Presidente da África do Sul enfrenta apelos para renunciar
Um dos homens mais ricos da África do Sul, Ramaphosa se tornou presidente em 2018, com discurso de combate à corrupção — Foto: Alberto Pezzali/AP/picture alliance
O presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, foi confrontado nesta quinta-feira (01/12) com apelos da oposição para que renuncie, depois de uma comissão parlamentar de inquérito ter concluído que o chefe de Estado pode ter violado leis anticorrupção. O caso ainda pode resultar na abertura de um processo de impeachment.
O escândalo eclodiu em junho, quando o antigo chefe dos serviços secretos sul-africanos Arthur Fraser disse que Ramaphosa escondia uma elevada quantia de dinheiro dentro de um sofá na sede de sua fazenda, em Phala Phala. Segundo Fraser, o dinheiro foi roubado em fevereiro de 2023 por criminosos comuns com o auxílio de uma empregado da propriedade, mas Ramaphosa nao comunicou o crime à polícia.
Ainda de acordo com Fraser, os criminosos foram sequestrados e depois subornados para que não falassem sobre o caso. Ainda segundo Fraser, autoridades da vizinha Namíbia foram acionadas para prender um suspeito, tudo fora de canais oficiais.
Fraser disse que Ramaphosa escondia pelo menos 4 milhões de dólares em dinheiro na sua fazenda e acusou o presidente de lavagem de dinheiro e violação de leis de controle de moeda estrangeira.
No seu relatório, divulgado nesta quarta-feira, a comissão parlamentar levantou questões sobre a origem do dinheiro e por que o valor foi escondido das autoridades financeiras, apontando ainda um potencial conflito entre os negócios do presidente e os interesses do Estado.
Ramaphosa confirmou o roubo, mas disse que a quantia roubada foi menor do que a alegada e negou ter tentado encobrir o caso.
Ele disse que cerca de 580 mil dólares foram roubados da fazenda e que o dinheiro provinha da venda de gado.
"Não 'cacei' os autores do roubo, como alegado, nem dei nenhuma instrução para que isso ocorresse", escreveu ele à comissão. A comissão, no entanto, questionou a explicação do chefe de Estado relativa à origem do dinheiro, apontando que os animais permanecem na fazenda mais de dois anos depois da alegada venda.
"Achamos que o presidente tem um caso a responder sobre a origem da moeda estrangeira que foi roubada, bem como a transação subjacente a ela", disse o relatório. "O presidente abusou de sua posição como chefe de Estado para investigar o assunto e buscar a ajuda do presidente da Namíbia para prender um suspeito."
Um dos homens mais ricos da África do Sul, Ramaphosa ascendeu à Presidência em 2018, com discurso de combate à corrupção, em contraponto com os escândalos que atingiram seu antecessor, o ex-presidente Jacob Zuma.
O escândalo também ocorre num momento delicado para Ramaphosa, em meio a disputas internas no seu partido, o Congresso Nacional Africano (ANC). No momento, Ramaphosa ambiciona ser reeleito para a liderança do partido no congresso partidário marcado ainda para este ano, algo que lhe permitiria recandidatar-se à presidência da África do Sul em 2024.
O porta-voz do presidente, Vincent Magwenya, chegou a dizer que Ramaphosa faria um discurso à nação nesta quinta, mas voltou atrás. Segundo o porta-voz, Ramaphosa passou o dia consultando atores políticos sobre suas opções.
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