Análise: As (cinco) principais crises do papado de Bento XVI

Papa emérito Bento XVI participa de cerimônia no Vaticano, em imagem de 8 de dezembro de 2015 — Foto: Gregorio Borgia/ AP 1 de 1 Papa emérito Bento XVI participa de cerimônia no Vaticano, em imagem de 8 de dezembro de 2015 — Foto: Gregorio Borgia/ AP

Papa emérito Bento XVI participa de cerimônia no Vaticano, em imagem de 8 de dezembro de 2015 — Foto: Gregorio Borgia/ AP

Intelectual renomado e teólogo profícuo, Bento XVI entrou para a história como o primeiro Papa da era moderna a renunciar. Antes dele, foi Gregório XII, em 1415, em circunstâncias bem diferentes: à época havia uma disputa pelo trono do apóstolo Pedro entre vários “pretendes”. Um gesto político, a renúncia de quase 600 anos atrás permitiu unificação em torno de um outro líder. Já Bento XVI, ao anunciar sua renúncia, em 11 de fevereiro de 2013, fez questão de dizer que seu caso era novo.

Ele deixou o ministério por falta de vigor, “seja do corpo, seja do ânimo”, necessários para lidar com os problemas na “barca de Pedro”, disse, acrescentando que tomava essa decisão em total liberdade de consciência.

O legado de Bento XVI será estudado por muitos anos. Na Igreja, ele será lembrado como um papa fiel, discreto, cordial e de muita profundidade espiritual e intelectual. Ofereceu textos, discursos e reflexões sobre Deus, a fé e a cultura moderna que devem orientar os sucessores por muitos anos.

Muito se especulou, no entanto, sobre qual teria sido o peso, na decisão histórica de Joseph Ratzinger, das crises que ele teve que enfrentar ao longo de seu pontificado. 💥️As crises que ele enfrentou ao longo de quase oito anos marcaram o seu estilo e podem ter orientado a decisão de renunciar. Abaixo, em cinco pontos, veja as principais:

A Igreja após-renúncia de Bento XVI quebrou tabus, pois não precisava lamentar a morte de um papa. Abriu-se, de imediato, um amplo diálogo, interno e externo, que durou semanas, sobre os problemas, a necessidade de reforma e sobre o perfil do sucessor. Aquela fase de transição permitiu a eleição de um papa reformista, diferente, Francisco. O vínculo de continuidade entre os papas Bento XVI e Francisco, portanto, é indiscutível. Ambos enxergavam que era preciso renovar a Igreja e o Vaticano.

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No início de 2012, uma série de documentos confidenciais do papa e do Vaticano foram vazados para a imprensa. Foi o escândalo dos “Vatileaks”, uma referência à organização internacional “Wikileaks”, especializada no acesso a documentos sigilosos. O caso revelou lutas de poder entre cardeais e corrupção na Cúria Romana, com especulações até mesmo sobre a morte do papa.

O Papa Bento XVI, em maio de 2012, disse que o escândalo lhe causou “tristeza no coração”, mas que confiava em seus colaboradores e no Espírito Santo.

Bento XVI teve que lidar com uma das maiores chagas na história da Igreja Católica, uma onda de casos de abusos morais, de poder e sexuais perpetrados por membros do clero ao longo de décadas, a partir da segunda metade do século 20. Casos notáveis, ainda que antigos, vieram à tona durante o seu pontificado.

A gestão do problema perdura, outros casos vieram a público sob Francisco, e há questionamentos sobre o que mais poderia ter sido feito nos anos em que o então cardeal Ratzinger era responsável pela Doutrina da Fé, no pontificado o Papa João Paulo II, e o que deixou por fazer como pontífice.

Um dos momentos mais complicados dos oito anos de pontificado de Bento XVI foi em setembro de 2006, quando fez um discurso na Universidade de Regensburg, na Alemanha. Em uma aula magistral, o papa fez uma citação que provocou revolta no mundo islâmico.

Seu objetivo, afirmou, “era evidenciar a relação essencial entre fé e razão”. O mal-entendido causado pelo discurso de Regensburg, contudo, estimulou encontros e publicações partilhadas entre católicos e muçulmanos, no Vaticano e em outras partes do mundo.

Ao longo de seu pontificado, Bento XVI enfrentou significativa resistência entre alguns grupos católicos na América Latina, inclusive no Brasil. Isso porque essa região do mundo é o berço da chamada “Teologia da Libertação”, uma vertente teológica voltada para a defesa dos mais pobres, os movimentos sociais e a ação social e política de membros da Igreja.

No evento em Aparecida, ele disse: “O sistema marxista, onde governou, deixou não só uma triste herança de destruições econômicas e ecológicas, mas também uma dolorosa opressão das almas. E o mesmo vemos também no Ocidente, onde cresce constantemente a distância entre pobres e ricos e se produz uma inquietadora degradação da dignidade pessoal com a droga, o álcool e as sutis ilusões de felicidade.”

Considerado por muitos um papa conservador, Bento XVI fez inúmeros gestos de conciliação para católicos ultraconservadores que não estavam em plena comunhão com o resto da Igreja. E isso, muitas vezes, provocou reações negativas entre outros grupos da Igreja e na comunidade judaica.

Outra abertura de Bento XVI aos tradicionalistas foi autorizar, em 2007, a celebrar a missa com o rito anterior ao Concílio Vaticano II, dentro de algumas condições. A crise com os lefebvrianos, que continuam em cisma parcial, e com outros dissidentes tradicionalistas foi carregada ao pontificado de Francisco. Ele exige que aceitem o Concílio e, nessa linha, reverteu algumas decisões, em parte ou totalmente.

Por causa dessas crises, sua difícil relação com a imprensa internacional de linha mais liberal e progressista, foi turbulenta, fazendo com que ele se tornasse um papa pouco popular entre dois muito midiáticos – João Paulo II e Francisco.

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