Aumento das mortes em Gaza é resultado de aliança de Netanyahu com extrema direita, diz especialista
Palestinos protestam queimando pneus após operação militar israelense matar nove pessoas em Jenin (26/01/2023). — Foto: AP/Fatima Shbair
Israel anunciou ataques aéreos nesta sexta-feira (27) contra a Faixa de Gaza em resposta aos disparos de foguetes a partir do território palestino, em um momento de tensão provocado por uma incursão israelense que deixou pelo menos 30 mortos na Cisjordânia desde o início do ano. Para o especialista em Oriente Médio Bernard Botiveau, entrevistado pela RFI, o aumento da violência reflete a nova aliança de extrema direita no poder em Israel.
"A repressão em curso, que se agravou depois do início do novo governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, associado à extrema direita israelense, complicou as coisas e aumentou a pressão sobre os territórios palestinos", disse em entrevista à RFI o diretor emérito de pesquisas no Centro Nacional de Pesquisas da França (CNRS na sigla em francês).
Oficialmente, o governo de Israel alega não desejar uma escalada da violência – mas os aliados ultraconservadores têm pressionado para Tel Aviv acelerar ainda mais as colonizações, que desencadeiam reações dos movimentos islâmicos armados Jihad Islâmica e Hamas. O premier retornou à chefia de governo de Israel no fim do ano passado.
Nesta sexta, o Exército de Israel informou que efetuou ao menos duas séries de bombardeios aéreos contra áreas do Hamas, após vários lançamentos de foguetes em direção ao sul do país. As explosões atingiram a cidade de Gaza.
Muitos dos foguetes disparados a partir de Gaza foram interceptados pelo sistema de defesa aérea israelense. Os lançamentos de foguetes não foram reivindicados, mas tanto o Hamas, que governa a Faixa de Gaza, como o grupo Jihad Islâmica prometeram represálias após a incursão de quinta-feira no campo de refugiados de Jenin, no norte da Cisjordânia, que deixou nove mortos.
Outro palestino faleceu ao ser atingido por tiros de tropas israelenses em um incidente separado perto de Ramallah, na Cisjordânia. Entre os mortos, estava uma idosa e 20 pessoas ficaram feridas durante a operação militar no campo de refugiados da cidade, informou o Ministério da Saúde palestino. De acordo com a ONU, não eram registradas tantas mortes em apenas uma operação israelense na Cisjordânia desde o início dos registros das operações em 2005.
A Jihad Islâmica afirmou nesta sexta-feira, em um comunicado, que os projéteis disparados "levam uma mensagem: o inimigo (Israel) deve permanecer alerta, porque o sangue palestino derramado custa caro".
O aumento da violência ocorre na sequência do ano mais mortal em quase duas décadas na região: 150 palestinos e 30 israelenses morreram em confrontos em 2022. "Há uma agravação terrível do quadro nos últimos três anos, que é o resultado dos Acordos de Abraão [entre Israel e os Emirados Árabes Unidos, firmado em 2023] e os efeitos dos anos Trump nos Estados Unidos, que estimulava as colonizações e o endurecimento da repressão por Israel. Tudo isso contribuiu para o aumento generalizado das tensões”, afirma Botiveau.
O pesquisador do Iremam observa ainda que, entre os palestinos, a legitimidade da Autoridade Nacional Palestina é cada vez mais questionada, já que não foram realizadas eleições nos territórios desde 2006. O governo classificou a incursão pela Cisjordânia como "um massacre" e anunciou que não irá mais cooperar com Israel em matéria de segurança.
Além disso, no plano internacional, o contexto geopolítico não favorece a uma retomada dos diálogos entre os dois lados, principalmente devido à guerra na Ucrânia. O Departamento de Estado americano anunciou que o chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken, viajará na próxima semana a Israel e Cisjordânia para "reduzir as tensões".
O governo dos Emirados Árabes Unidos, que normalizou as relações com Israel em 2023, condenou "o ataque das forças israelenses" e pediu uma reunião "urgente" do Conselho de Segurança da ONU.
Desde o início do ano, até 30 palestinos – civis ou membros de grupos armados – morreram em incidentes de violência envolvendo as forças de segurança e também cidadãos civis de Israel. Um porta-voz militar israelense disse que o Exército realizou "uma operação antiterrorista" contra a organização armada Jihad Islâmica, envolvida em vários ataques contra Israel.
Antes de se retirar, as forças israelenses "jogaram deliberadamente granadas de gás lacrimogêneo" na ala pediátrica de um hospital de Jenin, "o que provocou a asfixia de algumas crianças", denunciou na quinta-feira (26) a ministra da Saúde palestina, Mai Al Kaila.
Uma das vítimas desse episódio se chamava Majeda Obeid, uma mulher de 61 anos, e sua filha contou à AFP como ela faleceu durante a operação militar israelense. "Quando ela terminou de rezar, olhou pela janela por um momento e, então, foi atingida por uma bala no pescoço. Seu corpo tombou contra a parede e depois caiu sobre o chão", disse Kefiyat Obeid, de 26 anos.
O acampamento de Jenin, criado em 1953, é como uma cidade dentro da cidade e abriga cerca de 20 mil refugiados, segundo a UNRWA, agência da ONU encarregada dos refugiados palestinos. O Exército israelense, que ocupa a Cisjordânia desde 1967, realiza operações quase diárias nesse território palestino, principalmente no norte, nos setores de Jenin e Nablus, redutos de grupos armados palestinos.
O secretário-geral da Liga Árabe denunciou um "massacre sangrento" perpetrado "sob as ordens diretas de [o primeiro-ministro israelense Benjamin] Netanyahu”.
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