Lula diz concordar com renovação do Mercosul, mas defende acordo em bloco com a China
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quarta-feira (25) que está "totalmente de acordo" com a proposta do governo do Uruguai, que defende mudanças nas regras do Mercosul.
Lula defendeu, porém, uma negociação em bloco do Mercosul com a China para a tratar de um possível acordo comercial ()
"Quero dizer para o presidente (Lacalle Pou) que, as ideias de discutir a chamada inovação ou renovação do Mercosul, estamos totalmente de acordo", disse Lula durante declaração à imprensa.
Lula fez a declaração ao lado do presidente uruguaio, Luis Alberto Lacalle Pau, durante visita a Montevidéu.
A visita ao Uruguai é o segundo trecho da primeira viagem internacional de Lula desde que ele assumiu o novo mandato. Antes, o petista esteve na Argentina.
1 de 1 Lula discursa ao lado do presidente uruguaio, luis Lacalle Pau, durante viagem a Montevidéu. — Foto: Mariana Greif/ReutersLula discursa ao lado do presidente uruguaio, luis Lacalle Pau, durante viagem a Montevidéu. — Foto: Mariana Greif/Reuters
Lacalle Pau defende a possibilidade de o Uruguai negociar, inclusive de forma unilateral, acordos comerciais com países de fora do Mercosul.
Ele já negocia com a China um tratado de livre comércio, que está em fase avançada.
O comportamento uruguaio tem provocado descontentamento de outros membros do bloco. Em dezembro do ano passado, Lacalle Pou e o presidente argentino, Alberto Fernández, se desentenderam durante uma reunião de líderes do Mercosul.
Fernández disse que o Uruguai está descumprindo as regras do bloco, e que isso implica um rompimento com os outros sócios.
"Quero dizer ao presidente e à imprensa uruguaia que os pleitos do presidente Lacalle são mais que justos. Primeiro porque o papel de um presidente é defender os interesses do seu país, os interesses da sua economia e os interesses do seu povo. Segundo porque é justo querer produzir mais e querer vender mais e, por isso, é preciso se abrir o quanto mais possível para o mundo dos negócios", afirmou Lula.
"O que precisamos fazer para modernizar o Mercosul? Queremos sentar à mesa primeiramente com nossos técnicos, depois com nossos ministros, e finalmente com os presidentes para que a gente possa renovar aquilo que for necessário renovar", finalizou o presidente brasileiro.
Lula defendeu ainda que um acordo comercial com a China seja discutido em conjunto pelo Mercosul.
"Apesar do Brasil ter na China o seu maior parceiro comercial e do Brasil ter um grande superávit com a China, nós queremos sentar enquanto Mercosul e discutir com nossos amigos chineses um acordo Mercosul-China", disse o petista.
O Uruguai vem sendo alvo de críticas de outros membros do Mercosul depois que agiu individualmente em busca de acordos comerciais de teor tarifário.
Em novembro do ano passado, coordenadores nacionais da Argentina, Brasil e Paraguai enviaram uma nota ao Uruguai em que disseram que, diante da "possível apresentação, pela República Oriental do Uruguai, de pedido de adesão ao Acordo Abrangente e Progressivo para a Parceria Transpacífica-CPTPP", poderiam "adotar as eventuais medidas que julgarem necessárias para a defesa de seus interesses" jurídicos e comerciais.
O alerta também decorre da possível apresentação de um pedido uruguaio de adesão ao Acordo Abrangente e Progressivo para a Parceria Transpacífica (CPTPP) – tratado que estabelece livre comércio entre Austrália, Brunei, Canadá, Chile, Japão, Malásia, México, Nova Zelândia, Peru, Cingapura e Vietnã.
O CPTPP remove tarifas em cerca de 95% de parte dos bens comercializados entre países-membros.
Em entrevista ao jornal "Folha de S.Paulo", o ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, disse que um acordo de livre comércio entre Uruguai e China poderia significar a destruição do Mercosul.
De acordo com o Chanceller, o bloco possui uma Tarifa Externa Comum e se o Uruguai negociar outra tarifa sairia dessa coordenação política tarifária e geraria desequilíbrio.
"É uma questão do arcabouço legal do Mercosul. Se negociar com tarifas diferentes, se forem [tarifas] mais baixas, as coisas que entrarem nesse país mais baratas —porque pagam menos— circularão nos outros porque há livre circulação [de mercadorias]. Há uma coordenação de política tarifária, nós todos adotamos o mesmo sistema para poder comerciar, exportar e importar também no mesmo pé de condição. Se não, desequilibra", disse ele à Folha.
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