Mocidade leva sustentabilidade a sério e usa latas de tinta e galhos de podas de árvores da cidade para fazer alegoria
Sustentabilidade em alta na Mocidade: carnavalesco usa galhos de podas de árvores da cidade para compor alegoria — Foto: Alba Valéria Mendonça/g1 Rio
O uso de materiais alternativos na confecção de alegorias e fantasias nas escolas de samba não é novidade. Mas o carnavalesco Marcus Ferreira, que este ano faz sua estreia-solo no Grupo Especial, foi muito além. Para fazer o carnaval da Mocidade Independente de Padre Miguel, ele usou latas de tinta, de cola e de resina, restos de madeira e galhos de árvores.
Para confeccionar o abre-alas, Marcus juntou o equivalente a cinco caminhões de galhos de árvores. Todos resultantes do trabalho de poda da Comlurb, em nome da defesa do meio ambiente e da sustentabilidade.
"Quem veio de escolas de grupo de acesso tem de ser criativo. A gente vai descobrindo possibilidades carnavalescas em todo tipo de material. Nada se perde, tudo se transforma", disse Marcus parafraseando a Lei de Lavoisier.
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E são essas várias possibilidades que rendem texturas inusitadas que encantam o carnavalesco. Na mesma alegoria, Marcus também usou centenas de pedaços e ripas de madeira - do barracão da Mocidade e de outros barracões da Cidade do Samba - para fazer as esculturas da alegoria.
"Depois que elas recebem o tratamento de arte, como pintura e modelagem, ninguém diz do que se trata. Essa é a mágica do carnaval. Não que a escola esteja sem dinheiro, mas é muito mais divertido poder criar a partir do inusitado. E nada mais adequado do que usar elementos naturais, como os galhos de árvores, para desenvolver um enredo literalmente pé no chão, dos artistas do barro", destacou o carnavalesco.
2 de 3 Criatividade na Mocidade: ripas e pedaços de madeira, sobras do barracão, viraram esculturas e adereços — Foto: Alba Valéria Mendonça/g1 RioCriatividade na Mocidade: ripas e pedaços de madeira, sobras do barracão, viraram esculturas e adereços — Foto: Alba Valéria Mendonça/g1 Rio
Mas nem só de elementos naturais vive o carnaval da Mocidade. Para confeccionar o corpo do boi de um carro de boi, Marcus usou mais de três mil latas de tinta, de cola, de resina. Isso sem falar de um tripé - deixado em segredo - que foi feito com utensílios domésticos, como baldes, frigideiras, talheres, panelas, etc. que foram doados pelos componentes da Mocidade.
"Quando a gente começou a montar o boi, não tinha noção de quantas latas seriam necessárias. Conforme o carro ia sendo confeccionado a gente precisava de mais e mais latas. Recebemos doações de todas as escolas que iam descartar esse material no lixo", contou o carnavalesco.
3 de 3 Latas de tinta, de cola e de resina que iam para o lixo, ganham tratamento de arte e se transformam na textura do carro de boi do enredo da Mocidade — Foto: Alba Valéria Mendonça/g1 RioLatas de tinta, de cola e de resina que iam para o lixo, ganham tratamento de arte e se transformam na textura do carro de boi do enredo da Mocidade — Foto: Alba Valéria Mendonça/g1 Rio
Marcus, que costuma sempre usar material alternativo em seus carnavais, se surpreendeu com o valor do que é considerado lixo. Ele contou numa noite, uma escola coirmã deixou dezenas de latas na porta do barracão. No dia seguinte de manhã, Marcus encontrou apenas umas poucas latas, a maioria do material tinha desaparecido.
"Ficamos sem entender o que tinha acontecido. Quando fomos ver as câmeras de segurança, descobrimos que pessoas que vivem pelas imediações da Gamboa e Central pularam o muro e roubaram as latas. Provavelmente para vender em ferros-velhos e conseguir dinheiro. Ou seja, até aquilo que é considerado lixo tem algum valor para alguém. Como carnavalesco, dou valor a todos os materiais", disse Marcus Ferreira.
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