Caderno com anotações de aluna da USP que desviou dinheiro de formandos é apreendido: 'Poderia ter feito diferente&#

Polícia cumpriu mandados de busca e apreensão no apartamento da jovem.

  • No caderno, estudante escreveu sobre situações que seriam relacionadas a um suposto arrependimento.

  • "Sentimento de culpa só aumentando", escreveu em um trecho.

  • Além do caderno, um carro alugado e eletrônicos foram apreendidos.

    Caderno com anotações foi apreendido no apartamento de Alícia — Foto: Reprodução/TV Globo 1 de 5 Caderno com anotações foi apreendido no apartamento de Alícia — Foto: Reprodução/TV Globo

    Caderno com anotações foi apreendido no apartamento de Alícia — Foto: Reprodução/TV Globo

    A polícia cumpriu mandados de busca e apreensão no apartamento da estudante de medicina da USP Alicia Dudy Muller Veiga, de 25 anos, que desviou R$ 937 mil da formatura da turma. Os agentes apreenderam aparelhos eletrônicos, um carro alugado pela jovem e um caderno com anotações relativas ao crime que teriam sido feitas por ela.

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    A delegada Zuleika Gonzalez Araujo, titular do 16º Distrito Policial, confirmou que o caderno foi encontrado pelos investigadores, mas não comentou sobre o conteúdo. Assim como os celulares, que poderão apontar com quem a jovem conversou, as escritas serão periciadas.

    Nas folhas, a jovem escreveu sobre situações que seriam relacionadas a um suposto arrependimento e, também, à frustração ao não conseguir recuperar o dinheiro.

    "Fui tão estratégica para chegar até esse dinheiro. Como não fui nada estratégica para usar sem me prejudicar ou prejudicar outros?", escreveu.

    Alicia teria feito anotações sobre o caso em caderno — Foto: Reprodução 2 de 5 Alicia teria feito anotações sobre o caso em caderno — Foto: Reprodução

    Alicia teria feito anotações sobre o caso em caderno — Foto: Reprodução

    Anotações que teriam sido feitas por Alicia — Foto: Reprodução 3 de 5 Anotações que teriam sido feitas por Alicia — Foto: Reprodução

    Anotações que teriam sido feitas por Alicia — Foto: Reprodução

    Nesta sexta-feira (27), a delegada ouviu a nova presidente da comissão de formatura. A testemunha afirmou que Alicia mudou as senhas de acesso ao e-mail da comissão.

    A nova presidente relatou ainda que o grupo não teve mais acesso às informações e aos avisos da empresa organizadora do evento sobre as transações feitas por Alicia.

    Ao todo, a investigação achou no apartamento da estudante 17 comprovantes referentes a quantias que havia ganhado na loteria. No entanto, ela teria perdido mais dinheiro do que arrecadado. Os bancos em que a estudante tem conta têm 60 dias para encaminhar à polícia a quebra de sigilo autorizada pela Justiça.

    O carro alugado pela estudante de medicina e que foi apreendido pela polícia tem registros de infrações de trânsito nos últimos 12 meses, quando o veículo estaria com ela.

    Segundo apurado pelo 💥️g1, o Nivus, da Volkswagem, foi alugado por 18 meses ao valor mensal de R$ 2.190. Um iPhone teria sido alugado por R$ 3 mil. Tudo foi apreendido.

    A GloboNews confirmou que o inquérito policial nesta sexta-feira (27) foi relatado ao Ministério Público, que vai analisar as informações colhidas pela polícia para “firmar a sua convicção a respeito dos fatos, o que poderá ensejar o oferecimento de denúncia” ou investigações complementares.

    O 💥️g1 tentou contato com Alicia, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.

    💥️LEIA MAIS:

    A empresa ÁS Formaturas se reuniu com o Procon-SP na segunda-feira (23) e prometeu não repassar aos alunos o prejuízo de R$ 927 mil desviados por Alicia, que era presidente da comissão de formatura. A empresa também concordou em bancar com fornecedores a mesma estrutura da festa que havia sido contratada.

    Guilherme Farid, chefe de gabinete do Procon-SP, disse em entrevista coletiva que o contrato entre as partes foi fechado em 2023. No entanto, a pessoa jurídica que formalizou a negociação, que seria uma associação dos formandos, nunca foi registrada.

    “O contrato foi celebrado entre duas pessoas jurídicas. Mas os alunos teriam que ter criado uma associação, registrado no tabelião de notas e formado pessoa jurídica. Teria representatividade legal", disse.

    Das mais de 100 pessoas interessadas no evento, quem deliberava sobre os valores era um grupo formado por cerca de 20 pessoas, e as comunicações eram feitas via WhatsApp.

    Segundo ele, o negócio foi "mal elaborado" e fechado informalmente. A empresa tem 15 dias para entrar em contato de forma individual com os cerca de 130 alunos envolvidos e apresentar a proposta. A ÁS já havia feito a celebração da turma anterior, a 105ª.

    No caso de os alunos aceitarem o plano, que deve se desenrolar em um ano até a realização, o Procon-SP irá acompanhar o caso. Se forem comprovados ao fim de todo o processo problemas relacionados com a empresa, uma multa de até R$ 12 milhões pode ser aplicada.

    No domingo (22), os estudantes resolveram montar um meio para captar doações online. Segundo o anúncio feito por eles nas redes sociais, as primeiras pessoas a doarem quantias a partir de R$ 1.500 vão ter direito a um convite.

    A publicação traz outros incentivos, como propostas de doações de até R$ 9 mil, a qual o doador teria direito a três ingressos e a uma mesa. Nos comentários, a página da comissão também pede ajuda a artistas.

    Anteriormente, ao ser questionada sobre a situação de Alicia, a USP informou que "está acompanhando a apuração dos fatos".

    A 💥️TV Globo perguntou se a universidade considera expulsar Alícia do curso após os ocorridos, se ela poderá colar grau normalmente e, também, qual o posicionamento da entidade sobre o caso, mas não recebeu respostas específicas.

    "Diante do andamento da investigação sobre a fraude contra a Comissão de Formatura, que envolve uma aluna da Faculdade de Medicina da USP, a Instituição informa que está acompanhando a apuração dos fatos pelos órgãos competentes."

    Alicia foi ouvida pela polícia no dia 19 de janeiro, em São Paulo. Ela confirmou que desviou os valores que seriam usados para a festa de formatura por entender que os recursos não estavam sendo bem administrados pela empresa contratada, mas fez "aplicações ruins" e acabou perdendo dinheiro.

    No "desespero", ela diz que tentou recuperar o montante fazendo apostas em uma lotérica. Ela também admitiu que usou em benefício próprio uma parte das quantias para pagar despesas pessoais, como aluguel de carro, apartamento e compra de eletrônicos. A estudante afirma ter agido sozinha, mas a namorada dela também será ouvida.

    Segundo a Polícia Civil, Alicia vai ser indiciada por apropriação indébita, crime que tem previsão de pena de até quatro anos de reclusão, e vai responder em liberdade.

    De acordo com o interrogatório, Alicia tem renda mensal de cerca de R$ 4.500. Ela assumiu à polícia que a história que contou aos colegas da comissão de que teria investido o dinheiro da formatura em um fundo e sofrido um golpe era mentira.

    Também de acordo com a polícia, a empresa ÁS Formaturas confirmou que transferiu quase R$ 1 milhão para a conta bancária da estudante, que até então era a presidente da comissão de formatura.

    A polícia disse também que, de acordo com os documentos apresentados pela ÁS, não há responsabilidade jurídica por parte da empresa.

    "O contrato autorizava eles a fazerem essas transferências para os membros da formatura, para qualquer um dos representantes da comissão", explicou a delegada.

    O 💥️g1 levantou que Alicia recebeu de R$ 3.000 de Auxílio Emergencial do governo federal. A delegada disse que a família da estudante é humilde.

    "Os nossos investigadores tiveram contato com a família. Trata-se de família humilde mesmo. Ela conseguiu ingressar no curso com muito esforço, a origem é humilde", disse.

    "Inclusive, o valor pago por cada estudante para empresa na formatura era de R$ 12 mil. Os estudantes que comprovassem uma situação financeira econômica um pouco mais difícil pagariam R$ 6 mil. Ela foi agraciada com essa possibilidade", completou.

    Alicia Dudy Müller Veiga é acusada de golpe na USP — Foto: Reprodução 4 de 5 Alicia Dudy Müller Veiga é acusada de golpe na USP — Foto: Reprodução

    Alicia Dudy Müller Veiga é acusada de golpe na USP — Foto: Reprodução

    Natural do interior de São Paulo, Alicia Dudy Muller ingressou na faculdade de medicina em 2018. Ela está no sexto ano do curso.

    Alicia nasceu em Itararé, mas reside em um prédio na Vila Mariana, na Zona Sul da capital. Na plataforma Currículo Lattes, que reúne dados sobre estudantes e pesquisadores, ela informou ter feito o ensino médio na Escola Técnica Estadual Getúlio Vargas, na região do Ipiranga.

    Em entrevista para a Rádio USP em fevereiro de 2018, ela afirmou que tinha passado no curso de farmácia e até feito a matrícula, mas desistiu e decidiu fazer cursinho por mais um ano para tentar entrar em medicina.

    Em um vídeo gravado há quatro anos para o cursinho em que estudou, Alicia comentou sobre o processo de aprovação na Faculdade de Medicina da USP. O registro foi publicado em 14 de maio de 2018.

    A jovem é alvo de dois inquéritos policiais. São eles:

    A polícia já acreditava que o dinheiro usado pela estudante em apostas não pagas – feitas no ano passado em uma lotérica da Zona Sul de São Paulo – poderia ter sido desviado da festa de formatura.

    Os dados de transações bancárias foram analisados com a quebra do sigilo.

    Segundo o boletim de ocorrência sobre o caso do sumiço do dinheiro registrado por dois alunos, Alicia solicitou à empresa ÁS Formaturas — que seria responsável pela organização da festa — a transferência de R$ 927 mil em três parcelas:

    Em nota, a ÁS negou ser a responsável pela organização da festa, como citado no boletim de ocorrência, e disse que "não se comprometeu com a realização ou produção de qualquer evento".

    "A responsabilidade da ÁS no contrato limitava-se a arrecadar os valores dos formandos e transferir para a turma, além da realização da cobertura fotográfica", diz a nota.

    Antes, Alicia afirmou ter aplicado R$ 800 mil em uma corretora de investimentos chamada Sentinel Bank, mas voltou atrás na versão.

    Em mensagem no grupo de WhatsApp da comissão organizadora, Alicia disse que aplicou o dinheiro em uma investidora e teria sido vítima de um golpe.

    Na mensagem, ela afirma que usou parte do valor para pagar advogados por conta do suposto golpe. A estudante diz ainda que vai pedir ajuda da direção para pagar a festa.

    "Escrevo para dizer que não temos dinheiro. Com toda dor, culpa e arrependimento que vocês podem imaginar. (...) Nosso dinheiro foi todo repassado para a Sentinel Bank, uma investidora que, no fim das contas, não se passava de um grande golpe e nunca mais retornou nem com o dinheiro investido, nem com os rendimentos."

    E ela prossegue: "Vou ver com a diretoria da FMUSP se conseguimos ajuda deles".

    Um print com a mensagem viralizou nas redes sociais, após repercussão do caso.

    Print do relato da estudante, suspeita de desviar quase R$ 1 milhão de fundo de formatura da USP — Foto: Reprodução/Redes Sociais 5 de 5 Print do relato da estudante, suspeita de desviar quase R$ 1 milhão de fundo de formatura da USP — Foto: Reprodução/Redes Sociais

    Print do relato da estudante, suspeita de desviar quase R$ 1 milhão de fundo de formatura da USP — Foto: Reprodução/Redes Sociais

    💥️De acordo com a comissão de formatura:

    "De toda a história contada pela [suspeita], o único fato que temos certeza é a transferência do montante guardado sob custódia da empresa ÁS Formaturas para uma conta pessoal dela. Ainda estamos averiguando em que contexto foram realizadas as transferências", disseram em nota os membros da comissão.

    A ÁS Formaturas disse que "todas as transferências foram realizadas rigorosamente conforme estabelecido nas cláusulas contratuais" e que estão à disposição das autoridades para o fornecimento de documentos.

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