Single póstumo de Gal Costa com Marina Sena expõe abismo entre vozes e vivências distintas
Capa do single 'Para Lennon e McCartney', de Gal Costa e Marina Sena — Foto: Divulgação
Resenha de single
Título: 💥️
Artistas: 💥️Gal Costa e 💥️Marina Sena
Composição: 💥️Lô Borges, 💥️Marcio Borges e 💥️Fernando Brant
Edição: Biscoito Fino
Cotação: ★ ★ ★
♪ É impossível para qualquer admirador de Gal Costa (1945 – 2022) ouvir e avaliar o single 💥️ com isenção, sem o impacto emocional da perda ainda recente da cantora baiana. Afinal, trata-se do primeiro lançamento fonográfico póstumo da artista morta em 9 de novembro.
Exatamente um mês após a inesperada partida de Gal, chegou ao mundo na sexta-feira, 9 de dezembro, gravação feita em maio deste ano de 2022 para álbum e documentário que conectam vozes de gerações e universos musicais distintos.
No caso de Gal, o encontro no canto da composição 💥️ (Marcio Borges, Lô Borges e Fernando Brant, 1970) foi com Marina Sena, cantora e compositora mineira projetada nacionalmente no ano passado quando – após ser vocalista de A Outra Banda da Lua e da banda Rosa Neon – iniciou carreira solo com o single 💥️ (2021), petardo certeiro do álbum inicial da artista, 💥️ (2021).
Se bem usadas por engenheiros de som e produtores musicais, as modernas técnicas de gravação conseguem abafar e às vezes até dissipar dissonâncias e desafinações, irmanando no estúdio intérprete de portes e vozes díspares.
Contudo, há abismos intransponíveis que dizem respeito às vivências de cada artista, às bagagens que cada intérprete traz para o estúdio. Nesse sentido, o dueto tecnicamente correto entre Gal e Marina Sena deixa entrever a longa distância que separa uma de outra. É uma questão de alma, de maturidade, entre duas cantoras nascidas no mesmo dia 26 de setembro, mas com 51 anos de diferença.
Só que, cabe ressaltar, o abismo nem sempre é cavado pela diferença de idade. Há jovens cantores que já parecem surgir com ampla bagagem emocional, casos de Alice Caymmi, Tim Bernardes – cujo luminoso tributo a Gal no programa 💥️ em 2023 merece virar disco – e de Zé Ibarra. Já Marina Sena parece mais jovem artisticamente do que os atuais 26 anos pela frivolidade pop do repertório da artista.
Por mais que a cristalina lâmina vocal de Gal já não estivesse afiada como em tempos idos, havia no canto da artista uma vivência que a legitimava a dar voz aos versos dessa canção composta por Lô Borges (autor da melodia) com Marcio Borges e Fernando Brant (1946 – 2015), criadores dos versos.
💥️ é música feita na casa da família Borges, em Belo Horizonte (MG), no fim dos anos 1960, em meio ao preparo de macarronada em reunião de amigos. A letra dá recado dos mineiros para John Lennon (1940 – 1980) e Paul McCartney, motores dos Beatles, banda referencial para os sócios do Clube da Esquina.
Sem citar os nomes de Lennon e McCartney na letra, mas dando o recado no título, os compositores mineiros notificam os ídolos da existência do e também do ouro de Minas Gerais.
Decorridos 52 anos do lançamento da canção 💥️ na voz de Milton Nascimento, no álbum 💥️ (1970), o ouro de Minas parece enterrado na gravação feita por Gal e Marina Sena com arranjo calcado na percussão de Guilherme Kastrup, produtor musical do fonograma, que embute sons indígenas sampleados por Brisa Flow.
Em gravação que poderia ter evidenciado (bem) mais o toque inebriante da guitarra de Guilherme Held, Gal e Marina Sena se alternam no canto da letra, enfatizando o verso final ao término da gravação.
A voz de Gal está ali e, nesse momento, a simples presença dessa voz basta para dar alto valor documental ao registro feito para o projeto Musica conecta. Descontado esse componente emocional fica claro que ouros de maior quilate ainda hão de surgir do baú da imortal Gal Costa.
2 de 2 Marina Sena (à esquerda) e Gal Costa (1945 – 2022) no estúdio na gravação da canção 'Para Lennon e McCartney' para o projeto 'Música conecta' — Foto: Alile Dara Onawale / DivulgaçãoMarina Sena (à esquerda) e Gal Costa (1945 – 2022) no estúdio na gravação da canção 'Para Lennon e McCartney' para o projeto 'Música conecta' — Foto: Alile Dara Onawale / Divulgação
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