Glória Maria falou sobre idade em entrevista a Mano Brown: 'Essa preocupação é do mundo, não minha'

Glória Maria em sua casa no Leblon, Zona Sul do Rio de Janeiro, em novembro de 2005 — Foto: Tasso Marcelo/Estadão Conteúdo/Arquivo 1 de 1 Glória Maria em sua casa no Leblon, Zona Sul do Rio de Janeiro, em novembro de 2005 — Foto: Tasso Marcelo/Estadão Conteúdo/Arquivo

Glória Maria em sua casa no Leblon, Zona Sul do Rio de Janeiro, em novembro de 2005 — Foto: Tasso Marcelo/Estadão Conteúdo/Arquivo

Em dezembro de 2023, o podcast "Mano a Mano", apresentado por Mano Brown, encerrou sua primeira temporada com uma entrevista com Glória Maria. O episódio começa com um dos assuntos que mais perseguiu a jornalista nos últimos anos: 💥️qual é a idade de Glória Maria?

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A jornalista disse que não falar sobre a sua idade era "uma questão de cultura familiar".

"Eu venho de uma família muito antiga em que o tempo nunca contou, idade nunca fez parte da minha família porque poucos, para não dizer pouquíssimos, foram registrados. Ninguém sabia o ano que nasceu e nem há quanto tempo", contou.

Em papo de mais de duas horas, Mano Brown e Glória Maria lembraram a trajetória da apresentadora, falaram sobre escravidão, racismo, liberdade, viagens, telejornalismo, câncer, religião, maternidade, cultura, música, redes sociais, autoconhecimento, amizade com o rei Roberto Carlos e outros artistas, entrevistas icônicas, entre outros.

Durante a entrevista, Glória Maria ressaltou, mais de uma vez, que era uma mulher livre. "Nunca ninguém disse como eu tinha que viver e não vai ser por causa de idade, cada um dá a idade que quer porque essa preocupação não é minha, é do mundo", avisou.

Criada em uma família pobre do Rio de Janeiro e com a presença de fortes mulheres, a jornalista contou que foi criada assim, para ser livre mesmo. E não fez cerimônia em dizer: "Eu faço da minha vida e do meu corpo o que eu quero, não o que as pessoas querem que eu faça".

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Ao comentar sobre suas origens, Glória Maria mencionou que seu bisavô "era escravo". Neste momento, ela e Mano Brown discutiram o uso das terminologias "escravo" e "escravizado" para descrever a exploração que marcou a população preta no mundo.

"São as coisas que vão mudando e às vezes me incomodam um pouco, como se você mudasse uma terminologia, você mudasse uma situação. São coisas que me incomodam porque você deixa de falar sobre o que importa mesmo para falar de coisas desnecessárias, como se você mudando o escravo por escravizado você mudasse a situação de todo um povo que foi escravizado e passou a ser escravo", comentou a entrevistada.

Ao ouvir sobre as suas origens, a apresentadora contou que aprendeu sobre escravidão em casa, muito antes de ler os livros de história.

"Desde que eu era pequena eu sabia que teria que vivenciar o preconceito, o racismo. Eu já vivia isso na rua que eu morava, que só tinha brancos", contou Glória Maria.

Com essa ciência sobre preconceito, a jornalista comentou que não se colocava em um lugar de "vitimismo", mas de enfrentamento. "Eu nunca tive medo. Eu não era vítima porque eu sabia que ia passar por aquilo tudo, mas eu não queria passar, então eu tinha que fazer alguma coisa."

Mesmo sabendo que fez história, e que isso não foi fácil de encarar, Glória Maria lembrou os diversos momentos em que teve de lidar com o racismo, principalmente quando, em 1998, começou a apresentar o 💥️Fantástico.

Ela disse a Mano Brown que recebia cartas e ligações racistas na redação e resumiu os dois primeiros anos como "muito duros".

A paixão por viagens levou Glória Maria a mais de 160 países. No episódio, a apresentadora contou que começou conhecendo todos os cantos do Brasil para depois partir para o exterior.

"Eu não vou para ver monumento, eu vou para conhecer gente, conhecer a alma. Eu gosto de cultura, eu gosto de sentimento. Eu fico entre 20 [dias] e um mês em um país e vou para o interior."

Ao narrar algumas de suas experiências fora do Brasil, Glória Maria relatou que em visita ao interior da Sérvia conheceu uma senhora de quase 100 anos que nunca tinha visto uma pessoa preta.

"Ela me olhava, passava a mão no meu rosto e no meu cabelo e dizia 'não vai embora, você não sabe a felicidade que você me deu sabendo que você existe'. Então eu viajo para isso, sentimento, alma."

Além de se jogar pelo mundo, a história de Glória Maria também ficou marcada por suas aventuras.

Outra viagem que apareceu durante o episódio foi a que levou as filhas à África do Sul.

"Eu quis que elas conhecessem um país que tivesse maioria negra, que elas pudessem vir. [Mostrar] o negro ocupando os espaços que eles não ocupam aqui no Brasil, lá você vai para hotéis maravilhosos, se vai para restaurantes maravilhosos e 90% das pessoas são negras. Aqui quando a gente vai a qualquer lugar chique só tem eu e elas, não tem ninguém."

Ao falar sobre a sua história pioneira no telejornalismo, de mulheres negras e jornalistas, Glória confessou que nunca parou para pensar que estava sendo a primeira a conquistar espaços.

Ela lembrou da rotina agitada de uma redação e do trabalho, e de como as coisas foram se desenhando de forma natural para ela.

"Eu tinha medo e insegurança. Até que um dia eu tive que fazer [aparecer no vídeo]. Depois da primeira vez, a coisa foi. Não dava tempo de racionalizar, vou fazer história."

Glória Maria, que ainda estava em processo de recuperação do tumor no cérebro, revelou a Mano Brown que dias antes da entrevista teve um susto durante os exames. Ela descreveu os momentos de aflição na espera de um novo diagnóstico, até descobrir, disse emocionada, que não era nada.

A jornalista comentou que ter se recuperado da cirurgia foi uma "sobrevida que Deus me deu". Com sede de vida, ela avisou que ninguém lhe seguraria mais.

Desde então, disse a jornalista, se sentiu "uma fênix". "Eu quando voltei a apresentar o Globo Repórter, que eu entrei no estúdio pela primeira vez, foi um dos momentos mais bonitos da minha vida."

Em diversos momentos, Glória reforçou que "a vida é única, intransferível", e que, com esse sentimento, enfrentaria tudo que era seu e viveria de forma a explorar todos os lados de sua alma e vivência.

Aproveitou ainda para recitar um trecho da música de Belchior, regravada por Emicida: "Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro".

Ali, no final de 2023, Glória Maria comemorou: "Eu estou feliz, eu estou inteira, eu estou agradecida por, mais uma vez, ter sobrevivido".

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