Fogo Cruzado: em 6 anos, mil pessoas foram atingidas por balas perdidas, 229 morreram; 'Infelizmente está longe de acaba

A menina Ágatha Félix — Foto: Reprodução/ TV Globo 1 de 4 A menina Ágatha Félix — Foto: Reprodução/ TV Globo

A menina Ágatha Félix — Foto: Reprodução/ TV Globo

"Infelizmente, esse número é muito maior e, ao meu ver, está longe de acabar. Enquanto tivermos essas políticas públicas de governo, mais e mais pessoas morrerão dessa forma no Rio". O desabafo é da assistente operacional Vanessa Francisco Sales, mãe da pequena Ágatha Vitória Félix, 💥️morta por uma bala perdida, em 2023, no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio de Janeiro. A menina, de 8 anos, estava dentro de uma Kombi com Vanessa, quando💥️ foi baleada nas costas durante um suposto confronto da Polícia Militar com traficantes da região.

Ágatha Félix é uma das💥️ 1.000 vítimas de balas perdidas nos últimos seis anos no estado do Rio, segundo um relatório da plataform💥️a Fogo Cruzado (), divulgado nesta terça-feira (10).

Essas pessoas foram vítimas das mais diferentes formas. Indo para o trabalho ou trabalhando, a caminho da escola ou em unidade educacional, em postos de saúde ou simplesmente caminhando pelas ruas.

São Ágathas, Rebeccas, Emilys, Kathlens Romeu...Pessoas que perderam a vida ou ficaram com alguma sequela por conta de disparos causados por armas de fogo.

Entre as 1.000 vítimas, 💥️229 morreram e 💥️771 ficaram feridas. Somente em 2022 foram 20 mortos e 62 feridos. Os dados da plataforma foram computados 💥️entre julho de 2016 a novembro de 2022.

Segundo o Fogo Cruzado, o💥️ pior ano da série histórica foi em 💥️2018, quando💥️ 252 pessoas foram vítimas de balas perdidas: 💥️47 mortas e 205 feridas. Naquele ano, a Região Metropolitana do Rio vivia o período de Intervenção Federal na segurança pública do estado, que durou 10 meses.

Dos 1.000 baleados, 💥️624 foram atingidos na presença policial. Desse total, 162 deles não resistiram e morreram. Foi o caso de Ágatha Félix - testemunhas da ocorrência dizem que não havia confronto quando ela foi atingida.

Maria Isabel Couto, diretora de Dados e Transparência do Fogo Cruzado, comentou sobre o elevado número de vítimas nas ações policiais, principalmente em favelas.

“As ações e operações obedecem a uma lógica de conflito. As polícias não estão preparadas para evitar conflitos e isso se reflete no número elevado de vítimas de balas perdidas. Foram nove meses sem um plano de redução da letalidade policial desde que o STF determinou a elaboração de um projeto que visasse a redução de mortes pelos agentes do Estado. Esse é um passo importante para que a população do Rio de Janeiro deixe de viver à mercê de tiroteios que trazem traumas e afetam a rotina”, avalia.

"Eu falo isso de coração partido. Mas, infelizmente, isso não vai acabar. A polícia do Rio de Janeiro precisa de mais preparo", desabafa Vanessa Francisco Sales.

Assim como Ágatha Félix, Emily Victoria da Silva, de 4 anos, e Rebecca Beatriz Rodrigues Santos, de 7 anos, foram baleadas e morreram enquanto brincavam na porta de casa, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. O caso aconteceu em dezembro de 2023. No dia, a PM diz que havia uma operação na região e que foi atacada. Familiares das meninas sempre desmentiram essa versão.

Emilly e Rebeca foram assassinadas enquanto brincavam na porta de casa, em Duque de Caxias — Foto: Reprodução 2 de 4 Emilly e Rebeca foram assassinadas enquanto brincavam na porta de casa, em Duque de Caxias — Foto: Reprodução

Emilly e Rebeca foram assassinadas enquanto brincavam na porta de casa, em Duque de Caxias — Foto: Reprodução

"Enquanto tivermos políticas de governo como a atual, haverá sempre confronto, trocas de tiros e as pessoas serão mortas por balas perdidas. Além disso, as polícias do Rio não respeitam, principalmente, quem mora em comunidade. É só ver a quantidade de💥️ pessoas mortas por balas perdidas nas operações. Eles sempre chegam atirando a esmo, vitimando inocentes", conta a dona de casa Lídia da Silva Moreira Santos, avó de Rebecca e tia-avó de Emily.

Ainda segundo a pesquisa do Fogo Cruzado, na cidade do Rio de Janeiro, 80% dos moradores dizem ter medo de serem vítimas de balas perdidas e 59% declararam que se mudariam da cidade caso fosse possível, revelou pesquisa do Datafolha divulgada em 2022.

Na Região Metropolitana a violência está em todos os lugares e faz com que nem o próprio lar seja um lugar seguro.💥️ 108 pessoas foram vítimas de balas perdidas quando estavam💥️ dentro de casa (💥️33 morreram e 75 ficaram feridas). Outras 💥️25 pessoas foram atingidas quando se divertiam em 💥️bares (💥️cinco mortos e 20 feridos).

O relatório do Fogo Cruzado destaca ainda que, transitar pela Região Metropolitana também fez com que 💥️18 pessoas fossem baleadas dentro de💥️ transportes públicos (💥️uma morta e 💥️17 feridas).

Os adultos, que percorrem diariamente pelas cidades são os mais afetados e representam 💥️688 baleados entre as 1.000 vítimas: 💥️137 foram mortos e 💥️551 ficaram feridos.

A população idosa, com idade a partir de 60 anos, representou💥️ 119 das vítimas de balas perdidas: 💥️77 morreram.

Motorista e cobradora de ônibus ficaram feridos por balas perdidas em tiroteio no RJ — Foto: TV Globo 3 de 4 Motorista e cobradora de ônibus ficaram feridos por balas perdidas em tiroteio no RJ — Foto: TV Globo

Motorista e cobradora de ônibus ficaram feridos por balas perdidas em tiroteio no RJ — Foto: TV Globo

Entre a população com idade inferior a 18 anos, 💥️87 crianças e 92 adolescentes sofreram com as balas perdidas. Desse número, 💥️21 crianças e 27 adolescentes não resistiram aos tiros e morreram.

Houve ainda quem nem chegasse a conhecer o mundo: 💥️três bebês foram baleados quando ainda estavam na barriga da mãe: somente um sobreviveu. E 💥️10 gestantes foram atingidas por balas perdidas: duas morreram e oito ficaram feridas.

E o relatório mostra que até mesmo dentro das unidades de ensino as vítimas não estavam livres. Em pouco mais de seis anos, 💥️16 pessoas foram vítimas de balas perdidas dentro escolas ou creches:💥️ uma morreu e 15 ficaram feridas.

“Crianças e adolescentes em idade escolar têm o seu futuro prejudicado. As aulas são canceladas, provas são perdidas e professores e diretores precisam se preocupar com a própria segurança e a segurança de seus alunos. Incerteza, trauma e medo de serem as próximas vítimas da violência armada são efeitos diretos dos tiros que comprometem a aprendizagem. Os tiros deixam marcas, que vão além do está na pele e geram consequências que podem durar anos”.

Ainda segundo o Fogo Cruzado, os trabalhadores informais também foram vítimas. Ao todo, nove motoboys/mototaxistas foram alvejados por balas perdidas (três morreram e seis ficaram feridos), oito motoristas de aplicativo foram baleados (metade morreu) e outros nove vendedores ambulantes também foram atingidos (um morreu e oito ficaram feridos).

Motorista é atingido por bala perdida em rodovia de São Gonçalo, RJ — Foto: Reprodução/redes sociais 4 de 4 Motorista é atingido por bala perdida em rodovia de São Gonçalo, RJ — Foto: Reprodução/redes sociais

Motorista é atingido por bala perdida em rodovia de São Gonçalo, RJ — Foto: Reprodução/redes sociais

O advogado Rodrigo Mondego, da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, comentou a pesquisa do Instituto Fogo Cruzado.

"Ao invés de criar políticas públicas para coibir e responsabilizar as pessoas que ferem e matam através de balas perdidas, o Governo do Rio promove políticas públicas que geram ainda mais dor e sofrimento através dessas mesmas balas perdidas, principalmente com suas operações policiais de alta letalidade".

O g1 procurou o 💥️Governo do Estado e as polícias 💥️Militar e 💥️Civil.

O governo disse que, "de acordo com o Instituto de Segurança Pública (ISP), os crimes contra a vida - incluindo morte por intervenção de agente do estado - apresentaram redução no acumulado de janeiro a novembro de 2022 em comparação ao mesmo período de 2023. Segundo o comunicado, "essas reduções são resultado do investimento que o Governo do Estado do Rio vem fazendo em💥️ tecnologia, 💥️treinamento e💥️ melhoria nas condições de trabalho para as forças de segurança e no trabalho integrado das polícias Civil e Militar".

A PM disse que a corporação disse que "não comenta dados não oficiais". A Civil não respondeu aos questionamentos da reportagem.

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