Ministros do STF veem roteiro do golpe bolsonarista em mensagem de Ibaneis sobre 'precisar do Exército' em 8 de

No dia em que bolsonaristas radicais depredaram as sedes dos Três Poderes, Ibaneis disse ao ministro da Justiça, Flávio Dino, que iria precisar do Exército para conter os atos golpistas.

  • Postura de Ibaneis foi comparada por ministros do STF à posição do ex-ministro da Justiça Anderson Torres durante os bloqueios golpistas em rodovias após as eleições.

  • Parte do STF avalia que Torres insinuava que não tinha efetivo policial como uma forma de pressão para conseguir o uso das Forças Armadas no desbloqueio de rodovias.

  • Ministros avaliam que tanto Torres quanto Ibaneis queriam uma operação de GLO, que colocaria o Exército para controlar a situação, dando poder às Forças Armadas.

    Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) veem em mensagens de celular do governador afastado do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), mais um indício de que o roteiro do golpe bolsonarista contra a posse de Lula (PT) envolvia colocar militares nas ruas.

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    No dia 8 de janeiro, quando bolsonaristas radicais invadiram e depredaram o Congresso, o STF e o Palácio do Planalto, Ibaneis disse ao ministro da Justiça, Flávio Dino, que iria precisar do Exército nas ruas para conter os atos golpistas – isso menos de 24 horas após dizer que não haveria problemas naquele domingo.

    A postura de Ibaneis foi comparada por ministros do STF à posição do ministro da Justiça de Jair Bolsonaro (PL) Anderson Torres durante os bloqueios golpistas em rodovias ocorridos logo após a vitória de Lula.

    À época, ao ser cobrado a resolver a situação, Torres insinuou a integrantes do STF que não tinha efetivo policial suficiente para desbloquear as rodovias – quando até torcidas organizadas de times de futebol, como a Gaviões da Fiel e Galoucoura, haviam conseguido liberar trechos de vias.

    Para esses ministros, Torres insinuava que não tinha efetivo policial como uma forma de pressão para conseguir o uso das Forças Armadas no desbloqueio de rodovias.

    "Impressionante. Esse era o discurso do Anderson na questão de desobstrução de rodovias. Todos queriam GLO!", disse um ministro do STF ao 💥️blog.

    GLO é a sigla para operação de Garantia de Lei e da Ordem, que é o instrumento jurídico usado para colocar as Forças Armadas nas ruas para conter situações de perturbação da ordem pública.

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    Ibaneis Rocha e Anderson Torres, investigados pelos ataques terroristas de Brasília — Foto: Ton Molina/Fotoarena/Estadão Conteúdo; Adriano Machado/Reuters 1 de 1 Ibaneis Rocha e Anderson Torres, investigados pelos ataques terroristas de Brasília — Foto: Ton Molina/Fotoarena/Estadão Conteúdo; Adriano Machado/Reuters

    Ibaneis Rocha e Anderson Torres, investigados pelos ataques terroristas de Brasília — Foto: Ton Molina/Fotoarena/Estadão Conteúdo; Adriano Machado/Reuters

    No dia dos ataques em Brasília, Lula recebeu a sugestão de decretar uma GLO para conter os golpistas. Foi a primeira-dama, Janja, quem alertou o presidente a não o fazer.

    Janja lembrou a Lula que, durante a transição, os integrantes da equipe do futuro governo também receberam a sugestão de fazer uma GLO para esvaziar o acampamento golpista instalado em frente ao QG do Exército em Brasília. Foi de lá que partiram os responsáveis pelos ataques do dia 8, pelo atentado terrorista frustrado ao aeroporto de Brasília e pelo vandalismo de 12 de dezembro.

    A primeira-dama disse ao então presidente eleito – e o relembrou no dia 8 – que, se aceitasse a sugestão, estaria entregando o poder aos militares.

    Questionado pelo 💥️blog sobre a mensagem em que Ibaneis diz que vai precisar do Exército, o ministro da Justiça, Flávio Dino, diz que não pensou colocar as Forças Armadas nas ruas do DF em 8 de janeiro.

    "Mas claro que era o sinal de que queriam uma GLO", disse o ministro.

    "Agora, veja que loucura: os Poderes estão reféns do GDF. [O presidente do Senado, Rodrigo] Pacheco, [a presidente do STF] Rosa [Weber] e eu mandamos mensagens para o governador... Vamos fazer o quê? Colocar o corpo na rua? Por isso, reforço a necessidade de uma guarda nacional."

    A tranquilidade que Ibaneis passou em suas mensagens às autoridades, aflitas, não se resume apenas à véspera dos atos.

    Desde novembro, Ibaneis passava essa ideia a quem o procurava preocupado com a volta de Anderson Torres à secretaria de segurança pública do DF.

    Como o 💥️blog mostrou em novembro, ministros do STF procuraram o governador do DF para questionar a decisão de dar abrigo a Torres, um personagem que era linha auxiliar de Bolsonaro em agendas radicais.

    Nos bastidores, a volta de Torres ao comando da segurança pública do Distrito Federal era tratada como um fator de instabilidade e risco para a segurança não apenas da posse de Lula, mas de todos os Poderes, principalmente o Judiciário.

    Ibaneis garantiu a esses interlocutores que Torres não criaria problemas – o que não convenceu ninguém.

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