Preços dos alimentos disparam e renda dos brasileiros não acompanha; entenda por quê
Preços de alimentos exibidos em supermercado no Rio de Janeiro. — Foto: REUTERS/Ricardo Moraes
Se antes da pandemia os brasileiros já sofriam para dar conta da feira e do supermercado, nos últimos três anos virou um verdadeiro malabarismo tentar não comprometer tanto o orçamento com a cesta de alimentos.
Mas a renda dos trabalhadores não tem acompanhado a escalada de preços. Mesmo quando os salários são reajustados pela inflação, a defasagem continua, porque os alimentos têm subido acima dela desde a pandemia. Assim, o poder de compra fica comprometido, ou seja, 💥️o que as pessoas ganham não acompanha a alta dos alimentos.
Levantamento feito pelo 💥️g1 mostra que, enquanto a renda média do brasileiro subiu 19,7% em três anos, os alimentos ficaram 41,5% mais caros.
💥️Veja o que mostram os dados:
O resultado dessas altas desiguais é que a cesta básica vem comprometendo uma fatia maior da renda das famílias.
Dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostram que, em outubro de 2023, 43,8% do salário mínimo era comprometido com a compra da cesta básica. 💥️Neste ano, essa fatia cresceu para 58,78%.
Em 2023, o brasileiro precisava trabalhar, em média, 88 horas e 39 minutos para comprar os produtos da cesta básica. Agora, são totalizando 119 horas e 37 minutos.
Considerando o rendimento médio do trabalho, em valores nominais, a fatia comprometida pela cesta básica passou de 20,6% para 27,7%. Os dados consideram o valor da cesta básica apurado na capital paulista, o mais alto encontrado pelo Dieese.
💥️Veja no gráfico abaixo:
André Braz, coordenador dos índices de preços do FGV Ibre, aponta que a inflação dos alimentos tem sido praticamente o dobro da inflação média, calculada pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Nos acumulado em 12 meses até novembro deste ano o IPCA ficou em 5,90%, enquanto os alimentos subiram 11,84%.
O 💥️g1 não fez a comparação do rendimento médio com a inflação de novembro porque os dados do mercado de trabalho só serão divulgados pelo IBGE em janeiro próximo.
Entre os motivos citados por Braz para a alta dos alimentos estão episódios climáticos que prejudicaram a agricultura, a crise hídrica que afetou o preço da energia elétrica e a guerra entre Rússia e Ucrânia que reduziu a oferta de milho, trigo e soja.
Braz cita ainda a alta do diesel, que é o combustível usado pelas máquinas no campo e para escoamento da produção agrícola, além da alta de derivados do petróleo como agrotóxicos, adubos e fertilizantes. “Então a produção de alimentos é desafiada pelo custo dos insumos básicos para o plantio, pelo custo do frete e pela própria força de trabalho”, afirma.
Para Bruno Imaizumi, economista da LCA Consultores, 💥️a alta do dólar, a seca de 2023 e a escassez de insumos afetaram a produção de alimentos. E o encarecimento do preço dos barris de petróleo em 2023 e neste ano também tiveram grande influência sobre os preços.
Imaizumi aponta também que a desvalorização do real ante o dólar chegou a 31,5% entre janeiro de 2023 e 12 de dezembro deste ano. “Tivemos também a maior seca do último século no ano passado, o encarecimento das commodities após as expectativas de vacinação e a guerra na Ucrânia que encareceu as commodities energéticas e agrícolas”, diz.
O economista do FGV Ibre afirma que as hortaliças e legumes, o açúcar, os derivados do leite e do trigo acumulam uma inflação elevada. E 💥️os únicos itens que não têm subido tanto de preço são as carnes. Porém, elas pararam de subir recentemente e se estabilizaram em um nível de preços mais alto.
O economista lembra que a alta dos juros também penaliza o desenvolvimento. “Com taxas mais altas ninguém vai investir para pagar uma dívida maior, então ao desestimular o investimento há uma redução da demanda”.
Segundo Braz, a queda na demanda e nos investimentos desfavorece o aumento de preços. E como esse cenário é global, isso pode ajudar a esfriar as tensões inflacionárias no Brasil e no mundo.
“O desaquecimento da economia global prevista para os próximos meses em função do aumento de juros é que vai conter um pouco esse processo inflacionário. E a alimentação não está isenta disso, apesar de ser influenciada por outras questões”, diz.
Imaizumi afirma que o rendimento médio do real do trabalhador diminuiu porque a qualidade da recuperação das vagas durante a pandemia se deu por meio da informalidade, o que acabou precarizando o mercado de trabalho.
Outro fator que afeta o poder de compra, segundo Imaizumi, é que o reajuste do salário mínimo pelo INPC, que tem praticamente a mesma variação do IPCA (a diferença está no perfil de famílias pesquisadas), não permite que a inflação dos alimentos seja reposta.
“A gente tem que lembrar que muitos brasileiros vivem na situação de pobreza, então tem essa questão da alta da alimentação dentro do IPCA bem maior que o próprio índice nesses últimos anos. Mas talvez em 2023 a gente tenha um alívio um pouco maior no aumento de preços dos alimentos”, aponta.
Braz aponta que a discussão do momento é como a política fiscal será absorvida pelo orçamento. Essa incerteza pode desvalorizar o real frente ao dólar, o que ajuda a potencializar a inflação de duas maneiras.
A primeira é que o país passa a exportar mais. Com o real desvalorizado, todo mundo quer comprar produtos do Brasil porque estão mais baratos – mas, ao mesmo tempo em que o aumento da exportação é bom para a balança comercial, acaba sendo um desafio para a inflação porque isso pode desabastecer o mercado interno, o que pode forçar a alta de preços.
O outro fator é a importação, que também eleva os preços: com o real desvalorizado, o país paga mais caro pelos produtos em dólar, o que gera mais inflação. O trigo é um exemplo, pois é um dos produtos mais importados e matéria-prima para uma série de itens da cesta dos brasileiros, como pão e macarrão.
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