Ações da Americanas perdem mais de 38% e têm o pior desempenho do Ibovespa
Vista parcial interior das Lojas Americanas do Shopping Iguatemi, zona sul da cidade de São Paulo. — Foto: Mônica Zarattini/Estadão Conteúdo/Arquivo
As ações da Americanas voltaram a desabar nesta segunda-feira (16), na medida em que agentes financeiros continuavam a avaliar os desdobramentos das inconsistências contábeis anunciadas na semana passada e após a empresa ter conseguido decisão liminar de proteção contra credores na última sexta-feira (13).
Os papéis da varejista recuaram 38,41% e encerraram o pregão de hoje cotados a R$ 1,94, patamar bem abaixo dos R$ 12, nível visto antes dos escândalos contábeis da companhia. Ao longo do dia, as ações da companhia entraram em vários leilões e foram o pior desempenho do Ibovespa nesta segunda-feira - o índice fechou em baixa de 1,54%, aos 109.212 pontos.
O leilão é um "mecanismo de defesa" que interrompe as negociações comuns para tranquilizar momentos de variação bruta de papéis na bolsa.
No setor varejista, Magazine Luiza e Via estiveram na ponta contrária e foram as duas maiores altas do Ibovespa, marcando avanços de 12,83% e 11,81%, respectivamente, na sessão de hoje.
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Na sexta-feira, a Americanas obteve decisão da Justiça protegendo-a por 30 dias contra o vencimento antecipado de dívidas, prazo que a varejista poderá usar para obter uma acordo com credores ou pedir uma recuperação judicial.
Eventuais alterações no balanço da empresa decorrentes do anúncio das inconsistências de R$ 20 bilhões, segundo a decisão, "poderão repercutir no grau de endividamento da empresa e no capital de giro mínimo (...) acarretando o descumprimento de cláusulas de covenants financeiros culminando no vencimento antecipado de dívidas da ordem de R$ 40 bilhões".
Para a Genial Investimentos, todos os pontos de valor da Americanas estão indo "ralo abaixo". Eles destacaram piora na alavancagem financeira, encarecimento do custo de capital, compressão de margens e dúvida sobre crescimento de receita, conforme nota a clientes.
Eles avaliam que, para ganhar liquidez, além de uma capitalização de acionistas de referência, a varejista poderá colocar à venda dois de seus ativos valiosos para a tese de investimento nas ações - sua parceria com a Vibra, Vem Conveniência, e o Hortifruti Natural da Terra.
Para a XP, a Americanas trabalhará em dois caminhos. O primeiro, a negociação de uma injeção de capital com os bancos, que eles estimam entre R$ 10,6 bilhões a R$ 20,6 bilhões.
Outra rota considerada pela XP é a organização dos documentos necessários para pedido de recuperação judicial, "o que pode ser considerada a alternativa mais provável, dado o tamanho da dívida da companhia e da potencial necessidade de capital, além do número de credores envolvidos".
As agências de classificação de risco Standard & Poor's e Fitch cortaram na sexta-feira as notas de crédito da Americanas, após a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) ter aberto três processos para investigar a varejista. Minoritários também denunciaram Americanas à CVM, pedindo que as apurações englobem a empresa de auditoria PwC, responsável por analisar os balanços contábeis da companhia.
No meio da tarde desta segunda-feira (16), a Americanas comunicou que seu conselho de administração contratou a Rothschild & Co para atuar como interlocutora da companhia na renegociação da dívida, no Brasil e no exterior. A consultoria financeira já atuou em outros processos de recuperação judicial.
Em nota, a varejista reforçou seu "compromisso na busca de uma solução de curto prazo com os seus credores" e destacou que todos os órgãos sociais da companhia, que envolvem o conselho de administração, a diretoria e os comitês, trabalham conjuntamente para manter as operações da companhia de forma adequada e apoiar os trabalhos do comitê independente.
No fim de semana, o BTG Pactual recorreu da liminar que protege a Americanas dos credores, segundo documentos vistos pela Reuters. Os advogados do BTG argumentam que a liminar determina ilegalmente o estorno de um pagamento feito pela Americanas ao BTG.
A ação do BTG caía 4,01%, a R$ 21,32, na ponta negativa do Ibovespa. Analistas chamavam a atenção para a exposição do banco e de outras instituições financeiras à Americanas.
Com base em casos anteriores, analistas do JPMorgan estimam que os bancos devem começar a provisionar cerca de 30% da exposição à Americanas, o que pode eventualmente subir a depender do desfecho de eventual pedido de recuperação judicial.
"Embora tivéssemos provisões crescentes no próximo ano para a maioria dos bancos, nossos números ainda não refletem um caso corporativo tão significativo", afirmaram Domingos Falavina e equipe em relatório a clientes com data de domingo, que não veem grande impacto no nível de capital dos bancos.
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