Zona Azul noturna: urbanista critica vagas em calçadão; maestro João Carlos Martins defende ação como incentivo à cultura

Calçada perto do Theatro Municipal, em São Paulo — Foto: Celso Tavares/G1 1 de 3 Calçada perto do Theatro Municipal, em São Paulo — Foto: Celso Tavares/G1

Calçada perto do Theatro Municipal, em São Paulo — Foto: Celso Tavares/G1

Desde que a prefeitura anunciou, na última quinta-feira (19), que mais de 200 vagas de Zona Azul serão disponibilizadas de forma experimental nos calçadões do Centro Histórico de São Paulo, próximo ao Theatro Municipal, o tema repercutiu nas redes sociais e dividiu a opinião de moradores, principalmente os que vivem na região.

Segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), serão 275 vagas no total de Zona Azul, sendo 200 na Alameda Barão de Itapetininga e nas ruas Conselheiro Crispiniano e Marconi, além de 75 vagas em vias do entorno, que poderão ser utilizadas por meio do aplicativo da Estapar. O serviço funcionará de forma experimental por 60 dias, a partir de 1º de fevereiro.

A prefeitura informou que o objetivo é disponibilizar as vagas para o público que frequenta o Theatro. "Haverá orientação dos condutores para que o acesso seja restrito às vagas, para o momento de chegada e saída, não sendo permitida a circulação veicular nos calçadões em nenhuma outra circunstância", disse o Executivo, em nota.

Em entrevista à 💥️TV Globo, a arquiteta e urbanista Raquel Rolnik criticou a medida. "Absurdo de proposta da prefeitura. A tendência em todas as cidades do mundo é reduzir ao máximo os carros e aumentar o espaço para pedestres, bicicletas, transporte coletivo de boa qualidade, barato e eficiente", afirmou.

"Os calçadões estão com problema de manutenção e colocar carros em cima desse piso destrói. Esse piso não é para carro. Existe um para pedestre, outro para carro. Isso vai destruir completamente. Não tem nenhum sentido", ressaltou.

Calçadão perto do Theatro Municipal de SP — Foto: Reprodução/TV Globo 2 de 3 Calçadão perto do Theatro Municipal de SP — Foto: Reprodução/TV Globo

Calçadão perto do Theatro Municipal de SP — Foto: Reprodução/TV Globo

Segundo Raquel, os usuários podem acessar o Theatro Municipal com transporte coletivo. Ela também diz que a prefeitura tinha que ter consultado o Conselho Municipal de Transporte e Trânsito.

"Não querem usar transporte coletivo? Eles podem acessar por táxi. Isso não é absolutamente impossível. Não tem sentido. Uma decisão autocrática da prefeitura que não consultou sequer o Conselho Municipal de Transporte e Trânsito, um órgão que a prefeitura tem para poder discutir as propostas antes de sair e implantar."

Maestro João Carlos Martins — Foto: Divulgação 3 de 3 Maestro João Carlos Martins — Foto: Divulgação

Maestro João Carlos Martins — Foto: Divulgação

Já o maestro João Carlos Martins, que se apresenta com frequência no Theatro Municipal, afirmou ao 💥️g1 nesta segunda-feira (23) que defende a medida como uma forma de garantir que o público idoso e com mobilidade reduzida volte a ir às apresentações do Theatro por sentir mais segurança com o veículo perto.

"Às vezes os resultados são melhores que as intenções, e a médio prazo as intenções e os resultados vão se encontrar. Nos últimos anos houve o aumento do cenário de roubo de celular e arrastão na saída do Municipal. Apesar de o Theatro ter ganhado público jovem, aquele mais idoso não vai até o Centro mais, não vai parar o carro a 800 metros de distância nos estacionamentos e não vai pegar Metrô porque não tem algum que pare na porta", diz.

"Com a medida, eu vejo que o público idoso pode chegar com a família com seu carro, ter a proteção inicial durante o concerto, e volta a frequentar o teatro e ter acesso à cultura. Jamais contra o pedestre, jamais quem usa bicicleta. É a favor do público idoso que foi se afastando do teatro por conta dos roubos. No Carnegie Hall, em Nova York, não tem estacionamento, mas tem metrô na porta."

O músico ressalta que fez por 20 anos à prefeitura o pedido de um estacionamento aberto na frente do Theatro.

"O Theatro Municipal não é igual a Sala São Paulo, que tem estacionamento. As 270 vagas não prejudicarão porque serão usadas só durante as apresentações. Não haverá circulação. Sempre pedi que tivesse um estacionamento perto e que tenha policiamento para que ninguém desista de buscar por cultura. Então, fazia anos que queria vagas ali e sempre falei com prefeitos e secretários de cultura", afirmou.

"Sobre o manifesto das pessoas que são contra, eu acho maravilhoso. Democracia é discutir opiniões. Todos têm que ser consultados. Eu não entendo de calçadão, mas de cultura. Então, eu apenas sugeri para que se tivesse uma experiência. Agora, é a CET que vai avaliar".

Ainda conforme o maestro, músicos que se apresentam no Theatro Municipal também foram a favor da medida. "Eles acharam uma maravilha. A cultura é a alma de uma nação. Meu sonho seria que tivesse uma placa igual da avenida Morumbi dizendo 'dia de concerto' no Centro Histórico", finalizou.

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