Rivais nas oitavas, Espanha e Marrocos têm relação marcada por conflito por Saara e tensão na fronteira; entenda
Imagem de 2014 mostra imigrantes ilegais tentando entrar no enclave espanhol de Melilla, no norte da África, enquanto moradores da cidade europeia jogam golfe. — Foto: Jose Palazon/Reuters
Conflitos diplomáticos constantes, tensão na fronteira e passado violento são algumas das principais marcas das relações entre os "vizinhos" Espanha e Marrocos. Os dois países se enfrentaram nas oitavas de final da Copa do Catar desta terça-feira (6); após um empate no tempo regulamentar e na prorrogação, os marroquinos derrotaram os espanhóis nos pênaltis.
A proximidade geográfica está no centro das principais disputas. Os dois países compartilham a menor distância entre a África e a Europa, no estreito de Gibraltar, o canal que separa o Mar Mediterrâneo do Oceano Atlântico. No trecho mais curto, a distância é de menos de 14 quilômetros, e a costa marroquina é visível a olho nu de praias do extremo sul da Espanha.
Além da estreita separação por mar, os dois países dividem ainda a única fronteira terrestre entre a os dois continentes. Isso porque a Espanha tem duas cidades no norte da África: os enclaves de Ceuta e Melilla, oficialmente parte de território espanhol e destinos constantemente buscados por migrantes que tentam entrar na Europa.
2 de 5 Mapa com localização de Ceuta e Melilla — Foto: Elcio Horiuchi/G1Mapa com localização de Ceuta e Melilla — Foto: Elcio Horiuchi/G1
No campo diplomático, os governos espanhol e marroquino travam há décadas um embate por conta da disputa territorial sobre o Saara Ocidental. A região, ex-colônia espanhola, é parcialmente controlada por Marrocos, que quer o governo total da área.
Já a Espanha sempre apoiou a realização de um referendo de autodeterminação, há anos reivindicado pelo grupo separatista local, o Frente Polisário, que em 1985 entrou em uma guerra contra o Marrocos por cerca de 15 anos. Desde então, ambos tentam, sem sucesso, um acordo pelo controle da área.
3 de 5 Membros do Frente Polisário fazem exercício no Saara Ocidental. Apesar de estar, na prática, sob controle do governo do Marrocos, a soberania da região ainda não foi definida, com os rebeldes do Frente Polisário lutando por independência. — Foto: Simon Brann Thorpe
Membros do Frente Polisário fazem exercício no Saara Ocidental. Apesar de estar, na prática, sob controle do governo do Marrocos, a soberania da região ainda não foi definida, com os rebeldes do Frente Polisário lutando por independência. — Foto: Simon Brann Thorpe
Um acordo entre os dois países prevê que a polícia marroquina é responsável por controlar os pontos de saída dessa fronteira e da costa norte marroquina - e há relatos constantes de que Rabat ordena que policias façam vista grossa à saída de migrantes tanto por mar como por terra em direção à Espanha.
No início deste ano, em uma mudança de rumo, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, declarou apoio formal à proposta de Marrocos para o Saara Ocidental. Mas o Frente Polisário acusa Madri de ter feito um acordo velado com Rabat para apoiar o país em troca de mais controle da polícia marroquina na fronteira entre os dois países.
4 de 5 Em imagem de 2014, imigrante enfrenta oficial da Guarda Civil espanhola ao tentar atravessar cerca que divide Marrocos do território espanhol em Melilla. — Foto: Fernando Garcia/APEm imagem de 2014, imigrante enfrenta oficial da Guarda Civil espanhola ao tentar atravessar cerca que divide Marrocos do território espanhol em Melilla. — Foto: Fernando Garcia/AP
5 de 5 Observado por policiais marroquinos, grupo de migrantes é cercado por homens da Guarda Civil espanhola após pulares cerca que divide o Marrocos de Melilla, cidade espanhola no norte da África, em 24 de junho de 2022. — Foto: Javier Bernardo/ Associated PressObservado por policiais marroquinos, grupo de migrantes é cercado por homens da Guarda Civil espanhola após pulares cerca que divide o Marrocos de Melilla, cidade espanhola no norte da África, em 24 de junho de 2022. — Foto: Javier Bernardo/ Associated Press
Em junho deste ano, centenas de imigrantes tentaram pular a cerca que divide o Marrocos da cidade espanhola de Melilla - a maioria deles eram refugiados de Darfur, no Sudão, que têm direito ao asilo na Europa por fugir de uma região de conflito. As polícias da Espanha e do Marrocos, cada uma de seu lado da fronteira, reagiram com forte repressão, e 23 imigrantes morreram durante a tentativa de cruzar a fronteira.
À época, o governo espanhol negou que houve violações de direitos humanos em seu territórios, mas as principais organizações que atuam na cidade apontam que imigrantes morreram também do lado da Espanha da fronteira.
Para completar a complexa relação, dois jogadores da seleção marroquina - o goleiro Munir Mohamedi e o Achraf Hakimi - a estrela do time norte-africano - nasceram na Espanha, mas optaram por defender o país de seus pais.
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