Após os tanques, a Ucrânia poderá receber aviões de combate também?
Foto ilustrativa. Um caça a jato F-16 da Força Aérea de Taiwan decola de um trecho fechado da rodovia durante os exercícios militares anuais de Hankuang, terça-feira, 15 de maio de 2007, em Changhua, centro de Taiwan. — Foto: AP Photo/Wally Santana
Kiev conseguiu um grande feito na semana passada, ao convencer seus aliados ocidentais – em especial, a relutante Alemanha – a enviar modernos tanques de guerra para ajudar a Ucrânia a se defender da invasão russa em seu território.
Os ucranianos agora parecem estar suficientemente encorajados para renovar seu pedido por aeronaves de combate. Até o momento, esses clamores vinham sendo ignorados, mas, muitos acreditam que isso estaria prestes a mudar.
Desde o início da invasão russa, no final de fevereiro do ano passado, Kiev vem pedindo aos aliados aviões de combate.
Após a mudança no posicionamento dos aliados em relação aos tanques, na semana passada, o ministro ucraniano da Defesa, Oleksii Reznikov, afirmou à emissora canadense CBC que estava otimista quanto ao envio de aviões ao país.
Essas aeronaves seriam capazes de mudar o curso da guerra, afirmou o ministro, dizendo esperar que as conversas sobre o tema se intensifiquem nas próximas semanas.
O embaixador ucraniano em Berlim, Oleksii Makeiev, afirmou em entrevista à DW que seu pais não pediu a Alemanha o envio de aviões de combate – ainda.
Ainda não está claro exatamente quais e quantos aviões Kiev gostaria de receber. O vice-ministro ucraniano do Exterior, Andriy Melnyk, sugeriu recentemente a criação de uma "poderosa coalisão de aviões de caça pela Ucrânia", que incluiria os americanos F-16 e F-35, além das aeronaves Eurofighter, Tornado, Rafale e Gripen.
Os F-16 são de grande interesse, uma vez que muitos países europeus trabalham para substituir esses modelos pelos novos F-35, afirmou Bruno Lete do Fundo Marshall Alemão à DW. "Infelizmente para a Ucrânia, muitos dos caças que eles tinham foram destruídos no início da invasão, em fevereiro de 2022", disse Lete.
Os que sobraram são modelos antigos, uma mistura de equipamentos da era soviética. Lete avalia que, da perspectiva de Kiev, os aviões de combate são o elemento que falta para que o país possa ter um arsenal de guerra completo.
Washington, o principal apoiador militar de Kiev em termos reais, já se opunha desde o início ao envio de aviões de combate à Ucrânia. Nesta segunda-feira, o presidente americano, Joe Biden, chegou a afirmar que seu país não os fornecerá.
Em março do ano passado, a Casa Branca disse que a entrega de aviões MiG-29, como fora pedido pelos ucranianos, não faria grande diferença.
Recentemente, o portal de notícias americano Politico informou, citando fontes anônimas, que algumas autoridades militares dos EUA apoiariam a transferência e estariam tentando convencer o Departamento de Defesa a fazê-lo.
Os americanos também insistiam em afirmar que não enviariam tanques à Ucrânia, até mudarem de ideia na semana passada.
O chanceler alemão, Olaf Scholz, rejeitou diversas vezes na semana passada a hipótese de seu país enviar caças à Ucrânia. No domingo, ele afirmou que o que é de fato necessário no momento atual é um debate, e não um leilão "no qual talvez os interesses das políticas nacionais desempenhem papel maior do que o apoio à Ucrânia".
O presidente francês, Emmanuel Macron, disse nesta segunda-feira que, em princípio, "nada está descartado", mas que o envio deveria ocorrer de maneira útil, em razão do longo tempo de treinamento para esse tipo de aeronave, e que não deve agravar o conflito.
Da mesma forma, o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, disse que "não há tabus" em termos do que pode ser enviado, mas considerou que a transferência dos aviões de combate seria de fato um "enorme passo à frente".
O motivo pelo qual o Ocidente ainda resiste em enviar aviões de combate à Ucrânia é o fato de que isso vai aumentar a capacidade das forças ucranianas de realizarem ataques em solo russo.
A Polônia, considerada um dos apoiadores mais ardorosos da Ucrânia, ofereceu no passado seus aviões MiG-29. Nesta segunda-feira, o primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki, também não descartou a possibilidade de enviar caças F-16. Em declarações publicadas em seu portal de internet, ele afirmou que essas transferências deverão ocorrer "em completa coordenação" com os países da Otan.
Se os caças ocidentais forem enviados à Ucrânia, a reação de Moscou deve ser bastante aguda. Após Berlim anunciar o envio dos tanques Leopard 2, o Kremlin disse que a Alemanha teria abandonado sua responsabilidade histórica pelos crimes nazistas na Segunda Guerra Mundial, e estaria acrescentando mais sofrimento ao conflito atual.
O embaixador russo em Berlim, Sergey Nechayev, disse na semana passada que "com a aprovação dos líderes alemães, os tanques de batalha com as cruzes alemãs serão novamente enviados às frentes do leste", o que, segundo afirmou, levará inevitavelmente a mais mortes não apenas de soldados russos, mas também da população civil.
Moscou avalia que tais medidas tornam mais difícil a futura normalização das relações com o Ocidente.
Lete acredita que há uma forte possibilidade de que os aliados ocidentais – inclusive a Alemanha – acabem enviando aviões de combate. Esta não seria a primeira vez que as "linhas vermelhas" seriam cruzadas, afirmou, mencionado o caso dos tanques Leopard 2 e, anteriormente, dos sistemas de mísseis Himars.
Berlim também esperou para ver comportamento de Washington na questão dos tanques. "Se os americanos concordarem, acho que a Alemanha também concordará", disse Lete.
"Vemos agora o que o Ocidente está disposto a fornecer os armamentos de que a Ucrânia necessita", afirmou.
A presença de tropas da Otan na Ucrânia ainda é uma clara "linha vermelha" para Lete, assim, claro, como o emprego tático de armas nucleares.
De qualquer forma, é válido relembrar que há desafios significativos de logística associados ao envio de tais equipamentos. A Ucrânia, na semana passada, afirmou que levaria até seis meses para treinar seus pilotos para combater com os caças ocidentais como os F-16.
Enquanto a guerra se arrasta, Lete enxerga uma mudança no debate.
"Desde o início da guerra, observamos que há dois lados na Europa. Temos, de um lado, os países que realmente querem que a Ucrânia saia vencedora da guerra, o que significa, na verdade, derrotar a Rússia."
"Do outro lado, estão os países que querem a paz e que ficariam suficientemente satisfeitos com algum tipo de acordo. Nesse momento, o lado dos que querem vencer a guerra, que querem fazer com que a Rússia tenha de retroceder, se torna cada vez mais influente."
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