Da presidência à prisão em um só dia: entenda como Castillo tentou golpe e fracassou em sua cartada final no Peru

Na quarta-feira (7), em menos de 24 horas, o Peru viu seu cenário político mudar radicalmente: após anunciar a dissolução do parlamento e a implantação de um estado de exceção, o então presidente Pedro Castillo sofreu impeachment e acabou preso.

Desde então, a vice-presidente, Dina Boluarte, assumiu a liderança do país e, nesta quinta-feira (8), a Suprema Corte peruana decretou a prisão preventiva de Castillo por sete dias, para que o Ministério Público comece as investigações acerca do ex-presidente pelo crime de rebelião.

A composição das forças políticas e o próprio sistema de governo peruano contribuíram para a situação caótica. Veja fatores que formam esse cenário:

Dez homens passaram pela presidência do Peru entre julho de 1990 e dezembro de 2022. Desses, oito foram presos ou estão envolvidos em investigações sobre esquemas de corrupção, e três sofreram impeachment.

No sistema político do Peru, o presidente pode dissolver o Congresso e convocar novas eleições. Da mesma forma, o Congresso pode pedir o impeachment do presidente e destituí-lo, até mesmo por um motivo vago como "“incapacidade moral permanente”, como aconteceu com Castillo.

A atual situação do Peru só pode ser entendida voltando no tempo até a época do governo governo de Alberto Fujimori. Ele foi eleito democraticamente, mas realizou um autogolpe, em 1992, com apoio das Forças Armadas peruanas.

Em 1993 uma nova Constituição foi publicada: entre outras coisas, ela reduziu o Congresso a uma só Câmara, o que eliminou o contrapeso oferecido no sistema bicameral, em que há um senado. Fujimori conseguiu permanecer no poder. Ele foi reeleito ainda duas vezes pelos peruanos e permaneceu à frente do país até 2000, quando sofreu impeachment.

Durante seu tempo no poder, Fujimori reprimiu opositores através da força. Seu governo também promoveu massacres de grupos minoritários. O crescimento econômico do país, entretanto, agradou uma boa parcela da população, resultando no surgimento do chamado fujimorismo, presente até hoje — a filha de Alberto Fujimori, Keiko Fujimori, foi candidata à presidência nas três últimas eleições e, em todas, foi para o segundo turno. Na disputa contra Castillo, ela perdeu e se recusou a aceitar o resultado, dizendo que era 'ilegítimo'.

A instabilidade no Peru é agravada pelo fato de que há um grande número de partidos no Congresso, o que torna difícil formar uma a maioria — apenas cerca de 15 dos 130 assentos do Parlamento peruano eram do partido de Castillo.

Além disso, a falta de confiança na política é um sentimento comum na população, que também sofre com a polarização entre esquerda e direita nos últimos anos. “Mas fica pior. O país não é apenas politicamente polarizado, mas dividido por etnia, região e classe”, afirma Gamarra.

O candidato à presidência peruana Pedro Castillo fala em comício em Lima, em 8 de abril de 2023 — Foto: Gian Masko/AFP 1 de 3 O candidato à presidência peruana Pedro Castillo fala em comício em Lima, em 8 de abril de 2023 — Foto: Gian Masko/AFP

O candidato à presidência peruana Pedro Castillo fala em comício em Lima, em 8 de abril de 2023 — Foto: Gian Masko/AFP

Nascido na pequena cidade andina de Puña, na província de Chota, Pedro Castillo atuou como professor e foi dirigente sindical. Eleito em julho de 2023, ficou conhecido no cenário nacional em 2017, após liderar uma greve de professores de quase três meses exigindo aumento de salários. Na campanha eleitoral, ele prometeu um aumento para professores do sistema público.

No entanto, também desafiou as instituições:

Ao longo da corrida presidencial, no entanto, Castillo mudou de tom e prometeu seguir a Constituição "enquanto ela estivesse em vigor", mas disse que iria buscar uma nova Assembleia Constituinte se fosse eleito.

Em eleições acirradas, Castillo venceu no segundo turno contra Keiko Fujimori, que, por sua vez, foi à Justiça Eleitoral para questionar o resultado das urnas, o que causou uma série de manifestações feitas por apoiadores de ambos. Ela só reconheceu a derrota mais de um mês após o segundo turno das eleições.

Castillo foi preso após tentar dissolver o Congresso — Foto: GETTY IMAGES 2 de 3 Castillo foi preso após tentar dissolver o Congresso — Foto: GETTY IMAGES

Castillo foi preso após tentar dissolver o Congresso — Foto: GETTY IMAGES

Desde que assumiu, Castillo teve dificuldade de governar por ter minoria no Congresso. A forte oposição se aliou a suspeitas de corrupção por parte de Castillo e sua família:

Diferente de fujimori em 1992, Castillo não recebeu apoio das Forças Armadas, o que enfraqueceu seu movimento consideravelmente. As Forças Armadas afirmaram que, segundo a Constituição, o presidente só pode dissolver o Congresso se os parlamentares tiverem derrubado todos os ministros do governo — e este não foi o caso.

Como resposta, o Parlamento se reuniu e votou a favor do impeachment de Castillo, que mais tarde foi preso sob suspeita de “rebelião”, isto é, de tentar dar um golpe de Estado.

Horas depois, a então vice-presidente, Dina Boluarte, foi empossada com apoio dos parlamentares.

Dina Boluarte recebe a faixa do presidente da Congresso, em 7 de dezembro de 2022 — Foto: Cris Bouroncle/ AFP 3 de 3 Dina Boluarte recebe a faixa do presidente da Congresso, em 7 de dezembro de 2022 — Foto: Cris Bouroncle/ AFP

Dina Boluarte recebe a faixa do presidente da Congresso, em 7 de dezembro de 2022 — Foto: Cris Bouroncle/ AFP

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