Moradores relatam rotina em bairro às margens do Rio Tietê alagado há duas semanas
Moradores da Vila Maria Augusta, em Itaquaquecetuba, estão há quase duas semanas vivendo em meio ao alagamento. No dia 7 de fevereiro, Cleiton Aparecido de Jesus Torres, morador do bairro, enviou imagens para a produção do Diário TV. As enchentes provocaram a perda de móveis, eletrodomésticos, roupas e mantimentos dos moradores.
Já são 13 dias debaixo d'água. Situação que, segundo os moradores, se repete ano após ano no bairro. Andrea Paulino foi visitar a avó de 88 anos que teve a casa invadida pela água.
“Toda vez que eu venho ela está chorando, chateada. As coisas estão molhadas. Igual, agora vai ter que lavar tudo as roupas, que molhou tudo. Perdeu gaveta, perdeu cama. A Prefeitura, normalmente, eles mandam um caminhão pra sugar. Só que na verdade, o prefeito também não tem muito o que fazer porque o rio manda mais água. Então, a gente fica assim, sem saída, né? Eu me sinto muito mal, eu já chorei agora lá, me ofereceu café, não tenho nem vontade de tomar café. Porque você chega, vê aquela situação, é deplorável”, disse a cabeleireira.
É preciso carregar o filho nos braços no caminho até a escola. Para ir para o trabalho, Talita Barbosa de Oliveira vai de chinelo e leva o sapato na sacola.
1 de 2 Morador da Vila Maria Augusta carrega criança no colo para levá-la à escola — Foto: TV Diário/ReproduçãoMorador da Vila Maria Augusta carrega criança no colo para levá-la à escola — Foto: TV Diário/Reprodução
“Esse aqui é o meu sapato, estou indo trabalhar. A gente tem que trabalhar, né? Nós temos que comer, porque não pode parar. E a gente pisa na água, tem que pisar na água, fazer o quê? Bota, a gente põe bota, a água entra dentro da bota. Não tem condições", disse a auxiliar administrativa.
No dia 10 de fevereiro, a Prefeitura de Itaquaquecetuba decretou estado de emergência. São doze bairros que sofrem com as enchentes, além de deslizamentos que afetaram 650 casas e deixaram aproximadamente 300 pessoas desalojadas.
Na semana passada, a Prefeitura enviou uma nota dizendo que todas as secretarias necessárias estão no bairro prestando o auxílio e orientação aos moradores, mas para quem vive no local, é preciso uma ação mais eficaz e que resolva o problema.
“Então, a Prefeitura veio, passou nas casas, orientação de higiene pra limpar as casas. Mas não adianta, porque assim, a gente quer que a água abaixe, que a gente não viva mais nessa situação. Porque é difícil pra todo mundo, pra todo mundo pra sair pra trabalhar, é muito difícil”, desabafou Talita.
A Prefeitura de Itaquaquecetuba disse que que os alagamentos ocorrem, sobretudo, devido ao nível alto que se encontra o Rio Tietê, em alguns trechos até mesmo acima da altura das ruas, impossibilitando a vazão total da água.
2 de 2 Moradores convivem com rua alagada há mais de duas semanas na Vila Maria Augusta — Foto: TV Diário/ReproduçãoMoradores convivem com rua alagada há mais de duas semanas na Vila Maria Augusta — Foto: TV Diário/Reprodução
A administração do município lembrou que, por meio do Consórcio de Desenvolvimento dos Municípios do Alto Tietê (Condemat), foi solicitado apoio emergencial do Departamento de Águas em Energia Elétrica (DAEE) para conter as enchentes e minimizar os impactos causados pelas chuvas. Um dos pedidos é a abertura de comportas na barragem da Penha, em São Paulo, para permitir o melhor escoamento das águas do Rio Tietê.
A Defesa Civil do município ainda ressaltou que, com o represamento, consequentemente o nível do Rio Tietê não abaixa, mesmo nos períodos de estiagem da chuva e isso reflete na situação atual.
O DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica) esclarece que a Barragem da Penha tem a função de controlar a vazão do rio Tietê. A operação é feita como medida complementar ao controle de cheias na Bacia do Alto Tietê.
Já o Daee afirma que o problema não é decorrente da operação das comportas. "O maior nível histórico já registrado na Barragem da Penha foi de 724,7 m (altura em relação ao nível do mar), cerca de 6 metros abaixo de Itaquaquecetuba, cujas margens estão na cota 732 m. Portanto, a operação da estrutura não interfere nas cheias em municípios que estão localizados em uma cota superior", informou o departamento.
O Daee ainda detalhou que a regra operacional de controle de cheias da estrutura "determina que as comportas sejam fechadas quando o rio Tietê atinge a cota de 720 metros à jusante (após a Barragem no sentido capital). Nessas condições, com as comportas são fechadas gradativamente, quando o nível do Tietê antes da barragem atinge a cota superior das comportas – 723 metros – a água escoa por cima das mesmas. Sendo assim, o fechamento das comportas não impede o fluxo total da água, ele apenas retém água até certo nível".
Ainda de acordo com o Daee, a bacia do Alto Tietê recebeu em média 200,7 mm de chuvas em janeiro e 114,9 milímetros nos primeiros dias de fevereiro.
"Atualmente quatro comportas da Barragem da Penha estão fechadas e não houve necessidade de outras manobras operacionais. O DAEE moniora 24 horas as condições hidrológicas e meteorológicas em diversos pontos e emite alertas a Defesa Civil quando necessário para garantia da segurança das pessoas, principalmente aquelas que vivem em áreas vulneráveis e de risco", informou em nota.
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