Meta da inflação: mudança após críticas de Lula ao BC divide opiniões de agentes do mercado
Roberto Campos Neto e Lula: para especialistas, a melhora da comunicação poderia acalmar os ânimos — Foto: Reuters/Arte g1
Em evento nesta quarta-feira (15), três economistas que são referência no mercado financeiro se mostraram favoráveis a uma eventual mudança na meta da inflação brasileira.
Rogério Xavier, da SPX Capital, Luís Stuhlberger, da Verde Asset Management, e André Jakurski, da gestora JGP, deram peso ao time de analistas que concordam que um aumento da meta seria necessário para um avanço da economia brasileira.
Xavier afirmou, por exemplo, que "a nossa meta está errada" e que ela é "inalcançável", em evento que contou com a presença do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT).
A tese é defendida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que acendeu esse debate em meio a um conjunto de críticas ao Banco Central do Brasil e ao presidente da instituição, Roberto Campos Neto. As discussões estão centradas justamente na taxa básica de juros, que está em 13,75% ao ano, patamar que o governo considera muito alto. 💥️💥️
O Banco Central é obrigado a colocar a inflação brasileira dentro do intervalo da meta, usando a taxa Selic para isso. Para Lula, mirar em uma inflação tão baixa impede a queda dos juros e atrapalha o crescimento do país. O presidente pede, então, que a meta seja mais alta e mais adequada à realidade brasileira.
Nesta quinta, acontece a primeira reunião no novo governo do Conselho Monetário Nacional (CMN), mas não está confirmada que será debatida a meta de inflação.
Nos últimos dias, chefes de grandes gestoras de investimentos endossaram a tese de Lula, que a meta central da inflação, fixada em 3,25% para 2023, seria baixa demais. Não custa lembrar: a meta é considerada formalmente cumprida se oscilar entre 1,75% e 4,75%.
Até então, porém, os agentes do mercado eram refratários às discussões sobre a elevação da meta da inflação, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). O 💥️g1, então, perguntou a economistas o que mudou.
Para o ex-presidente do BC Gustavo Loyola, apesar de nomes relevantes do mercado financeiro se alinharem ao discurso de Lula, não significa que haja uma voz única entre os agentes. Diretor-presidente da Tendências Consultoria, ele afirma ser um dos economistas contrários à mudança.
O economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, afirma que o assunto já era debatido pelo mercado, com posições favoráveis e contrárias. A diferença é que, agora, o tema ganhou os holofotes por conta das declarações de Lula.
O ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega segue a mesma linha. Para ele, são convicções já construídas pelos agentes do mercado e, portanto, natural que agora se manifestem sobre o tema após as declarações de Lula.
Apesar de considerar legítimo o debate, Maílson diz não ser o momento ideal para se discutir o tema. "A mudança da meta nesse ambiente de turbulência, de ataques ao Banco Central – enquanto é preciso definir um arcabouço fiscal – é a medida errada no momento errado", diz.
Para Gustavo Loyola, o sistema que compõe a meta de juros "funciona muito bem", e o formato em prática tem dado resultado.
"É melhor cuidar da questão fiscal, que está um caos. É preciso estruturar reformas. Todos os dias você vê o governo anunciando aumento de gastos. Cada dia uma notícia nova. Não se trata apenas da causa monetária", afirma o ex-presidente do BC.
Do lado contrário, o economista Antonio Corrêa de Lacerda, conselheiro e ex-presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), considera a alteração uma medida positiva. Para ele, o tema divide opiniões do mercado por "desconhecimento" de teorias, das melhores práticas internacionais e por "interesses".
Lacerda afirma que é preciso estudar as causas, o núcleo da inflação e estipular uma meta "realizável". Para ele, hoje o ideal seria algo próximo de 4%, com margem de 2 pontos percentuais.
O economista é signatário de um manifesto assinado por mais de 3,6 mil economistas contra a alta da Selic. O documento diz que "a taxa de juros no Brasil tem sido mantida exageradamente elevada pelo Banco Central e está hoje em níveis inaceitáveis".
Alex Agostini, da Austin Rating, também considera o modelo atual inviável. Ele defende, entretanto, a mudança estrutural no sistema de metas, e não apenas redefinição da meta – o que exige tempo de aplicação.
Uma das alterações sugeridas por Agostini é a mudança da meta anual (ano-calendário) para uma também fixa, mas de longo prazo, como a dos Estados Unidos.
Para o ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do BC Henrique Meirelles, a especulação sobre o aumento da meta após declarações do presidente Lula já fez com que a expectativa de inflação subisse. "Precificar a alta da meta gera o efeito contrário: o aumento da taxa de juros", diz.
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