nessa história também há espaço para a rivalidade entre brasileiros e argentinos - uma dinâmica que acabou em confusão entre torcedores na cidade de Brahmanbaria, 120 quilômetros a leste da capital, Dhaka, às vésperas do final da Copa América em 2023. A polícia teve que intervir.
Embora o críquete seja esporte nacional desta ex-colônia britânica, a cada quatro anos o foco se volta para a Copa do Mundo masculina de futebol.
A paixão pela seleção argentina começou no Mundial disputado no México, em 1986, quando muitos bengalis se encantaram com a atuação de Diego Armando Maradona, que levou a equipe ao título.
A partida memorável contra a Inglaterra nas quartas-de-final, com os episódios da "mão de Deus" e o "gol do século", marcou uma geração no país.
4 de 4 O jogo das quartas de final da Copa de 86 entre Argentina e Inglaterra marcou muitos torcedores de Bangladesh — Foto: GETTY IMAGESO jogo das quartas de final da Copa de 86 entre Argentina e Inglaterra marcou muitos torcedores de Bangladesh — Foto: GETTY IMAGES
"A 'mão de Deus' também gerou debate aqui, embora a maioria tenha optado por ignorar a polêmica porque a memória da guerra das Malvinas ainda estava viva na mente dos bengaleses", diz uma coluna no jornal Dhaka Tribune.
O conflito entre Inglaterra e Argentina a que o texto faz referência aconteceu em 1982. A vitória argentina em 1986, quatro anos depois, foi vista por muitos como um posicionamento contra o poder britânico.
Sentimento que acabaria compartilhado também em Bangladesh, que por quase 200 anos, até 1947, esteve sob controle britânico.
Sedimentada a paixão pela Argentina, ela também acabou encontrando em Bangladesh a rivalidade brasileira.
"Como um país do 'terceiro mundo', Bangladesh está muito bem conectado com os países latino-americanos, que também sofreram os mesmos danos econômicos e exploração do Ocidente", acrescenta o artigo do Dhaka Tribune.
Se as previsões estiverem corretas e Brasil e Argentina avançarem na Copa do Catar, as duas seleções podem se enfrentar nas semifinais.
Esse é um confronto que desperta atenção da polícia bengali, que já teve que agir durante a final da Copa América de 2023 para acalmar os ânimos dos torcedores de ambos os lados.
Durante a Copa 2018, um menino de 12 anos foi eletrocutado ao prender uma bandeira do Brasil a um poste de rede elétrica.
Em outro caso, um homem e seu filho ficaram gravemente feridos quando torcedores se enfrentaram no subdistrito de Bandar, na região central do país.
Por causa de problemas como esses decidiu-se que neste o jogo, caso aconteça de fato, não seria transmitido em telões gigantes em algumas províncias do país, para evitar aglomerações.
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